Carlos Eduardo Rocha, gestor da Occam Brasil (Divulgação/Divulgação)
Guilherme Guilherme
Publicado em 2 de setembro de 2021 às 09h17.
Última atualização em 2 de setembro de 2021 às 10h00.
É com grande pessimismo que a Occam aguarda as próximas dinâmicas do mercado financeiro brasileiro. Posicionada para capturar a alta do dólar e dos juros no Brasil, a gestora acredita que os ativos locais serão penalizados pelos cenários político e fiscal e a aceleração da inflação.
“Seria uma tempestade perfeita se o ambiente internacional não estivesse tão positivo”, afirma Pedro Dreux, gestor de juros da Occam, em conferência com investidores. “Não descarto a possibilidade de a Selic retornar ao patamar de dois dígitos diante dos desafios pela frente.”
Para o economista-chefe da Occam, Paulo Val, a dificuldade para que o governo acomode os gastos com precatórios no ano que vem é a principal questão a ser resolvida.
“É um volume muito grande para o orçamento do ano que vem, que é limitado pelo teto de gastos. As ideias que surgiram para [solucionar o problema] foram muito mal vistas pelo mercado porque o teor extrateto é muito claro.”
Val ainda cita os efeitos da crise hídrica na inflação, que classifica como “consistente”. “O aumento das projeções de inflação está acontecendo junto com a redução das estimativas para o PIB. Geralmente há uma correlação positiva entre as duas coisas, mas as crises fiscal e institucional têm sido incorporada nessas duas vertentes”, afirma Val a investidores. “Não foi uma surpresa o BC ter endurecido o discurso.”
Gestor de câmbio da Occam, Fernando Chibante, pontua que a inflação brasileira chegou a um estágio “crônico”, com o real sem conseguir acompanhar a valorização das commodities no mercado internacional.
“Seria um momento favorável para a América Latina, mas há uma falta de confiança muito grande. Então, voltamos a ter posição vendida em moedas de alguns países, como o real e o peso chileno”, diz.
Apesar da visão mais negativa para os mercados emergentes, a Occam segue otimista para o mercado internacional, aumentando sua tomada de risco no exterior, especialmente em ações de tecnologia dos Estados Unidos. Isso porque, embora veja o Federal Reserve (Fed) reduzindo os estímulos monetários ainda neste ano, a expectativa é de que o movimento seja “organizado”.
“A credibilidade do Fed tem sido comprovada pela própria performance do mercado. Então, selecionamos empresas exponenciais, com crescimento recente maior que 30%. Ligados aos setores tradicionais, continuamos perseguindo [ações de] plataformas de investimentos”, conta Carlos Eduardo Rocha, diretor de gestão da Occam.
Na parte de juros americanos, a Occam espera por uma elevação, tendo no radar a redução dos estímulos mensais de 120 bilhões de dólares do Fed, o chamado “tapering”. “Isso vai acontecer neste ano, resta saber em que velocidade vai se dar”, diz Pedro Dreux. “O Tesouro americano deve voltar a emitir títulos, enquanto o Fed irá reduzir a comprar. São duas forças atuando na direção de alta de juros [futuros].”
Dreux ainda pontua que a discussão de elevação de juros nos Estados Unidos deve esquentar com a maior clareza sobre a dinâmica do tapering. “Existe a regra de não subir juros enquanto o Fed expande o balanço. Com a visibilidade de fim do tapering, o mercado deve começar a falar sobre normalização de juros.”