EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h55.
Apenas na primeira sessão, da meia-noite do último dia 19 de maio às 2 e meia da madrugada, o filme Star Wars: Episódio III -- A Vingança dos Sith, que narra o surgimento do vilão Darth Vader, faturou nos Estados Unidos nada menos que 17 milhões de dólares. Uma potência global como a Microsoft fatura, em média, nas mesmas 2 horas e meia, cerca de 10,5 milhões. Até o final de maio, em apenas dez dias, o último episódio da saga criada por George Lucas em 1977 já havia somado quase 520 milhões de dólares nas bilheterias do mundo todo. Em valores atualizados, os ingressos vendidos para os seis episódios da série já renderam aos produtores cerca de 6,5 bilhões de dólares. Mas o negócio Guerra nas Estrelas vai muito além da bilheteria. O licenciamento da marca criada por George Lucas para um sem-número de produtos -- de sabres de luz e videogames ao recém-lançado Darth Tater, um boneco com formato de batata e roupa de Darth Vader -- já superou os 9 bilhões de dólares em faturamento. Incluindo DVDs e vídeos, a grife Star Wars gerou mais de 20 bilhões de dólares. Trata-se, sem nenhum exagero, da marca mais bem-sucedida da história do cinema. Por todo o seu sucesso comercial e por seu extraordinário poder de sedução -- capaz de atrair fãs de todas as gerações em qualquer lugar do mundo --, Guerra nas Estrelas é uma aula de marketing.
"O advento de Star Wars em 1977 marcou o nascimento do licenciamento moderno no cinema e o negócio de merchandising", afirma Marty Brochstein, editor executivo do boletim The Licensing Letter, especializado na indústria de licenciamento. "Em números, Star Wars tem uma base de colecionadores superior à de qualquer outra marca", diz Jim Silver, especialista em brinquedos e editor da revista americana Toy Wishes. Para ter uma dimensão do fenômeno, basta ver o sucesso de vendas de bonecos, naves, DVDs, camisetas, pôsteres, games e sabres de laser em uma página de leilão da internet como o Mercado Livre. Em janeiro deste ano, havia à disposição no site brasileiro cerca de 1 200 anúncios de produtos relativos à marca. Em maio, o número havia crescido para mais de 1 600, e a previsão era de vendas 30% superiores às de abril.
A Galáxia Star Wars | |
O licenciamento dos produtos da grife Star Wars já gerou um faturamento de 9 bilhões de dólares.Veja algumas das últimas novidades | |
Bonecos e brinquedos O jovem Anakin e o cabeça de batata Darth Tater são os mais novos sucessos | |
Videogames Os tradicionais games da série ganharam novas versões com o lançamento do último episódio | |
Caixa de DVDs Com vendas de 130 milhões de dólares, o DVD é o principal subproduto da série Star Wars | |
Alterador da voz A fala metálica e a famosa respiração de Darth Vader podem ser imitadas com a máscara | |
Livros da série Inicialmente cético, Lucas acabou cedendo à criação de ficção baseada em seus personagens. Já há mais de 65 títulos | |
Miniaturas para fanáticos A caixa vem vazia, mas traz vales que podem ser trocados por bonecos originais | |
Sabres luminosos A arma é usada no filme pelos cavaleiros Jedi e por seus rivais Sith. As réplicas imitam o som e a luz dos sabres. Uma delas é revestida de ouro |
O êxito de Guerra nas Estrelas, porém, não se restringe aos colecionadores e fanáticos. Várias empresas globais -- entre elas, Microsoft, Cisco, Kellogg e Burger King -- aderiram ao filme, como forma de aproveitar a força da marca Star Wars. A Pepsi lançou nos Estados Unidos um comercial estrelado pelo simpático personagem Yoda, um anão verde com mais de 800 anos e fala truncada. A operadora de celular americana Cingular preferiu usar nos seus anúncios o wookie -- uma espécie de gorila -- Chewbacca, um personagem do primeiro filme da série, de 1977, que faz uma ponta no episódio recém-lançado. Já a fabricante de chocolates Mars usou o arquivilão Darth Vader para vender seu M&M. A Sony lançou uma nova versão de seu jogo para internet com os personagens de Lucas, e a Eidos fez um game estrelado por personagens do filme feitos com blocos de Lego.
Outra tática das empresas para embarcar na onda de sucesso de Star Wars é reunir clientes para uma sessão do filme como forma de melhorar o relacionamento ou simplesmente de associar a imagem ao filme. "Há um enorme interesse das empresas", diz Lauren Leff, da National CineMedia, companhia americana que promove esses eventos. No Brasil, a operadora de celular Vivo também promoveu sessões de pré-estréia para convidados e usou o filme para lançar novos modelos de celular. O assinante pode jogar games baseados no filme, baixar toques musicais inspirados na trilha sonora do nova-iorquino John Williams ou simplesmente assistir a trechos do novo episódio. "Esperávamos chegar a 100 000 downloads em um mês. Chegamos em uma semana e meia", diz Luís Avelar, vice-presidente de marketing da Vivo. As lojas da operadora ganharam os cenários futuristas e, para completar, a Vivo inovou publicando anúncios do filme nas caixas de 100 pizzarias paulistanas.
O negócio Guerra nas estrelas | |
Veja quanto renderam os ingressos dos filmes da série Star Wars | |
Filme | Bilheteria (1) |
Guerra nas Estrelas (1977) | 1,9 bilhão de dólares |
O Império Contra-Ataca (1980) | 1,2 bilhão de dólares |
O Retorno do Jedi (1983) | 925 milhões de dólares |
A Ameaça Fantasma (1999) | 1,2 bilhão de dólares |
O Ataque dos Clones (2002) | 715 milhões de dólares |
A Vingança dos Sith (2005) (2) | 520 milhões de dólares |
Total | 6,5 bilhões de dólares |
(1) Valores atualizados pela inflação americana (2) Até o dia 29 de maio Fonte: Box Office Mojo |
Todo esse marketing contribui para aumentar ainda mais a fortuna de George Lucas -- estimada em 3 bilhões de dólares. A taxa de licenciamento cobrada de uma fabricante de brinquedos como a americana Hasbro gira em torno dos 20%, enquanto o mercado de licenças em geral cobra 6%. A própria Fox, que distribui o filme, cobra uma fatia de apenas 8% dos ingressos, enquanto o padrão em Hollywood é superior a 15%. O irônico é que George Lucas jamais pensou em sua criação como um negócio. Influenciado por cineastas de vanguarda, como Jean-Luc Godard e Akira Kurosawa, o objetivo dele sempre foi romper com a estética de Hollywood. Depois do inesperado sucesso de American Graffiti, em 1973, Lucas foi tragado pelo cinema comercial. Armado apenas com um lápis número 2, criou o universo intergaláctico em que Luke e seu pai, Anakin Skywalker -- vulgo Darth Vader --, reproduzem, em meio a uma barafunda de efeitos especiais, os mitos que assombram a humanidade desde Sófocles. Afastado de Hollywood, criou na Califórnia seu refúgio criativo, o Skywalker Ranch. Foi da Industrial Light and Magic (ou ILM), fundada por Lucas, que saíram praticamente todos os criadores dos efeitos especiais que -- de Toy Story a Indiana Jones -- revolucionaram o cinema depois de Star Wars. O império de Lucas inclui ainda a LucasFilm (cinema), a LucasArts (videogames), a Skywalker Sound (efeitos sonoros) e, naturalmente, a Lucas Licensing (licenciamento). O cineasta acaba de investir 350 milhões de dólares para construir, em San Francisco, uma nova sede para os 1 500 funcionários da ILM e da LucasArts, com inauguração prevista para julho. Agora que considera encerrada a fase Guerra nas Estrelas, Lucas quer voltar a fazer os filmes de autor com que sonhava na juventude. Se o sucesso não atrapalhar.