Alta da Selic atrai estrangeiro para dívida local e pode limitar a desvalorização do real | Foto: Benoit Tessier/Reuters (Benoit Tessier/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 20 de janeiro de 2022 às 13h45.
O Banco Central brasileiro deve elevar a taxa Selic para até 12% este ano e terá de manter o juro alto por um período prolongado à medida em que a inflação demora para convergir à meta, segundo Marcelo Carvalho, diretor global de pesquisa para mercados emergentes do BNP Paribas.
O banco prevê que o BC só deve começar a aliviar a política monetária em 2023, e ainda assim mantendo a taxa em nível elevado, de até 9%. A política monetária seguirá apertada para enfrentar os riscos esperados para o ano e porque a inflação permanecerá alta, acima de 8% em doze meses, pelo menos neste primeiro semestre.
“Não acho que o BC começará a cortar o juro tão cedo, em parte por causa da alta da taxa do Fed (Federal Reserve, banco central americano)”, disse Carvalho, em entrevista de Londres. Ele cita ainda incertezas eleitorais e fiscais no Brasil e o impacto da ômicron na China entre os fatores que devem exigir cautela por parte da autoridade monetária neste ano.
“Em país emergente, a inflação sobe de elevador, mas desce de escada”, afirma o diretor do BNP.
As eleições trazem risco de volatilidade para o mercado com a pressão por aumento de gastos elevando a incerteza sobre a política fiscal do próximo presidente, segundo Gustavo Arruda, diretor de pesquisas para América Latina do BNP Paribas.
O que pode ajudar a limitar o impacto da eleição no mercado é o fato de ter sido aprovada a autonomia do Banco Central. “Essa é nossa primeira eleição com BC independente e isso gera um risco menor. O problema é que o fiscal está mais frágil”, diz Arruda.
Apesar das incertezas, a combinação de preços relativamente baixos na bolsa e juros elevados está ajudando a atrair o capital estrangeiro para alguns ativos brasileiros, afirmam os executivos do BNP.
“O preço da bolsa brasileira em dólar começa a ficar atrativo principalmente quando comparados a outras bolsas, como as americanas, que já andaram bastante”, diz Carvalho.
A alta da Selic também ajuda a atrair o estrangeiro para a dívida local e pode limitar a desvalorização do real, afirma Arruda. Ele prevê um dólar a R$ 5,60 no fim do ano, apenas ligeiramente acima do nível atual.
Embora o aumento de juros do Fed favoreça a alta do dólar este ano, as perdas do real podem ser suavizadas também pela percepção de que a moeda brasileira já se depreciou muito e pelas contas externas do país, segundo Carvalho.
“O Brasil mostra um balanço de pagamentos resiliente e tem um colchão significativo de reservas”, disse ele.