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Trump pode ser pedra no sapato da Netflix na compra da Warner

Presidente vê risco antitruste em negócio de US$ 72 bilhões que criaria gigante global do streaming

Trump: presidente pode atrapalhar compra da Warner pela Netflix (Andrew Harnik/Getty Images)

Trump: presidente pode atrapalhar compra da Warner pela Netflix (Andrew Harnik/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 05h49.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode ser uma pedra no sapato da Netflix (NFLX) na compra da Warner Bros. Discovery (WBD), anunciada na sexta-feira, 5.

O acordo, avaliado em US$ 72 bilhões, será analisado pelo Departamento de Justiça dos EUA. Trump afirmou que o negócio “tem que passar por um processo” e reconheceu que pode representar “um problema” de concorrência, citando o aumento expressivo da participação de mercado da Netflix com a incorporação da Warner.

A operação uniria a maior plataforma de streaming do mundo com marcas icônicas como HBO e CNN. Em termos financeiros, a empresa combinada teria a maior receita do setor.

A declaração de Trump teve impacto imediato no mercado. As ações da Warner Bros. subiram 1% no pré-mercado da plataforma Blue Ocean, enquanto os papéis da Netflix recuaram 1,4%. Na plataforma Polymarket, as apostas sobre a conclusão da fusão até o fim de 2026 caíram de 60% para 23%.

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Argumento sobre rivais

Segundo fontes próximas à empresa ouvidas pela Bloomberg, a Netflix argumentará que rivais como YouTube (Alphabet) e TikTok (ByteDance) devem ser considerados na análise do mercado, o que diluiria sua fatia relativa e afastaria o risco de concentração.

Sarandos, copresidente da Netflix, já esteve na Casa Branca para defender o negócio pessoalmente. Segundo a Bloomberg, ele afirmou que a empresa não é um monopólio e relembrou perdas recentes de assinantes para mostrar vulnerabilidade competitiva.

Outro ponto que deve pesar na análise é o contexto político. A Warner recusou uma oferta anterior da Paramount Skydance, empresa ligada a Larry Ellison, um dos apoiadores mais antigos de Trump. A decisão irritou aliados do presidente e pode agravar o clima em Washington.

Congressistas dos dois partidos já se manifestaram contra a fusão. A senadora Elizabeth Warren e o deputado Darrell Issa apontaram prejuízos potenciais aos consumidores, caso o conglomerado com 450 milhões de usuários seja aprovado.

Na Europa, autoridades da União Europeia e do Reino Unido também se mobilizam para investigar o caso. No Reino Unido, o tema chegou à Câmara dos Lordes antes mesmo do anúncio oficial.

A Netflix prepara sua defesa destacando que mais de 75% dos usuários da HBO Max também são assinantes da plataforma, o que, segundo a empresa, indicaria que os serviços são complementares e não concorrentes diretos.

A Netflix comprou a Warner. E agora, HBO Max?

A companhia deve ainda argumentar que a fusão permitiria cortar custos com tecnologia, otimizar conteúdo e criar pacotes combinados, com possível impacto positivo nos preços para os consumidores.

O que está em jogo?

A compra da Warner é uma mudança estratégica significativa para a Netflix, que até então se manteve focada na criação de conteúdo original e na expansão de sua base de assinantes.

Com a aquisição da WBD, a Netflix ganha acesso a um catálogo vasto e valioso, incluindo franquias de peso como Harry Potter, Game of Thrones, DC Comics, além dos títulos renomados da HBO, como The Sopranos e Succession. A Warner Bros. Studios, com suas capacidades de produção física e portfólio de conteúdo vasto, fortalece ainda mais a posição da Netflix no mercado global.

Mas o processo de venda não foi — e não será — simples. Desde outubro, a Warner estava aberta a propostas, após recusar três ofertas consecutivas da Paramount, que também estava interessada na aquisição. A Paramount acusou a WBD de favorecer a Netflix no processo de venda e de conduzir um leilão “viciado”.

Embora a Paramount tenha argumentado que sua proposta seria mais favorável aos reguladores, a Netflix se manteve firme, e ofereceu não apenas uma quantia significativa por ação, mas também uma taxa de rescisão de US$ 5 bilhões caso o acordo não seja aprovado pelos reguladores.

Os desafios regulatórios

O maior obstáculo que ainda paira sobre o acordo é a questão regulatória. A fusão entre duas das maiores plataformas de streaming do mundo — Netflix e HBO Max — pode levantar questões antitruste, especialmente em mercados como os Estados Unidos e a União Europeia.

O mercado de streaming já está altamente aquecido há anos, e a concentração de poder nas mãos de uma única empresa pode ser vista como prejudicial aos consumidores, o que atraíria a atenção das autoridades reguladoras.

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As autoridades antitruste, tanto nos EUA quanto na Europa, provavelmente examinarão de perto a combinação de dois gigantes do entretenimento. A Paramount, em uma tentativa de bloquear o acordo, insistiu que a fusão entre a Netflix e a Warner representaria uma ameaça ao mercado, argumentando que tal união poderia resultar em uma monopolização do setor de streaming.

O impacto no mercado de entretenimento

Se o acordo for aprovado, a Netflix não apenas consolidaria sua liderança no mercado de streaming, mas também se tornaria uma das maiores potências da indústria de conteúdo e distribuição.

A aquisição traria para a plataforma um portfólio de propriedade intelectual que rivaliza com o de qualquer outra empresa no setor, incluindo a Disney e a Amazon. A Netflix também ganharia acesso a uma vasta infraestrutura de produção e distribuição, o que permitiria à empresa expandir ainda mais sua presença global.

A Warner, por outro lado, resolveria seus problemas financeiros, que se agravaram desde a fusão entre WarnerMedia e Discovery em 2022. A empresa perdeu quase 60% de seu valor de mercado e teve um prejuízo contábil de US$ 9,1 bilhões no ano anterior. A venda para a Netflix seria uma maneira de aliviar esses desafios financeiros e garantir a continuidade de suas operações.

A aquisição da Warner também colocaria a Netflix em uma posição mais forte no mercado de franquias e merchandising, com grandes IPs como Harry Potter e DC Comics, áreas nas quais a Netflix ainda está buscando expandir suas operações. A empresa poderia, por exemplo, explorar oportunidades de parques temáticos, merchandising e até mesmo jogos, diversificando ainda mais suas fontes de receita.

Mas a Netflix já comprou a Warner?

O processo ainda não está concluído, e há muitos passos a serem dados antes que o acordo se concretize.

A Netflix terá que navegar pelas questões regulatórias e garantir que a transação seja aprovada pelos órgãos responsáveis. Além disso, o valor da proposta e a taxa de rescisão de US$ 5 bilhões oferecem um sinal claro de que a empresa está disposta a enfrentar qualquer obstáculo para concretizar a aquisição.

Para os fãs de conteúdo e para os investidores do setor de entretenimento, o acordo pode reconfigurar o mercado de forma dramática. A Netflix, ao integrar o portfólio da Warner, não apenas expandiria seu alcance, mas também fortaleceria ainda mais sua posição como líder no streaming e no desenvolvimento de franquias de entretenimento.

Ainda assim, o futuro da Warner está longe de ser decidido. A negociação continua em andamento, e a batalha por seus ativos deve marcar um novo capítulo na evolução do mercado de mídia. O que está em jogo é mais do que uma simples aquisição de estúdios e plataformas de streaming; trata-se de um movimento estratégico que pode mudar para sempre o cenário do entretenimento global.

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