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"Sempre torço para o comandante do avião pilotar bem", diz dono do Madero sobre novo governo Lula

Rede de restaurantes não tem pressa em listar suas ações na bolsa e estuda nova emissão de CRA para melhor perfil da dívida

Madero: 'se você é empreendedor, não pode depender da economia estar bem ou mal', diz Durski Jr. (Germano Lüders / EXAME/Exame)

Madero: 'se você é empreendedor, não pode depender da economia estar bem ou mal', diz Durski Jr. (Germano Lüders / EXAME/Exame)

Depois de tentar fazer IPO (sigla em inglês para abertura de capital) nos Estados Unidos e no Brasil, a rede de restaurantes Madero perdeu a pressa, garante o presidente e fundador da empresa, Luiz Renato Durski Junior. No topo da lista de prioridades, a empresa colocou a arrumação da casa: reformulou o perfil de sua dívida e readequou o plano de expansão ao caixa da companhia. Agora, estuda uma terceira emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) para dar ainda mais fôlego ao balanço.

O ritmo do crescimento vai depender, também, do ambiente macroeconômico. O empresário, que durante o governo de Jair Bolsonaro declarou apoio ao político, diz ser muito difícil fazer previsão de como vai estar o mercado ou a renda das pessoas nos próximos anos, mas que o desempenho e a estratégia da empresa não pode depender do contexto macro.

No terceiro trimestre, a receita líquida chegou a R$ 381 milhões, 23% a mais do que um ano antes, com as vendas em mesmas lojas já se aproximando de 2019. A rentabilidade também ficou mais próxima do ano pré-pandemia, com o Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) somando R$ 92 milhões e a margem ficando em 24%, 7 pontos percentuais abaixo de 2019, mas já evoluindo dos anos de 2020 e 2021. Segundo o empresário, o crescimento das vendas tem se mostrado díspare em todo o país, com estados do Centro-Oeste "indo muito bem", além de surpresas positivas como Salvador (BA) e Aracaju (SE), onde as vendas em mesmas lojas estão crescendo 15% e 13%, respectivamente.

"Tem que ver o que o governo vai fazer. Ninguém sabe porque, no momento, ainda é muita especulação. Mas, se você é empreendedor, não pode depender da economia estar bem ou mal. Nos meus 40 anos de trabalho sempre foi assim: nunca teve mais de dois anos ruim nem mais de três anos bons", argumenta em entrevista à Exame Invest. "Sempre torço pro comandante do avião pilotar muito bem porque também estamos dentro do avião", diz quando questionado sobre o que esperar do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023.

No início deste ano, quando a dívida beirou R$ 1 bilhão, o grupo desistiu oficialmente do IPO e fez a emissão de CRA, quando levantou R$ 500 milhões para pagamento em 5 e 6 anos. Fez ainda aditivos aos contratos com alguns bancos, e estendeu o prazo de vencimento de uma emissão de debêntures para cinco anos, com a primeira amortização para setembro de 2023. Além disso, pagou R$ 100 milhões a credores. Com isso, o prazo médio da dívida passou de 1,4 ano para 3,2 anos, se considerados os números até setembro.

A estimativa é de que a empresa feche o ano com dívida bruta de R$ 985 milhões, mas com posição de caixa mais confortável, argumenta Ariel Szwarc, diretor financeiro do grupo, em entrevista dada ao lado de Durski. "Estamos fechando o  ano com uma posição de caixa de mais de R$ 80 milhões. Estamos bem sólidos e tranquilos", diz ele. Ainda assim, o objetivo é tentar uma nova emissão de CRA em maio ou junho. Os bancos já foram contratados, explica ele. Esse tipo de investimento cuja demanda mais do que dobrou em 2022, segundo dados da Anbima."O tamanho da emissão vai depender, pois ainda há alguma instabilidade no mercado", diz o diretor financeiro.

A ideia da operação é prolongar a dívida e fortalecer o balanço. A expansão física deve vir só depois disso, mas também de acordo com o caixa da empresa. "Vamos ter uma expansão mais tranquila no primeiro semestre para ver o que vai acontecer no cenário macro para daí começar a expandir mais no segundo semestre", diz Szwarc.

Hoje, são 276 restaurantes. O ritmo de aberturas depende da disponibilidade de caixa, mas, sem entrada extraordinária de recursos, como uma capitalização, deve ficar entre 20 e 25 unidades ao ano, bem abaixo das mais de 50 lojas abertas em 2019, ano pré-pandemia.

Para se  "reinventar", diz Durski, o jeito foi achar uma alternativa que gerasse mais fluxo nas lojas. "Achamos uma maneira de melhorar o fluxo agregando praticamente um restaurante a mais nos pontos", diz ele explicando que o cardápio das lojas Dundee, de frango frito, foi incorporado pelas unidades Jerônimo. A marca de frango, por isso, deixará se ter restaurantes próprios. A lógica é a mesma para a marca Legno, de culinária italiana, cujo cardápio passou a ser incluido nas lojas Madero Steak House. "Os dois estão indo muito bem. Já colocamos em 265 restaurantes."

Além do Jerônimo e da Madero Steak House, a rede tem o formato Madero Container, um modelo que o empresário tem apostado em aberturas em rodovias. Além disso, o objetivo é abrir mais lojas com drive-thru.

Leia também: Depois de “inverno”, Bolsa deve ter retomada tímida de IPOs em 2023

IPO é oportunidade

A Madero foi apenas uma das desistentes de IPO desde o último trimestre de 2021, período que corou, depois, o ano de 2022 como "inverno" das aberturas de capital - o primeiro ano sem operações do tipo na Bolsa de 1998. Por isso, o diretor financeiro acredita que a recuperação do mercado vai ser "pasito a pasito", diz com seu sotaque argetino.

Com registro já ativo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e, portanto, resultados trimestrais auditados e divulgados, a empresa tem já estruturas para ir ao mercado tentar uma listagem, mas quer esperar "condições interessantes". Em 2021, a expectativa era ser avaliado em R$ 7 bilhões - valor apenas R$ 1 bilhão abaixo do que projetava quando tentou abrir capital nos Estados Unidos.

"Estamos com muita cautela e, caso façamos uma abertura de capital, será a uma capitalização relevante que nos permitisse acelerar essa expansão. Mas não é algo que vejamos acontecer no curto ou médio prazo. Temos como uma oportunidade, mas não como um plano-base", garante Szwarc. Hoje, além de Durski com 58,64% do capital do Madero, o fundo Madrid, que representa o fundo de investimento americano Carlyle, detém 34,40%. Outros 6,96% são divididos entre outros acionistas. 

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