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BlackRock vê oportunidade de compra de ações no Brasil

Responsável pelos fundos latino-americanos na maior gestora de recursos do mundo, Will Landers diz a EXAME que o Ibovespa deve chegar a 85.000 pontos em 12 meses

Itaú Unibanco: "um dos melhores bancos do mundo", segundo a BlackRock (.)

Itaú Unibanco: "um dos melhores bancos do mundo", segundo a BlackRock (.)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

As preocupações com as dívidas soberanas européias derrubaram os mercados nas últimas semanas, mas não abalaram a confiança da BlackRock de que há boas oportunidades de investimento na bolsa brasileira. Maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock possui 3,4 trilhões de dólares sob administração. Principal gestor da empresa para fundos da América Latina, Will Landers acredita que o agravamento da crise europeia criou um bom ponto de entrada na bolsa e que o Ibovespa chegará a 85.000 pontos em algum momento nos próximos 12 meses - ou seja, teria um potencial de alta de 37% em relação ao fechamento desta sexta-feira.

Em entrevista ao Portal EXAME, Landers diz que dois terços dos 7 bilhões de dólares que administra estão alocados em papéis ligados ao mercado interno. A principal posição está em ações de instituições financeiras, com destaque para o Itaú Unibanco - "um dos melhores bancos do mundo", nas palavras dele. Na entrevista a seguir, o gestor da BlackRock diz o que espera para a Bovespa neste ano:

EXAME - Qual é sua visão para o Ibovespa?

Will Landers - Desde o começo de 2010 estou convencido que em algum momento nos próximos doze meses o Ibovespa baterá em 85.000 pontos. Então acho que é um momento bem interessante para a compra de ações. Esteve até melhor há poucos dias, mas continua bom. A bolsa brasileira está sendo negociada a um múltiplo de preço/lucro (relação entre o preço das ações e o lucro das empresas) de 11,5 a 12 vezes. Isso é muito barato quando comparado ao resto do mundo.

Como está a carteira de investimentos da BlackRock?

Estamos bem focados no mercado doméstico, que representa dois terços do portfólio. Já faz algum tempo que temos aumentado a exposição principalmente a ações de bancos, varejo e construção de imóveis. Aproveitamos a oportunidade para comprar um pouco mais nos últimos dias, já que havia muitas ações que apanharam sem ter culpa. A Cyrela abaixo de 20 reais e a ADR do Itaú abaixo de 20 dólares são exemplos de papéis baratos se considerarmos o crescimento e a solidez da administração.

E em commodities, como está a carteira?

As commodities representam 33% do portfólio, sendo 25% em Vale e Petrobras e os outros 8% em outras empresas. Se considerarmos o que defini como benchmark para os fundos, estamos acima do previsto apenas em mineração, em Vale e Bradespar. Para petróleo e siderurgia, a posição é menor que o benchmark. 


Por que a bolsa deu uma melhorada nos últimos dias?

É o sentimento internacional. O pronunciamento de que a China não vai revisar as posições em euro foi um dos pontos principais. Houve também números econômicos melhores nos Estados Unidos e a percepção de que as vendas de ações foram excessivas. Talvez um pouco do bom humor esteja relacionado à expectativa de que a BP consiga acabar com o vazamento de petróleo no Golfo do México. A China se pronunciou para acalmar a situação com a Coreia. Mas repare que essas são todas coisas que não têm impacto econômico no Brasil ou na América Latina. Tudo isso afeta mais o apetite a risco no exterior do que muda fundamentos.

E a BlackRock acredita que essa recuperação é consistente?

Num período de curto prazo, de duas ou três semanas, acho que vamos continuar um pouco sem direção. Mas vejo uma oportunidade de compra de posições que você tem convicção de que estarão a um valor mais alto dentro de seis meses. O Bank of America vendeu ADRs do Itaú nesta semana a 16 dólares cada. Foi um valor muito barato para um dos melhores bancos do mundo, mas a operação foi bem-sucedida. Isso mostra que há mercado para ativos de qualidade a preços interessantes.

Quais são os riscos para a recuperação da Bovespa neste ano? A eleição?

A candidata Dilma [Rousseff, do PT] falou nos Estados Unidos na semana passada e agradou o mercado. Ela falou o que o mercado financeiro queria ouvir. Confirmou os pilares do Plano Real: moeda flutuante, superávit primário e foco na inflação.

Por outro lado, o Serra dhegoua dizer que o Banco Central não deve ser a Santa Sé...

Eu não sou um analista político, mas a campanha do Serra está em um momento difícil. A economia está indo bem. A grande maioria dos brasileiros tem hoje um nível de vida melhor do que tinha há oito anos. Então ele tem que arrumar alguma coisa para se diferenciar. Só não acho que o plano econômico dele seja tão diferente do atual, que deu continuidade ao do FHC. O problema dele é que falar que vai fazer "igual mas melhor" não é um slogan de campanha que cola.

O que mais pode causar ruído no mercado?

Tem a questão dos juros, qual será o tamanho da alta e qual o impacto na economia doméstica. Acho que o consenso de mercado é de uma taxa de juros alta demais. Os juros nos Estados Unidos e na Europa vão ficar próximos de zero por algum tempo ainda. O governo não vai querer ver o real se apreciando demais. Eles estão super felizes com os níveis atuais, com o dólar entre 1,75 e 1,85 real. As empresas continuam a investir, então a capacidade industrial está crescendo. Acho que os juros chegando a 11,75% ou 12% já resolvem o problema. 


As ofertas do Banco do Brasil e da Petrobras também estão pesando sobre o mercado?

A oferta da Petrobras é o grande problema. Até termos a definição sobre a aprovação dos projetos do pré-sal no Congresso e dos termos da capitalização, a ação da Petrobras continuará pesada. E isso acaba atrapalhando o Ibovespa como um todo. Dias atrás, a ação da Petrobras estava com uma performance pior que a da BP, que está destruindo o Golfo do México. Isso é um absurdo. Hoje tanto a ADR da Petrobras quanto a ação da BP acumulam queda de 26% neste ano.

A recente queda do preço do petróleo também não atrapalhou?

O petróleo chegou a subir neste ano e a ação da Petrobras não foi para lugar nenhum. Sempre que uma empresa anuncia uma oferta, a ação acaba ficando meio pesada até o negócio sair. Muitos dos fundos que não são dedicados à América Latina ou ao Brasil decidiram ficar de fora da ação. Já fundos como os meus sempre têm alguma coisa. No meu benchmark, Petrobras é 13% ou 14% do fundo. Então eu nunca vou estar zerado. Mas um fundo global que planeja investir 1% em Petrobras pode muito bem ficar sem nada em determinado momento em que eles avaliarem que dará para comprar na oferta mais barato.

A ação da Petrobras está barata?

Está barata, mas sabendo que eles vão fazer uma oferta de 30 bilhões de dólares, para que eu vou correr atrás e comprar agora? A oferta vai pressionar o mercado por mais que eles digam que o varejo brasileiro vai comprar "x" bilhões, que os fundos de pensão vão comprar "y" bilhões, que a demanda dos fundos globais é de "z" bilhões. É uma operação que talvez seja a maior da história. Então por mais que a história seja boa, essa indefinição toda das regras do jogo acaba pesando. Eu concordo que no médio e longo prazo, com o que a gente sabe, a companhia está interessante. Mas o problema é que as regras ainda podem mudar.

A BlackRock vai participar da operação?

Provavelmente. Tem alguns fundos que têm limitação de tamanho em termos do que já têm de Petrobras. Mas como em qualquer operação a gente vai olhar. Dependendo do valor, podemos participar porque temos algum espaço.

E a oferta do Banco do Brasil, você acha interessante?

Achamos que o Banco do Brasil está com um valor interessante. Vamos ver como vai estar na hora da oferta, não temos pressa para montar a posição. Gostamos do setor como um todo. Os bancos brasileiros são hoje nossa maior aposta entre as ações ligadas ao mercado doméstico. Mas o Itaú Unibanco é a nossa maior posição entre os bancos e, em seguida, vem o Bradesco.

As ações dos bancos apanharam muito nas últimas semanas por causa da operação do Bank of America ou porque os problemas de dívida soberana na Europa levaram à desvalorização de todo o setor financeiro mundial?

Foi o problema dos bancos lá fora primeiro e depois veio a oferta do Bank of America. Tudo aconteceu em um momento em que o mercado estava bem nervoso.


E para a Europa como um todo, o que a BlackRock enxerga?

Nossa ideia é que os europeus vão ter que se virar. Até agora, eles compraram tempo pra apresentar uma solução melhor para as dívidas soberanas. Mas o fato é que eles vivem uma situação parecida com a dos mercados emergentes no passado. Há dívidas muito altas que estão ficando cada vez mais caras por falta de comprador. O que também atrapalha é que com a criação da União Europeia tirou-se a flexibilidade que cada país tinha para usar sua moeda para ajustar a economia.

Então não é algo que vai ser resolvido rapidamente?

Sem dúvida que a solução não virá da noite para o dia. O que esperamos é que a Europa tenha um crescimento mais baixo que o resto do mundo. O crescimentos dos EUA já não será grande coisa, e a Europa vai crescer menos ainda. Mas não vai haver uma crise parecida com a de 2008 nem com a crise do México na década de 90. Vai ser algo mais organizado. Tem países que estão fracos, mas também há países que estão super fortes, como Alemanha, França e Noruega. Como todos são membros da UE, eles terão de se juntar e chegar a um acordo para resolver os problemas. Ou então vão todos para o buraco.

Só que eles já deram a sinalização de que vão se ajudar, mas as bolsas ainda não ganharam confiança. O que o mercado quer ver?

Agora é uma questão de implementação. Eles postergaram o problema do endividamento para daqui dois ou três anos, mas agora precisam começar a cortar gastos. É uma solução dolorosa, mas é a que vai consertar o problema. A Grécia, no entanto, mostrou que eles estão muito reticentes a aceitar essa realidade. Não soa bem para ninguém ter de abrir mão de direitos numa região desenvolvida do mundo. Ao mesmo tempo, o mercado quer ver a implementação de medidas fiscais para ter certeza de que não haverá uma moratória.

Que outros riscos no resto do mundo podem adiar a recuperação do mercado.

A Coreia pode ser um problema se houver guerra.

E os EUA, deixaram de ser um peso para o resto do mundo?

Os EUA estão melhorando, mas ainda têm uma taxa de inadimplência hipotecária muito alta, um estoque de imóveis vagos gigantesco e um potencial problema na parte de empréstimos comerciais. Então é um país que precisa ser monitorado de perto. Eu acho que esse primeiro semestre vai ser melhor que o segundo, que, por sua vez, vai ser melhor que 2011. Agora eles ainda estão crescendo sobre as bases de 2009, que são muito fracas. Os consumidores ainda não recuperaram o poder de compra do passado. E o dólar mais forte também não ajuda.


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