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Brasil é foco de campanha da Gucci a favor da causa transgênero

Revista Chime, iniciativa da grife italiana Gucci, tem causa trans no Brasil como foco em sua segunda edição. Um dos textos é assinado pela cantora Liniker

 (Gary Hershorn/Getty Images)

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EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de outubro de 2019 às 11h42.

"Meu coração lateja o tempo todo. Você sempre me disse que queria ser sepultada e não sei como se sentiria se soubesse que eles queimaram seu corpo. Como se lida com uma coisa dessa? Mas espero que você saiba que sua passagem neste mundo transformou a vida de muitas pessoas", escreve Gabe Passareli em carta à irmã Matheusa, transexual e militante da causa LGBT que foi morta em abril de 2018. O texto faz parte da revista Chime, iniciativa da grife italiana Gucci que, em sua 2ª edição, tem o Brasil como foco.

Outro destaque da publicação, definida pela Gucci como um zine - livreto de pequena circulação produzido por entusiastas de uma cultura particular -, é um texto assinado por Liniker, uma das principais vozes do ativismo pela igualdade de gênero no Brasil. "Sou uma mulher, uma voz, uma ressonância e um caminho de esperança para dar um novo significado ao meu corpo: trans, negra e viva. Sabemos para onde queremos ir e como queremos viver, mas e o mundo? Está pronto e disposto a nos aceitar?"

A revista será distribuída no Gucci Garden, em Florença, na livraria Gucci Wooster Bookstore, em NY, e em livrarias selecionadas em todo o mundo. A versão digital, disponível em português, pode ser baixada em chime.gucci.com.

O zine faz parte do projeto Chime for Change, que a Gucci lançou em 2013, com Beyoncé e Salma Hayek como embaixadoras, para unir e fortalecer os defensores da igualdade de gênero. A iniciativa, que atua em 89 países, já levantou US$ 15 milhões e beneficiou mais de 570 mil mulheres. Em 11 de outubro - data declarada pela ONU como Dia Internacional da Menina para marcar os progressos na promoção dos direitos das jovens mulheres -, além do zine, foram lançados o curta Sitara e a campanha Let Girls Dream.

Dirigido pela cineasta paquistanesa Sharmeen Obaid-Chinoy, ganhadora de 2 Oscars e 6 Emmys e conhecida por seu trabalho em filmes que destacam a igualdade de gênero, o curta conta a história de jovem de 14 anos cujo sonho de ser piloto é desfeito quando é forçada a se casar. É, de certo modo, a mesma história de 12 milhões de jovens garotas vítimas de casamento infantil a cada ano em todo o mundo. A campanha incentiva a dividir sonhos e visões para um futuro com igualdade de gênero no site letgirlsdream.org e hashtag #letgirlsdream.

A Gucci não é a única grife a dar visibilidade à luta pela igualdade de gênero. Neste mês, a Louis Vuitton apresentou seu desfile na semana de moda de Paris com uma videoperformance da escocesa Sophie, primeira artista trans a ser indicada para o Grammy. Em agosto, a Chanel divulgou a americana Teddy Quinlivan como a primeira modelo trans a estrelar campanha da grife, enquanto a brasileira Valentina Sampaio era anunciada como a primeira modelo trans da Victoria's Secret.

Na São Paulo Fashion Week, que começa neste domingo, 13, a cantora trans Majur abre o desfile da volta da Ellus ao evento. O universo da moda está prestando atenção à questão da igualdade de gênero. O Brasil, país que mais mata transexuais no mundo, segundo dados da ONG Transgender Europe divulgados em novembro, poderia aprender algo com esse movimento.

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