Warren Buffett: 2025 é o último ano do megainvestidor como CEO da empresa (Etienne DE MALGLAIVE / Colaborador/Getty Images)
Repórter
Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 05h11.
Última atualização em 8 de dezembro de 2025 às 06h23.
A transição mais aguardada do mundo corporativo americano acontecerá em breve: Warren Buffett deixará o comando da Berkshire Hathaway no final de 2025, após 60 anos como CEO. Aos 94 anos, o megainvestidor prepara a sucessão com decisões estratégicas, mas admite que o tempo cobra seu preço — sobretudo na energia física.
Em entrevista ao Wall Street Journal, Buffett afirmou que "o que meu sucessor faz em 10 horas equivale ao que eu conseguiria em dois dias". O sucessor em questão, Greg Abel, já tem data marcada para assumir: 1º de janeiro de 2026.
Mesmo com a sucessão encaminhada, Buffett permaneceu ativo em 2025. O desempenho financeiro da Berkshire, os ajustes na alocação de capital e a reação do mercado ao anúncio mostram que o “Oráculo de Omaha” ainda faz diferença — mesmo que subir escadas seja algo mais trabalhoso.
A notícia da saída de Buffettt foi anunciada em 3 de maio, durante a tradicional reunião anual de acionistas. Até ali, as ações classe B (BRKB) da Berkshire acumulavam um desempenho positivo 22,4 pontos percentuais acima do S&P 500 no ano.
O anúncio da aposentadoria, no entanto, inverteu o humor dos investidores.
Nos três meses seguintes, os papéis da empresa caíram 14,9%, atingindo mínima de US$ 459,11 em 4 de agosto. Desde então, recuperaram 9,9%, fechando a US$ 504,34, o que representa uma alta acumulada de 11,3% em 2025.
Mas não foi o bastante para acompanhar o índice S&P 500, que subiu 37,9% desde abril e soma agora uma alta de 16,8% no ano — 18,2% com dividendos, o referencial que Buffett considera mais adequado. Resultado: a Berkshire está 7 pontos percentuais atrás da referência preferida do próprio CEO.
Apesar da oscilação nas ações em 2025, o ano anterior mostrou resiliência operacional. Em 2024, a Berkshire teve o seguinte desempenho:
Ações subiram 25,5%, superando levemente o S&P 500 (+25,0%)
Lucro operacional saltou 27%, totalizando US$ 47,4 bilhões
O lucro líquido GAAP caiu para US$ 89 bilhões (vs. US$ 96,2 bi em 2023), impactado por perdas não realizadas em ações
Buffett voltou a enfatizar que o lucro operacional é o melhor termômetro da empresa, já que exclui variações de mercado não realizadas.
A área de seguros manteve posição central na estratégia da Berkshire em 2025, com destaque para os ganhos de subscrição de US$ 2,37 bilhões no terceiro trimestre, crescimento expressivo ante os US$ 750 milhões do mesmo período em 2024 — mesmo com perdas de US$ 850 milhões relacionadas aos incêndios florestais no sul da Califórnia.
O braço de energia e utilidades da Berkshire, a Berkshire Hathaway Energy, registrou US$ 1,49 bilhão em lucros trimestrais, mas enfrentou pressões operacionais em suas divisões de utilidades e gasodutos.
No segmento de manufatura, serviços e varejo, a companhia registrou lucros de US$ 3,6 bilhões no terceiro trimestre.
A empresa encerrou o terceiro trimestre de 2025 com US$ 381 a 382 bilhões em caixa e investimentos de curto prazo, incluindo US$ 72,2 bilhões em caixa imediato — uma alta de 62,7% em relação ao final de 2024. Também acumulou US$ 700,4 bilhões em patrimônio líquido dos acionistas, alta de 7,5% no ano.
Buffett revelou que a decisão de se aposentar foi motivada principalmente pela queda na energia física.
O plano de sucessão já estava estabelecido desde a morte de Charlie Munger, em 2023. Abel, 62 anos, vice-presidente das operações não seguradoras, assume a presidência executiva em janeiro de 2026, e Buffett permanece como presidente do conselho.
Apesar das limitações físicas, Buffett garantiu que continuará indo ao escritório diariamente e opinando nas decisões de investimento. “Se o mercado entrar em pânico, eu ainda estarei por aqui. Não fico com medo quando todo mundo está assustado", disse.
Aos 94 anos, o investidor que transformou uma empresa têxtil em um império de US$ 651 bilhões em patrimônio líquido entrega o comando, mas não se afasta.
Seu último ano como CEO confirma um legado baseado em resiliência, disciplina e confiança matemática no longo prazo — mesmo quando o curto prazo derruba 14,9% do valor das ações.