Sigrid Guimarães: como sustentar o presente e, ao mesmo tempo, obter aquela rentabilização média de 6% ao ano, quando se sabe que todo investimento comporta riscos (Alocc Gestão Patrimonial/Divulgação/Divulgação)
CEO da Alocc Gestão Patrimonial
Publicado em 4 de agosto de 2023 às 09h00.
Nos últimos artigos, tratei de questões específicas relativas à organização patrimonial e financeira de pessoas e famílias, como investimentos no exterior, apoio a filhos adultos e doações filantrópicas. Com este artigo, início uma pequena série dedicada aos fundamentos gerais dos investimentos patrimoniais.
Para começo de conversa, vamos compreender o que são investimentos patrimoniais, quais são seus objetivos e desafios.
Na origem, a expressão está ligada à gestão dos recursos dedicados à manutenção e à perpetuação de instituições sem fins lucrativos, entidades assistenciais, mantenedoras de escolas e universidades, fundos de pensão etc. Do ponto de vista econômico-financeiro, é esse também o caso das famílias que pretendem se manter permanentemente com recursos gerados por seu patrimônio.
Diferente dos investimentos de instituições que têm no lucro um fim em si mesmo, como os bancos, por exemplo, os investimentos patrimoniais são balizados pelas necessidades e prazos dos seus detentores, e não por parâmetros do mercado e resultados da concorrência. Há boletos a pagar, e, seja qual for a taxa de juros, a cotação do dólar, o comportamento da bolsa, o rendimento do vizinho, o responsável por gerir investimentos patrimoniais deve garantir dinheiro em caixa na data do vencimento, todos os meses, por anos, décadas e séculos, se possível.
Sim, estamos falando de longo prazo, mas não de qualquer longo prazo. O objetivo último do conjunto de investimentos de uma família, assim como o de uma associação ou fundação, é garantir sua subsistência, contínua e perene, dentro de um padrão estabelecido ou superior. Assim, não se trata simplesmente de acumular para fazer frente a uma despesa programada para um dado momento futuro, mas de financiar um presente que não para de chegar e um futuro sem linha de chegada. Essa é a peculiaridade do longo prazo dos investimentos patrimoniais.
No entanto, não basta preservar, é preciso rentabilizar o patrimônio, sob pena de inviabilizar o presente e/ou o futuro. Vejamos.
Suponhamos que você tenha começado a trabalhar e a acumular patrimônio aos 25 anos, planeje prosseguir até os 65 e viva até os 95, o que, hoje, não parece lá muito improvável. Considerando apenas a correção pela inflação, seria necessário poupar cerca de 75% do seu salário para arcar com os 30 anos de vida após a aposentadoria, um sacrifício tremendo para qualquer um e inviável para a maioria das pessoas.
Contudo, felizmente, os investimentos existem e podem oferecer a solução. Considerando uma taxa atuarial de 6% ao ano, que é justamente a que costuma ser utilizada como meta por aquelas instituições sem fins lucrativos mencionadas acima, a sua necessidade de poupar cairia de 75% para 9%, graças à acumulação de rendimentos ao longo tempo. Um dado que ilustra bem o poder do tempo sobre os investimentos é que, a essa taxa média, você alcançaria o dobro do valor inicial por volta do 12º. ano. Portanto, em 40 anos chegaria ao mesmo resultado de ter poupado o dobro durante 28 anos. Definir o que é mais viável ou vantajoso para você, depende fundamentalmente de planejamento, notando a necessidade de reavaliá-lo anualmente, já que as necessidades presentes e as expectativas futuras mudam de tempos em tempos.
Tudo ótimo, certo? Bem o problema é que o mesmo efeito de acumulação exponencial age em sentido negativo quando a capacidade de investir é reduzida, seja por gastos excessivos ou por perdas realizadas em investimentos. Em outros termos: cada R$ 10 mil que você deixa de investir hoje representa R$ 32 mil a menos, em 20 anos, e menos R$ 102 mil, daqui a quarenta anos; ou seja, 10 vezes mais do que a perda atual.
O problema essencial, então, é: como sustentar o presente e, ao mesmo tempo, obter aquela rentabilização média de 6% ao ano, quando se sabe que todo investimento comporta riscos?
As minhas respostas a esses desafios encontram-se no equilíbrio entre liquidez, diversificação e eficiência, os três pilares de qualquer carteira de longo prazo. Afinal, sem liquidez suficiente para o dia a dia, uma família quebra antes que o futuro chegue; sem diversificação, as crises que fatalmente ocorrerão dentro de um horizonte de décadas expõem o patrimônio a perdas irrecuperáveis e, sem eficiência, os desperdícios corroem sua capacidade de investir e o seu futuro.
São esses os temas dos próximos artigos. Espero você por aqui. *Sigrid Guimarães é sócia e CEO da Alocc Gestão Patrimonial