Acusadas pela morte de irmão de Kim Jong-un se declaram inocentes
A indonésia Siti Aisyah e a vietnamita Thi Huong são acusadas de jogar um agente neurotóxico no rosto de Kim Jong-Nam
AFP
Publicado em 2 de outubro de 2017 às 09h41.
Última atualização em 2 de outubro de 2017 às 09h44.
As duas mulheres acusadas de assassinar na Malásia o meio-irmão do líder norte-coreano se declararam inocentes no julgamento que começou nesta segunda-feira e que tem como objetivo esclarecer um crime que chocou o planeta e iniciou uma crise diplomática.
A indonésia Siti Aisyah e a vietnamita Thi Huong falaram com a ajuda de intérpretes no Alto Tribunal de Sham Alam, nas proximidades de Kuala Lumpur.
As acusadas, que se declararam inocentes no julgamento, negaram durante toda a investigação que desejavam cometer um assassinato. Durante a fase deinstrução do processo, elas afirmaram que foram enganadas, que acreditavam estar participando de um programa de televisão do tipo "pegadinha".
Aisyah, de 25 anos, e Huong, de 29, chegaram ao tribunal algemadas e com coletes à prova de balas, escoltadas por muitos policiais.
As duas foram detidas poucos dias depois do assassinato de Kim Jong-Nam em 13 de fevereiro no aeroporto internacional de Kuala Lumpor, quando ele esperava um voo com destino a Macau. O crime recordou as operações de espionagem do período da Guerra Fria.
As duas mulheres são acusadas de jogar no rosto do meio-irmão de Kim Jong-Un um agente neurotóxico, o VX, uma versão altamente mortal do gás sarin.
A vítima faleceu após 20 minutos de grande agonia. A substância utilizada é tão letal que está catalogada como uma arma de destruição em massa.
O caso provocou uma grave crise diplomática entre Coreia do Norte e Malásia, um dos poucos aliados de Pyongyang.
Kuala Lumpur expulsou o embaixador de Pyongyang, que fez o mesmo com o enviado da Malásia. Os dois governos também proibiram as saídas de seus territórios dos cidadãos do outro país.
A tensão diminuiu quando a Malásia aceitou entregar o corpo da vítima a Coreia do Norte.
O promotor Muhamad Iskandar Ahmad leu um comunicado no qual prometeu revelar detalhes do assassinato.
"Eu vou apresentar a prova de que a vítima estava na sala (de embarques do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur) quando Siti Aisyah e Doan Thi Huong se aproximaram e lançaram nele o líquido venenoso no rosto e nos olhos", afirmou.
Muitas perguntas
Outros quatro suspeitos também estão envolvidos no crime enigmático, segundo a acusação. Mas estão foragidos e as autoridades não divulgaram suas identidades. Quatro norte-coreanos fugiram da Malásia no dia do assassinato.
Antes de cometer o homicídio, segundo o promotor, Aisyah e Huong realizaram "simulações sob e a vigilância dos quatro" foragidos. As simulações eram um ensaio para provocar a morte da vítima", disse.
Mas os advogados de defesa das duas mulheres afirmam que os verdadeiros culpados fugiram da Malásia e acusam a Promotoria de buscar um veredicto de culpa, independente dos verdadeiros autores do crime.
"Estamos convencidos de que ao final deste julgamento, provavelmente serão absolvidas", disse À AFP Hisyam Teh Poh Teik, representante legal de Huong.
Um policial, Mohamad Zulkarnian, interrogado como testemunha e que estava no aeroporto no dia do crime, relatou como Kim Jong-Nam reagiu ao ataque. Ele disse que a vítima tinha os olhos avermelhados e úmidos pelo líquido.
Quando o policial acompanhou Kim a uma clínica, este pediu: "Por favor, caminhe mais lentamente", contou o policial.
"Eu vi o homem entrar em colapso em uma cadeira quando recebia tratamento de emergência", completou.
Ainda restam várias perguntas sem resposta sobre o crime: Como duas mulheres que viviam em condições precárias como muitos migrantes na Malásia tiveram envolvimento com o assassinato? Como uma substância tão letal como o VX foi utilizada em um aeroporto sem provocar outras vítimas além de Kim?
Acusações entre as Coreias
Pouco depois do assassinato, a Coreia do Sul acusou o Norte de ter organizado o assassinato, o que Pyongyang sempre negou. Kim Jong-Nam criticava o regime norte-coreano e vivia no exílio.
O julgamento deve demorar dois meses e ouvir de 30 a 40 testemunhas.