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Assassinato de policiais gera comoção e raiva a Nova York

Dois policiais, Wnjian Liu, de 32 anos, recém-casado, e Rafael Ramos, de 40 anos, pai de um adolescente de 13, foram mortos a sangue frio com tiros na cabeça

Homem observa flores e velas depositadas no local onde dois policiais foram assassinados no Brooklyn, em Nova York (Spencer Platt/AFP)

Homem observa flores e velas depositadas no local onde dois policiais foram assassinados no Brooklyn, em Nova York (Spencer Platt/AFP)

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Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2014 às 07h52.

Nova York - O assombro e a raiva tomaram conta de Nova York neste domingo, no dia seguinte ao assassinato de dois policiais por um indivíduo que, aparentemente, queria vingar a morte de dois homens negros, cujas mortes provocaram vários protestos nas últimas semanas nos Estados Unidos.

Os dois policiais, Wnjian Liu, de 32 anos, recém-casado, e Rafael Ramos, de 40 anos, pai de um adolescente de 13, foram mortos a sangue frio com tiros na cabeça, enquanto estavam dentro de sua patrulha estacionada em frente a um conjunto residencial no Brooklyn, na tarde de sábado.

O assassino, um homem negro de 28 anos, supostamente pertencente ao grupo "Black Guerilla Family" e com antecedentes criminais, cometeu suicídio após o crime em uma plataforma do metrô.

Nenhum dos policiais teve tempo de sacar suas armas e talvez nem mesmo tenha podido ver o criminoso, explicou o chefe da polícia de Nova York, Bill Bratton, à imprensa.

O assassino, identificado como Ismaaiyl Brinsley, tinha vindo de Baltimore, 300 km ao sul de Nova York, e anunciou suas intenções na rede social Instagram.

"Olhem o que vou fazer", disse Brinsley antes de matar os policiais, segundo o chefe do departamento de investigação da polícia de Nova York, Robert Boyce.

Ao lado da foto de uma arma, ele escreveu a mensagem: "Hoje dou asas aos porcos. Eles levam um de nós... Vamos levar 2 deles".

"#ShootThePolice #RIPErivGardner #RIPMikeBrown", continuou, em alusão a Eric Garner, um homem negro que morreu em uma detenção violenta, em julho, em Nova York, e ao adolescente Mike Brown, morto pelas mãos de um policial em Ferguson, no Missouri, em agosto.

A ira da opinião pública cresceu quando os dois policiais envolvidos nestas mortes foram isentados da responsabilidade com apenas alguns dias de diferença.

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, e Bratton, assistiram juntos a uma missa, neste domingo, na catedral de Saint Patrick, celebrada pelo cardeal Tim Dolan. Pessoas se aproximaram do local da tragédia para depositar flores e velas em memória dos policiais mortos.

O time de futebol americano New York Jets respeitou um minuto de silêncio antes de uma partida no domingo em memória dos policiais mortos.

- "Uma retórica incendiária" -

O filho de um dos policiais mortos, o adolescente Jaden Ramos, escreveu em sua página do Facebook que Rafael era o "melhor dos pais".

"Hoje é o pior dia da minha vida", completou.

O duplo assassinato acontece no pior momento para o prefeito democrata.

Suas relações já são tensas com a polícia, que o acusa de não apoiá-la suficientemente e de ser tolerante demais com os manifestantes, que foram várias vezes às ruas de Nova York nas últimas semanas para denunciar as mortes de Garner e Brown.

"Prefeito De Blasio, o senhor tem claramente as mãos sujas de sangue destes dois policiais", acusou Edward Mullins, presidente da Sergeants Benevolent Association (SBA), uma organização que reúne 11.000 policiais da ativa ou aposentados de Nova York.

Em meados de dezembro, circulou pela internet uma petição na qual os policiais pediram ao prefeito que não fosse aos seus funerais, caso algum de seus membros morresse no exercício de suas funções.

O ex-governador republicano de Nova York George Pataki também denunciou "os atos de barbárie", segundo ele, "resultado previsível da retórica antipolicial de #ericholder e #mairedeblasio". Holder é o secretário de Justiça dos Estados Unidos.

De Blasio lamentou neste domingo "uma retórica incendiária que divide e enfurece".

Várias outras vozes se levantaram para pedir calma e unidade.

O presidente Barack Obama telefonou do Havaí, onde passa férias, para o chefe de polícia de Nova York para expressar condolências às famílias. Como já havia feito no sábado, pediu aos americanos que "rejeitem a violência e as palavras que ferem", segundo um comunicado da Casa Branca.

As famílias Garner e Brown também repudiaram "toda forma de violência contra a polícia", que consideraram "inaceitável".

"Temos que trabalhar juntos para alcançar a paz em nossas comunidades", escreveram em um comunicado.

Outro policial morreu no domingo no exercício da função na Flórida, mas as circunstâncias do falecimento ainda são confusas.

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