Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h56.
Período eleitoral é temporada de pesquisas, cujos resultados costumam orientar as estratégias de candidatos e de partidos. À sua maneira, os eleitores também tentam obter desses oráculos caminhos para um voto correto ou, ao menos, para acertar no mal menor. Mas convém sempre questionar a qualidade do termômetro. Será que a pesquisa apresentada é mesmo relevante?
Consulto sempre um livro singelo, mas cheio de sabedoria: The Market Research Toolbox -- A Concise Guide for Beginners, de Edward F. McQuarrie (Londres, Sage Publications, 1996). Eis um trecho que vale a pena ler: "Pense na pesquisa como uma troca entre o entrevistado e o entrevistador. Qualquer troca é facilitada quando seus custos são minimizados e seus benefícios ampliados. No caso das pesquisas, você diminui os custos montando um questionário curto, claro e fácil de responder. Você aumenta os benefícios fazendo perguntas relevantes" (pág. 99).
Quando leio nos jornais que, a essa altura do calendário eleitoral, apenas 40% dos votantes definiram sua preferência para governador em São Paulo (em resposta espontânea), percebo que, ainda em meio ao clima de Copa do Mundo, a clássica pergunta sobre a intenção de voto simplesmente não é relevante. Mas como dizer isso ao ansioso candidato, à imprensa ávida por notícias ou às empresas que contratam os institutos de pesquisa? Clientes querem sempre muitas respostas, e os pesquisadores precisam -- por dever de ofício -- estar sempre aptos a respondê-las. Mas nem sempre os entrevistados estão prontos, seja porque não se interessam, seja porque não pensaram no assunto. Nessas circunstâncias, o questionário acaba voltando cheio de brancos, para desespero do instituto e frustração de quem encomendou a pesquisa.
Outro dilema comum é o que atinge o cliente que tenta economizar no número de questionários. Alguns institutos aceitam trabalhar com amostras bem pequenas, o que reduz o custo do projeto e também a precisão das respostas. Com apenas 150 questionários, 33% e 18% não são diferentes, pois estão dentro da margem de erro (8% para mais ou para menos). E toda pesquisa com 300 questionários, e na qual os dados são desagregados por sexo do entrevistado, acaba apresentando esse tipo de resultado. Em outras palavras, se o problema é o orçamento, é melhor economizar no tamanho do questionário do que no número de entrevistas.
Quando imagino três recomendações básicas para os que contratam pesquisa e não são especialistas no assunto, penso nas seguintes: 1) não faça pesquisa só por fazer -- formule bem o seu problema e gaste mais tempo com o briefing; 2) não pergunte o que você já sabe por meio de outras fontes; 3) seja conciso.
Em síntese, não devemos permitir que esse incrível instrumento de coleta de informação -- a pesquisa do tipo survey -- seja banalizado e jogado na vala comum por má utilização. Não acredite nos candidatos (geralmente os que estão em segundo ou em terceiro lugar) que afirmam que as pesquisas são inúteis. Mas não compre gato por lebre. As pesquisas são instrumentos poderosos -- desde que realizadas no momento certo e no formato adequado.
Haroldo da Gama Torres é demógrafo e doutor em ciências sociais, consultor da Popular Comunicação e do Data Popular e pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole -- CEM (Cebrap/Seade)