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Selic pode ir para 5% e dólar encontrar piso nos R$ 5,00, diz Goldenstein

Para Goldenstein, que já chefiou o Departamento de Operações de Mercado Aberto do BC, Copom deve realizar 6 aumentos de juros de 0,5 p.p., a partir de maio

Goldenstein: Mercado exagerou no otimismo que foi corrigido com reforma tributária e aumento da tensão política (Divulgação/Divulgação)
PB

Paula Barra

Publicado em 15 de dezembro de 2020 às 19h58.

Última atualização em 16 de dezembro de 2020 às 08h15.

A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano, realizada na semana passada, mostrou um Banco Central mais realista, deixando sinais claros de que a autoridade monetária não vai demorar a agir, via aumento de juros, caso seja necessário. "Há probabilidade razoável de que esse processo comece no segundo trimestre do ano que vem.” Com isso, a tendência é que a curva dos contratos de juros futuros entre em processo de desinclinação, como já está ocorrendo, o que também reforça a tendência recente de queda do dólar.

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A avaliação é de Sérgio Goldenstein, que já chefiou o Departamento de Operações de Mercado Aberto (Demab) do BC e atualmente escreve para a Ohmresearch. Para ele, o BC passou a mensagem de que não vai ser leniente na condução da política monetária, o que é um bom sinal. “O risco seria a inflação subir e o BC demorar a agir. Nesse caso, você teria desancoragem das expectativas de inflação, o que poderia resultar mais à frente em uma taxa Selic terminal mais alta”, disse em entrevista àEXAME Invest.

Em seu cenário-base, ele aponta que o BC deve começar o processo de aumento de juros em maio do ano que vem, promovendo seis altas de 0,5 ponto percentual, o que levaria a Selic para 5% ao ano ao fim de 2021. Isso considerando que haverá manutenção da política fiscal, comenta. “Caso contrário, se houver rompimento do teto dos gastos, sem medidas compensatórias, com piora da trajetória da relação dívida líquida/PIB, esse ajuste terá que ser muito mais forte.”

Segundo ele, a sinalização do BC de que vai normalizar a política monetária no próximo ano também tira um fator de pressão sobre o câmbio, uma vez que a Selic muito baixa teve um papel importante na ocorrência de um fluxo financeiro negativo para o país. No entanto, ainda assim, ele aponta como possível piso para a moeda o patamar dos 5,00 reais, o que daria uma desvalorização de cerca de 1,7% em relação à cotação atual. “Chegando aos 5,00 reais, não vejo espaço muito significativo para queda da moeda.” O dólar comercial fechou nesta terça-feira, 15, com baixa de 0,66%, a 5,0889 reais na venda. Desde o fim de outubro, a desvalorização acumulada é de cerca de 11%.

Para Goldenstein, embora tenha ocorrido uma melhora na percepção de risco, a situação fiscal do Brasil ainda é muito ruim, o que limita o ingresso de investimentos estrangeiros no país. “Para ter uma melhora significativa, é preciso que sejam aprovadas reformas, como a administrativa, que permitam um ajuste fiscal estrutural, mas não vemos andamento dessas pautas, tudo que se discute até agora são medidas paliativas."

"O Brasil foi um dos países que mais gastou durante a pandemia na comparação com outros emergentes e partindo de uma relação dívida líquida/PIB muito maior. Vamos chegar ao final do ano com essa relação em 92%, a mais alta entre os pares. E as projeções são as de que não vamos ter um superávit primário tão cedo, então essa relação vai continuar alta, o que deixa o risco fiscal elevado e afeta o prêmio de risco do mercado”, analisa.

Além disso, ele aponta que a apreciação recente do real foi muito motivada por desmonte de operações de “hedge” (proteção) com dólar. “Muitos players vinham e vêm utilizando o real como hedge para suas alocações em Bolsa. Eles compram dólar futuro para proteger essas posições. Caso dê algum problema na parte fiscal, por exemplo, o dólar vai apreciar e eles têm esses instrumentos como proteção. Como houve uma melhora na percepção de risco, muitos investidores desmontaram essas operações, o que ajudou na tendência de apreciação do real recentemente. Mas, olhando para frente, não vejo isso mais como um motor para o câmbio”.

Adicionalmente, Goldenstein comenta que, embora a balança comercial esteja muito forte neste ano, somando 50 bilhões de dólares como saldo, não necessariamente esse montante tem se traduzido em entrada de recursos no país. “Isso porque o exportador não está internalizando os recursos, o dinheiro tem ficado no exterior e a Selic muito baixa é o principal fator. Para que internalizar o caixa se a taxa de juro real está negativa no Brasil? O exportador tem preferido deixar os recursos lá fora.”

Segundo ele, o real pode continuar se apreciando se o cenário externo continuar favorável e o dólar seguir perdendo força globalmente, mas ressalta mais uma vez que fatores internos limitam esse movimento. Entre eles, reforça, a Selic ainda em patamar baixo, a situação fiscal difícil e o fato de que uma parcela do movimento recente foi motivado por reversão de operações de hedge com câmbio, o que parece ter sido estancado por ora.

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