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Sem gestor, fundo aposta na matemática para descobrir tendências

Estratégia saiu praticamente ilesa da crise do coronavírus e conseguiu surfar na retomada dos mercados; rentabilidade supera 30% em menos de um ano e meio

Sérgio Rhein Schirato, sócio-fundador da Daemon Investimentos| Foto: Divulgação (Divulgação/Divulgação)
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Guilherme Guilherme

Publicado em 15 de julho de 2021 às 07h15.

Última atualização em 15 de julho de 2021 às 10h59.

Foi com a premissa de criar um produto sem correlação com qualquer mercado e gerido exclusivamente por modelos matemáticos que a Daemon Investimentos, com 4 bilhões de dólares sob gestão, criou seu primeiro fundo quantitativo, o Nous. Com cerca de 16 meses de existência, seu retorno acumulado é de 32%, sendo 8,6% somente neste ano.

Criado em fevereiro de 2020, o Nous foi colocado à prova logo nos primeiros dias de existência. Enquanto as bolsas do mundo inteiro derretiam em meio ao pânico gerado pela chegada do novo coronavírus ao Ocidente, o Nous encerrou o mês de março com perdas de menos de 1%.

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“Nossos modelos matemáticos olham para o mundo todo em busca das melhores oportunidades, que podem aparecer no mercado de commodities da Ásia ou no de energias da Europa”, afirma Sérgio Rhein Schirato, sócio-fundador da Daemon Investimentos.

A última grande aposta do fundo foi no mercado de madeira americano, que atravessou uma forte alta de preços entre entre março e maio deste ano. "Devido ao crescimento imobiliário pós-pandemia nos Estados Unidos, esse mercado passou por um squeeze enorme e os nossos algoritmos capturam isso.  Tivemos um resultado fantástico comprando contrato futuro de compensado de madeira."

A única restrição de investimento, diz Schirato, é a liquidez. “O ativo tem que ser muito líquido." Isso, porém, não é um problema para a diversificação. Em média, o fundo roda com 250 ativos no portfólio. Entre eles estão moedas, ações, índices e taxas de juros.

“Por questões regulatórias, não podemos ter mais de 40% do patrimônio líquido no exterior. Mas, com a capacidade de alavancagem do mercado futuro e de opções, conseguimos transferir 66% do risco para o exterior.”

Para diminuir ainda mais a dependência do cenário local, as posições compradas no mercado brasileiro são do mesmo tamanho das vendidas. “Estamos sempre apostando no diferencial de alguma coisa, mas não de forma direcionada.”

Sem a figura de um gestor ou um economista-chefe para interpretar as movimentações macroeconômicas, o fundo é gerido por uma equipe de cientistas liderada por Schirato, que também é Phd em ciências e pesquisador da USP.

“Não temos ninguém olhando oportunidades. Nós gastamos muito tempo discutindo a matemática, a validação de um modelo. Quando surgem ideias, fazemos milhares de simulações para ver se o modelo funciona”, explica.

Segundo Schirato, o fundo abrange 12 estratégias quantitativas. “Algumas tendem a ter mais volatilidade, então a fração dela no portfólio é menor. Mas em termos de participação do risco, elas são praticamente iguais”.

O projeto, tido como “secreto” pela gestora, durou cerca de cinco anos para ser desenvolvido. E custou caro.

“Os custos vão da infraestrutura computacional e de base de dados até mão-de-obra. Buscamos pessoas com habilidades muito específicas e difíceis de serem encontradas.”

Uma forma de encontrar esses profissionais foi procurar fora do mercado financeiro. “A matemática é uma só. Um problema que encontramos muitas vezes é o mesmo da eletrônica. Não importa se é uma série de preços ou um sinal eletrônico, no fim é o mesmo problema.”

Voltado para investidores qualificados, o fundo tem aplicação mínima inicial de 10 mil reais e período de resgate total de 21 dias.

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