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'A defesa da democracia é mais importante do que qualquer título', diz Biden em discurso

Presidente dos EUA afirmará que continuará trabalhando até o fim do mandato para reduzir 'os custos para as famílias trabalhadoras' e fazer 'crescer nossa economia'

Eleições EUA 2024: veja o discurso de Biden (Evan Vucci / POOL / AFP/AFP)

Eleições EUA 2024: veja o discurso de Biden (Evan Vucci / POOL / AFP/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 24 de julho de 2024 às 21h27.

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Em seu primeiro discurso aos EUA depois de desistir da reeleição, o presidente americano, Joe Biden, defende sua decisão e o endosso à candidatura da sua vice, Kamala Harris, como a melhor escolha para a democracia do país, segundo trechos divulgados pela Casa Branca nesta quarta-feira. Emocionado, o mandatário de 81 anos falou diretamente do Salão Oval três dias depois do oficializar sua saída da disputa contra o ex-presidente Donald Trump após semanas de pressões internas e especulações.

"A defesa da democracia, que está em risco, é mais importante do que qualquer título", disse Biden, destacando que a decisão "não é sobre mim, é sobre você, suas famílias". "Decidi que a melhor maneira de avançar é passar o bastão para uma nova geração".

Destacando seu amor pelo país e gratidão ao povo americano, o presidente defendeu seu trabalho como presidente e político ao longo de décadas no Congresso.

"Eu acredito que minha trajetória como presidente, na minha liderança no mundo, mas nada pode ficar no meio de salvar a democracia, isso inclui ambição individual", disse Biden, defendendo seu legado. "Eu sei que há um tempo e um lugar pra novas vozes, e este tempo é agora".

Biden ainda reforçou que seguirá a frente da Casa Branca até o final do seu mandato, em janeiro, "reduzindo os custos para as famílias trabalhadoras e fazendo crescer nossa economia":

"Continuarei defendendo nossas liberdades individuais e direitos civis. Pelo direito de votar ao direito de escolher".

O furacão antes da desistência

Ainda na sexta-feira, segundo pessoas próximas a Biden, ele recebeu telefonemas de parlamentares aliados, incluindo a senadora Elizabeth Warren, a quem garantia que seguiria até o fim — o democrata citava a resiliência que marcou sua longa vida política e como ele conseguiu dar a volta por cima mesmo em momentos que pareciam intransponíveis.

Em uma ligação com Ron Klain, ex-chefe de Gabinete do democrata e que se tornou um conselheiro próximo, ouviu o pedido para que não saísse da disputa. A resposta foi direta.

"Essa é minha intenção. Isso é o que farei", disse Biden, segundo o New York Times.

O presidente vinha de uma semana terrível: quase 40 parlamentares defendiam publicamente que abandonasse a disputa e um artigo do ator e ativista democrata George Clooney, no qual dizia ser impossível vencer a eleição com ele, deu contornos dramáticos à crise interna. Uma nova sequência de gafes lhe garantiu espaço negativo no noticiário, mesmo durante a semana em que os republicanos coroaram Donald Trump, quando teoricamente estariam menos exposto. Em meio a uma série de desastres, Biden foi diagnosticado com Covid-19 pouco antes de um discurso.

“Espero retomar a campanha na semana que vem para continuar expondo a ameaça do Projeto 2025 de Donald Trump, ao mesmo tempo em que defendo meu passado e a visão que tenho para os EUA”, disse Biden, em comunicado na sexta-feira. “As apostas são altas e a escolha é clara. Juntos, vamos ganhar."

Nos bastidores, o clima era menos otimista.

No sábado, os líderes da campanha do democrata, incluindo a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, e o deputado Jim Clyburn fizeram uma reunião na qual já previam notícias impactantes nos dias seguintes. Uma semana antes, Biden, segundo o New York Times, havia pedido um pouco mais de tempo durante um telefonema com o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, no qual ouviu que muitos congressistas estavam dispostos a desistir de sua campanha.

Menos de 24 horas antes de confirmar a desistência, Biden conversou com assessores, com sinais de que cederia à pressão. No domingo, telefonou para Kamala Harris e para os gestores da campanha, além de membros de sua equipe, antes de anunciar ao mundo que seria o segundo presidente da História dos EUA a não concorrer à reeleição.

A carta em que formaliza a saída da corrida, segundo o New York Times, foi finalizada na manhã de domingo, e lida a alguns assessores antes de ser publicada no X.

"Venham até mim com o trabalho e vamos fazê-lo", disse-lhes o presidente, segundo o New York Times.

Passagem de bastão

A rápida declaração interna daria o tom de suas ações futuras, voltadas agora a garantir que Kamala fosse a candidata democrata. Ao mesmo tempo em que foi alvo de pesadas críticas de seus colegas de partido, Biden tinha muitos aliados, e alguns não pareciam dispostos a ver uma passagem de bastão como a que estava se desenhando. Agora, precisavam ser apaziguados.

"No começo fiquei com raiva, porque trabalhamos muito para dar a ele o tipo de apoio que o faria ficar. Fomos informados até o último minuto que ele iria ficar", disse ao site Politico a deputada Maxine Waters. "E depois que me acalmei, fiquei bem, porque ao fazer isso [desistir] ele apoiou Kamala. E eu pensei, bem, isso é ótimo".

O aval quase imediato a Kamala foi crucial para silenciar os que defendiam uma disputa aberta na convenção partidária e foi seguido por uma série de apoios do alto escalão democrata, como os do ex-presidente Bill Clinton, da ex-secretária de Estado e candidata em 2016, Hillary Clinton, além de deputados, senadores e governadores.

A ala progressista do Partido Democrata, que estava ao lado de Biden até o fim, rapidamente se posicionou com a vice-presidente, assim como doadores de campanha e os milhares de delegados que lhe garantiram o número necessário para a indicação, na segunda-feira. Os endossos de Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara, e dos líderes da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries, e da maioria no Senado, Chuck Schumer, consolidaram um processo que parecia garantido desde o início.

"Entendo que as pessoas estão céticas hoje em dia, mas isso foi verdadeiramente orgânico", disse o senador Chris Murphy ao Wall Street Journal. "Quero dizer, soubemos disso [desistência] quando todo mundo soube. Não conversei com mais ninguém antes de apoiá-la, cerca de 60 minutos depois".

Biden não precisou de grandes gestos para formar a linha de frente de defesa de Kamala, mas sua relação próxima com a vice, construída ao longo de anos e com vários solavancos, pesou muito. A própria desistência deu ao presidente uma aura de sacrifício pessoal, exaltado em praticamente todas as notas e discursos. Agora, ele parece disposto a fazer o possível para garantir que ela seja eleita.

"O nome mudou na cabeça da chapa, mas a missão não mudou em nada", disse Biden, em conversa à sua equipe de campanha na segunda-feira, afirmando ainda que "não vai a lugar algum". "Eu sei que as notícias de ontem [domingo] foram surpreendentes, mas era a coisa certa a fazer".

Alguns assessores choraram durante a conversa, ao mesmo tempo em que corriam para preparar os novos materiais de divulgação. Biden também pediu que a equipe “acolhesse” Kamala, que visitou o comitê naquele mesmo dia — segundo o New York Times, o clima de entusiasmo geral entre os democratas desde domingo, visto também na alta histórica nas doações, também foi visto entre as pessoas envolvidas diretamente na campanha.

"Esta campanha foi construída para eleger Joe Biden. Mas agora é necessário reequipar-se para eleger Kamala Harris, que é uma mulher negra e [com ascendência] do sul da Ásia, no ano de 2024", disse um assessor democrata à CNN.

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