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Desenrola Brasil: golpistas promovem links falsos do programa para pegar dados e dinheiro

Adesão de bancos foi grande no 1º dia, mas especialista recomenda negociar sempre

Fraudes de identidade: delitos em que o criminoso usa informações se passando pela vítima cresceram 80% em 2021 (Chonlachai Panprommas/EyeEm/Getty Images)

Fraudes de identidade: delitos em que o criminoso usa informações se passando pela vítima cresceram 80% em 2021 (Chonlachai Panprommas/EyeEm/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 19 de julho de 2023 às 10h42.

Última atualização em 19 de julho de 2023 às 18h35.

Um dia depois do lançamento do programa federal para a renegociação de dívidas, o Desenrola Brasil, golpistas já espalharam dezenas de links fraudulentos nas redes sociais para tentar "roubar" dados pessoais e obter pagamentos de endividados. Os criminosos pagaram para aumentar o alcance de várias dessas postagens, que, em grande parte, usam imagens do governo federal, da Serasa e de outras instituições para fraudar uma suposta legitimidade e enganar internautas.

No Facebook, por exemplo, 62 anúncios iguais foram pagos por uma mesma página, intitulada "O Desenrola Brasil". A página está rotulada na categoria de "Saúde/beleza" e fez quatro postagens, de imagens religiosas, a partir de 5 de julho. Desde esta terça-feira, porém, promove na rede social uma propaganda que promete liberar os descontos online. De acordo com dados da biblioteca da Meta, controladora do Facebook, a página pagou entre R$ 3,5 mil a R$ 4 mil pelo impulsionamento dos anúncios, que foram vistos em tela de 125 mil a 150 mil vezes.

"30 MILHÕES de brasileiros com DÍVIDAS recebem GRANDE NOTÍCIA. Agora é Oficial, liberamos os descontos de forma on-line. Se você tem aquela pendência que tira o seu sono na hora de dormir, saiba que agora você pode realizar o acordo de todas elas com 99% de desconto!", diz o anúncio, que reproduz a imagem do presidente Lula, do SPC Brasil e da Serasa.

Ao clicar no anúncio, o internauta é direcionado para o site "desenrola-brasil.com", cujo certificado digital foi emitido em 13 de julho. No site, o usuário é instado a fornecer o nome completo e o CPF antes de clicar na opção "buscar acordo".

"REGULARIZE HOJE E SEU NOME ESTARÁ LIMPO E O SCORE ALTO EM MENOS DE 24 HORAS!", afirma o site, que reproduz imagens de um selo de "site seguro" do Google e o logo da Norton Security Ultra, especializada no combate a vírus, malware e outras ameaças online.

A "Folha de S. Paulo" identificou um link falso patrocinado no Facebook que direciona o internauta para um chatbot de autoatendimento que faz perguntas e responde com promessas enganosas sobre o programa. Outro link citado pelo jornal vende um "Guia do nome limpo", ao custo de R$ 27, a ser pago por pix ou cartão de crédito. A Agência Lupa, por sua vez, alertou para a circulação de um link pelo WhatsApp que leva os usuários para um site falso, como se fosse da Serasa.

O GLOBO questionou a Meta sobre a circulação dos anúncios fraudulentos, mas ainda não obteve resposta. À "Folha", a empresa afirmou que não permite atividades fraudulentas na plataforma ou quaisquer outras que violem os padrões de comunidade e publicidade. A Meta disse, ainda, que combina a aplicação de tecnologia, a revisão humana e as denúncias de usuários para identificar conteúdos contrários às políticas do grupo. Já a Serasa afirmou fazer renegociação apenas pelo site oficial, o Serasa Limpa Nome; o aplicativo oficial; e o WhatsApp (11) 99575-2096.

Com a promoção dos links falsos, os criminosos buscam atrair endividados a plataformas e obter dados pessoais ou pagamentos daqueles que acreditam estar em contato com uma instituição financeira legítima.

No entanto, são os interessados em participar do Desenrola Brasil que devem procurar os bancos com os quais têm dívida até 30 de dezembro de 2023. Com isso, é considerado suspeito qualquer link que ofereça algum serviço de negociação, intermediação ou liberação de descontos não sendo das instituições financeiras que aderiram ao programa.

Descontos vão até 96%; veja quais bancos estão no programa

Bancos que aderiram ao Desenrola Brasil, programa de renegociação de dívidas do governo federal, oferecem parcelamentos de até dez anos e descontos de até 96% no montante em atraso no caso de quitação à vista. Ontem, no primeiro dia de renegociações no âmbito do programa, foi grande a adesão das instituições financeiras, interessadas nos benefícios tributários que o governo concedeu em contrapartida. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o governo liberou R$ 50 bilhões em créditos presumidos para os bancos.

Além de estabelecer uma negociação direta com os devedores, os bancos que aderiram ao Desenrola se comprometeram a limpar o nome de “negativados” com dívidas de até R$ 100 até 31 de dezembro de 2022, ainda que o débito se mantenha em aberto. Em troca, o Ministério da Fazenda vai acelerar o processo de reconhecimento de créditos tributários dos bancos.

Na prática, a cada R$ 1 de dívida renegociada, o banco terá R$ 1 a mais para novos empréstimos, com a antecipação do crédito tributário que receberia ao longo do ano, o que tem efeito positivo em seu balanço.

Segunda fase em setembro

Na primeira etapa do programa, que começou ontem, apenas dívidas bancárias serão renegociadas. Esta fase é focada em pessoas que ganham até R$ 20 mil (a chamada faixa 2). Numa segunda etapa, prevista para setembro, quem ganha até dois salários mínimos (R$ 2.640) mensais (agrupados na chamada faixa 1) também poderá renegociar dívidas com varejistas e concessionárias de serviços como água e luz, além das bancárias.

Uma plataforma digital permitirá uma espécie de leilão: a proposta de refinanciamento com maior desconto na dívida terá a garantia do Tesouro Nacional. O governo vai disponibilizar R$ 7,5 bilhões por meio do Fundo Garantidor de Operações (FGO) para cobrir eventuais calotes, o que, segundo Haddad, viabilizará a renegociação de um montante de dívidas equivalente a quatro vezes mais, de até R$ 30 bilhões. O programa vai até 30 de dezembro de 2023.

Miriam Leitão: No Desenrola, o governo está fazendo o papel de mediador entre devedores e credores, que já devia ter feito

Segundo Haddad, a estimativa do total de brasileiros “desnegativados” por dívidas de até R$ 100 é de 1,5 milhão, mas pode chegar a 2,5 milhões se o Nubank aderir ao programa. O banco digital, afirmou o ministro, foi o único que não aderiu. Procurado pelo GLOBO, o Nubank não respondeu até o fechamento desta edição.

Parcelamento bem maior

Nesta terça, os bancos apresentaram condições de renegociação bem melhores que a única exigência do governo para a faixa 2: parcelamento da dívida em no mínimo 12 vezes. As instituições ofereceram prazos mais longos, até dez vezes esse mínimo.

Os maiores estão no Santander e no Banco do Brasil (BB), onde é possível quitar o débito em até 120 parcelas (dez anos). Na Caixa, o prazo é de 96 meses (oito anos). O Bradesco vai oferecer 60 meses (cinco anos).

O menor parcelamento é o do banco digital Inter: no máximo três anos. As instituições não informaram as taxas de juros que usarão nos refinanciamentos, mas prometem descontos altos. No BB, chega a 96% para quem pagar à vista. Sob a mesma condição, é possível ter redução entre 40% e 90% na Caixa.

Santander e Inter darão desconto de até 90%, a depender do caso. O Itaú não informou os prazos, mas promete descontos de até 60% nos juros. O Bradesco não informou o desconto que pretende aplicar. Haddad esclareceu que, nesta primeira fase, qualquer tipo de dívida bancária pode ser renegociada, incluindo financiamentos de bens e imóveis.

Quais bancos estão no programa Desenrola Brasil?

Caixa

Taxa de juros: Prazo máximo de pagamento: em até 96 meses.

Quais são os descontos? De 40% a 90% para pagamento à vista.

Onde posso renegociar? Na página temática do programa no site da Caixa (caixa.gov.br/desenrola/); no WhatsApp, pelo número 0800 104 0104; na Central de Relacionamento nos números 4004 0104 (capitais e regiões metropolitanas) e 0800 104 0104 (demais regiões).

Banco do Brasil

Taxa de juros: Dependem do perfil do cliente, tempo de atraso e o tipo da dívida.

Prazo máximo de pagamento: em até 120 meses.

Quais são os descontos? De até 96% para pagamentos à vista.

Onde posso renegociar? Nas agências; no aplicativo do BB; Internet Banking (nos endereços bb.com.br/renegocie, para pessoas físicas, ou bb.com.br/renegociepj, para pessoas jurídicas); Central de Relacionamento pelos números 4004-0001 (capitais) e 0800-729-0001 (demais regiões); ou no WhatsApp, enviando #renegocie para o número 61 4004-0001.

Itaú

Taxa de juros: O banco não informou.

Prazo máximo de pagamento: O banco não informou.

Quais são os descontos? De até 60% nas taxas de juros.

Onde posso renegociar? No Whatsapp (11) 4004-1144 e pelo site renegociacao.itau.com.br/.

Santander

Taxa de juros: Depende do tipo da dívida.

Prazo máximo de pagamento: Em até 120 meses.

Quais são os descontos? De até 90%, dependendo do caso.

Onde posso renegociar? Centrais de Atendimento telefônico (4004-3535 nas capitais e regiões metropolitanas e 0800-702-3535 nas demais localidades), ou no site santander.com.br/renegociacao/. No caso de dívidas de financiamentos, o canal é a página negociemais.santanderfinanciamentos.com.br/. As condições dependem do perfil do cliente.

Bradesco

Taxa de juros: Depende do tipo da dívida.

Prazo máximo de pagamento: Em até 60 meses.

Quais são os descontos? O banco não informou.

Onde posso renegociar? Nas agências, caixas eletrônicos, aplicativo, site nd-bradesco.negociedigital.com.br/ ou pelo WhatsApp, no número (11) 4858-5151.

Inter

Taxa de juros: O banco não informou.

Prazo máximo de pagamento: Em até 36 meses.

Quais são os descontos? De até 90%.

Onde posso renegociar? As renegociações serão feitas pelo portal bancointer.com.br/negocie/, pelo aplicativo ou pela Central de Atendimento, 3003-4070.

O que é o Desenrola Brasil?

O Desenrola Brasil é uma iniciativa voltada para a renegociação de dívidas de pessoas físicas com renda de até R$ 20 mil. Ele foi criado pelo governo federal em parceria com instituições financeiras, por meio da Medida Provisória nº 1.176/2023.

Uma portaria publicada no dia 14 de julho definiu regras para diferentes públicos que serão atingidos pelo programa. Num primeiro momento, poderão ser renegociadas dívidas bancárias. Dívidas de consumo, como luz, água e até com lojas, poderão ser renegociadas em uma segunda fase.

Quando começa a valer o programa Desenrola Brasil?

O programa começou a valer na última segunda-feira, dia 17 de julho. As pessoas endividadas com bancos já podem procurar diretamente as instituições financeiras para renegociar débitos em condições mais vantajosas. A expectativa é atender 30 milhões de pessoas nesta etapa. A segunda etapa está prevista para setembro, com o início da operação da plataforma digital.

Como faço para entrar no programa Desenrola Brasil?

O programa abrange três públicos:

Devedores com débito de até R$ 100, que poderão limpar o nome nesta semana;

Público-alvo da faixa 1, com renda de até dois salários mínimos e débitos de até R$ 5 mil, que contará com uma plataforma digital em setembro;

Faixa 2, que abrange brasileiros com renda de até R$ 20 mil e dívidas bancárias, que poderá renegociar débitos em condições mais vantajosas nesta semana.

Os brasileiros enquadrados na Faixa 2 não poderão renegociar as dívidas com lojas ou prestadoras de serviços púbicos, como água e luz. As dívidas não bancárias serão englobadas apenas para aqueles que estão na Faixa 1

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