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Unilever repensa uso de plástico em marcas e este é o resultado até agora

Gestão mais responsável de resíduos vai ao encontro de um movimento de maior conscientização ambiental dos consumidores e dos investidores

Produção da Unilever em São Paulo (Marcela Beltrão/ EXAME.com/Divulgação)

Produção da Unilever em São Paulo (Marcela Beltrão/ EXAME.com/Divulgação)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 26 de agosto de 2018 às 08h24.

São Paulo - A Unilever está prestes a lançar no mercado sua primeira garrafa feita com resíduos de plástico recolhidos de praias do litoral brasileiro. No começo do ano, em uma ação conjunta com o grupo ambientalista WWF-Brasil, a empresa realizou mutirões com voluntários nas praias do Rio de Janeiro e Pernambuco e recolheu 1,5 tonelada de plástico.

As novas garrafas chegam em edição limitada a 18 mil unidades do sabão líquido OMO entre os meses de agosto e setembro. Embora pareça pontual, a investida marca o início do uso de plástico reciclado em todas as garrafas da marca de detergente.

Com a iniciativa, a empresa espera reduzir a demanda por plástico virgem, deixando de usar mais de 500 toneladas desse tipo de material por ano, além de fomentar a cadeia de plástico reciclado já que as garrafas serão produzidas em parcerias com cooperativas de reciclagem.

Repensando o uso do plástico

Repensar o uso da matéria-prima plástico — que nos últimos anos virou uma espécie de vilão ecológico dado sua origem petrolífera e seus efeitos negativos quando descartado de forma inadequada no meio ambiente — é um movimento que tem ganhado apelo dentro da Unilever. A empresa persegue a meta de ter 25% de plástico reutilizado em todas suas embalagens até 2025.

Para atingi-la, está mobilizando todas suas marcas. Na categoria de cuidados pessoais, por exemplo, são os produtos para cabelos que iniciam a agenda de redução de resíduos sólidos, como o lançamento dos frascos do shampoo Seda Pretos Luminosos feitos com pelo menos 1/3 de plástico reciclado pós-consumo e as novas embalagens de TRESemmé que utilizam 20% menos plástico.

"O consumidor já está pensando de forma diferente e buscando produtos mais sustentáveis" diz Giovanna Gomes, diretora de marketing na Unilever ao site EXAME. “Um estudo nosso global com 20 mil consumidores revelou que 54% querem comprar de forma mais sustentável, 33% já estão adotando marcas sustentáveis e 21% escolheriam marcas caso as metas de sustentabilidade fossem mais claras”, destaca.

Segundo ela, as marcas com apelo mais sustentável da Unilever, que hoje são 22, tiveram um crescimento de 46% mais rápido do que o restante, gerando 70% do crescimento da companhia em 2017. Não à toa, as novas embalagens de OMO contarão com selos que indicarão que seus produtos têm impacto reduzido no meio ambiente.

Uma gestão mais responsável de resíduos não apenas se alinha com a Política Nacional de Resíduos Sólidos – que determina que toda empresa tenha responsabilidade pelos produtos que podem se tornar resíduos sólidos – como também vai ao encontro de um movimento no mercado de maior conscientização ambiental.

E  também é uma forma da empresa se adequar a outro tipo de pressão: um grupo de 25 investidores que administra mais de US$ 1 trilhão em ativos está exigindo que Nestlé, PepsiCo, Procter & Gamble e Unilever reduzam o uso de embalagens plásticas, consideradas por eles prejudiciais ao meio ambiente.

Os novos tempos já geram uma série de mudanças de processos dentro da empresa, como contou a diretora de marketing ao site EXAME. Confira na entrevista.

1)Se a meta da Unilever é ter 25% de plástico reutilizado nas embalagens até 2025, atualmente quanto já é utilizado e quais ações empresa está tomando para atingir seu objetivo?

Em 2017, considerando o portfólio global de produtos, a Unilever utilizou 4850 toneladas de PCR [resinas com conteúdo reciclado] em suas embalagens. As ações relacionadas a resíduos e embalagens é uma das frentes do Plano de Sustentabilidade da Unilever, lançado em  2010.  A primeira versão do plano já conta com 80% dos seus compromissos cumpridos e, ano passado, teve as metas referentes ao uso de plástico incrementadas.

Em 2017, lançamos globalmente compromissos específicos para a questão das embalagens plásticas.  São eles: ter 100% das embalagens de plástico recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis até 2025; Reduzir um terço o peso das embalagens até 2020 (tendo como ano-base 2010); Aumentar em ao menos 25% a utilização de plástico reciclado nas embalagens até 2025 (tendo como ano-base 2015).

Mas desde 2009, a Unilever investe fortemente no desenvolvimento de produtos concentrados, que têm embalagens que utilizem menos plástico (entre 37% e 47% menos plástico). Em 2010, passou a investir nos refis, que utiliza até 70% menos plástico que a embalagem tradicional.

Em 2017, a Unilever apresentou a primeira solução capaz de reciclar completamente resíduos de sachês e plásticos multi-camada, denominada CreaSolv®. A fábrica piloto, localizada na Indonésia, começou a operar em maio de 2018. Os sachês antes não recicláveis serão transformados em polietileno e devolvidos à cadeia de valor, seguindo o conceito de economia circular. Além disso, a companhia anunciou que disponibilizará o CreaSolv® Process para outras indústrias com o objetivo de impulsionar a reciclagem desse tipo de embalagem.

2) E como as operações no Brasil contribuem nesse processo?   

Para alcançar essas metas no Brasil, a Unilever iniciou uma profunda revisão de suas embalagens e escolheu a marca OMO, presente em 75% dos lares brasileiros, para liderar esse movimento. Mesmo antes de formalizar as novas metas, criou o projeto “Por um Planeta mais Limpo”, que possui três frentes: Inovação Sustentável, Ícones nas embalagens e Orientar e engajar. Os primeiros resultados deste projeto já estão sendo apresentados por meio do lançamento da embalagem de OMO Multiação Líquido com plástico reciclado.

Já na categoria de Cuidados Pessoais, as marcas de produtos para cabelos SEDA e TRESemmé iniciaram a redução de resíduos sólidos, trabalhando desde a inclusão de materiais reciclados, até a redução da quantidade de material usado, mantendo sempre a reciclabilidade das mesmas em 100%.

A marca SEDA lançou frascos do Shampoo Seda Pretos Luminosos feito com pelo menos 1/3 de plástico reciclado pós-consumo, além de serem 100% recicláveis. Com a iniciativa, a cada 10 toneladas de plásticos usados para produzir os frascos de shampoo, pelo menos três são de plástico reaproveitado proveniente de resíduos descartados pelos consumidores.

TRESemmé relançou todo o seu portfólio com novas embalagens que utilizam 20% menos plástico em comparação às embalagens atuais. Com esta mudança, a nova embalagem passa a ser uma das mais leves do mercado, além de deixar de utilizar 382 toneladas de plástico por ano. O volume de plástico economizado equivale a 2,4 piscinas olímpicas cheia de frascos. Essa redução também representa menos 281 caminhões rodando nas cidades ao longo do ano e, consequentemente, menos emissão de CO2. Ainda no segmento de beleza, DOVE também se une aos esforços da companhia e lançou uma linha de super-condicionadores que utilizam tubos feitos com 100% de plástico verde, proveniente da cana-de-açúcar, contribuindo com a redução da emissão dos gases GHG.

 De onde vem o material reciclado e como é a parceria com as cooperativas?

Sobre a proveniência do material reciclado, o foco será nos materiais pós-consumo, em função do volume ter um impacto mais relevante no meio ambiente. Sabemos que esse é um grande desafio da cadeia e, por isso, também entendemos a importância de empresas do porte da Unilever atuarem como impulsionadores da demanda por esse tipo de material. Temos que provocar essa mudança e impactar de maneira positiva toda essa cadeia.

A parte mais desafiadora é fazer o processo começar a girar. Para isso, tivemos o cuidado de escolher parceiros estratégicos, que estão ajudando aUnilever a desenvolver materiais e embalagens sustentáveis. A Wise, empresa de capital nacional, nossa parceira na produção da resina reciclada (PCR), fez um grande investimento no processo de processamento e lavagem para garantir a descontaminação do material reciclado para composição das garrafas de OMO Multiação.

Também foram incluídos testes laboratoriais para garantir a qualidade e segurança da embalagem e do produto. Na prática, o consumidor não deve sentir qualquer alteração em sua experiência, mas escolhendo produtos com material reciclado estará gerando um impacto muito menor no meio ambiente. Continuamos trabalhando em conjunto para melhorar continuamente os processos e aumentar o volume de PCR nas embalagens.

A edição limitada de OMO Multiação com plástico do litoral brasileiro veio para chamar atenção sobre o problema da poluição plástica nos oceanos. Em função do volume de plástico reciclado necessário para suprir a escala de produção da Unilever, a versão definitiva das novas embalagens que irá para o mercado contará com plástico recolhido de diversas fontes em todo o Brasil, fomentando a cadeia como um todo.

4)  Quais os desafios para inclusão de plástico reciclado nas garrafas? Quanto de material reutilizado pode haver numa garrafa/embalagem levando em conta questões tecnológicas? 

No Brasil, foi realizado um trabalho profundo com os parceiros envolvidos na produção das embalagens para a incluir a dosagem da resina reciclada (PCR) no processo de fabricação atual. Entretanto, a quantidade de plástico reciclado que pode compor as garrafas depende diretamente do volume de plástico coletado e reciclado na cadeia. Apesar de existir tecnologia suficiente para aumentar a quantidade de plástico reciclado nas embalagens, o baixo volume de material coletado dificulta a seleção de materiais que gerem uma resina com qualidade suficiente para compor embalagens com estrutura e segurança para chegarem ao mercado e ao consumidor. Esse processo tende a melhorar gradualmente de acordo com o desenvolvimento da cadeia.

O consumidor tem um papel fundamental nesse processo, pois o volume de plástico reciclado depende da conscientização e atitude sustentável da sociedade. Quanto mais adequado for o descarte das embalagens de plástico dos produtos consumidos, maior será o volume de material reciclado produzido e utilizado nos processos de fabricação. Essa é uma transformação que depende de todos, mercado, governos e sociedade. Cada atitude conta para a evolução dos processos sustentáveis e hoje temos um papel importante em levar esta mensagem para nossos consumidores.

A Unilever incentiva o consumidor a reciclar desde 2001, quando lançou o programa pioneiro Estações de Reciclagem Pão de Açúcar Unilever. Desde então, já foram recolhidas 111 mil toneladas de material (entre 2001 e 2017) que são doados a cooperativas. Hoje, são: 94 estações espalhadas por 27 cidades em oito estados (SP, RJ, PR, GO, PE, MG, BA, CE e DF) e 21 cooperativas parceiras.

5) A empresa divulga custos envolvidos nessa estratégia de reutilização ou redução do plástico e as economias obtidas? Além da boa imagem, reciclar e reutilizar plástico nas embalagens é economicamente interessante para a empresa? 

A Unilever não divulga investimentos isolados, mas reforçamos que a nossa atuação sustentável está intrinsecamente ligada à estratégia de negócio da companhia. O que significa que sim, ter uma atuação sustentável é uma vantagem competitiva e traz resultados para o negócio por três razões principais: gera mais crescimento, gera economia de recursos (programa de fabricação sustentável contribuiu para uma contenção de custo de cerca de 830 milhões de Euros desde 2008) e diminui os riscos do negócio na medida em que trabalha visando o longo prazo e a perenidade de toda a cadeia de valor.

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