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Santander aumenta provisões com remanejamento e evita impacto no lucro

Banco reverteu provisões para contingências fiscais, que foram direcionadas para devedores duvidosos

Santander: banco teve queda de 47% no lucro líquido no 1º trimestre (Rodrigo Garrido/Reuters)

Santander: banco teve queda de 47% no lucro líquido no 1º trimestre (Rodrigo Garrido/Reuters)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 25 de abril de 2023 às 20h40.

Última atualização em 25 de abril de 2023 às 21h02.

O Santander (SANB11) apresentou um resultado nesta terça-feira, 25, que não surpreendeu, mas trouxe novidades. O banco registrou queda de 47% no lucro líquido no primeiro trimestre, na comparação anual. Embora a receita tenha caído, o que impacta todo o balanço, a variação foi pequena: -3,8%, para R$ 17,84 bilhões. O que contou mesmo para o encolhimento da última linha foi o aumento das provisões para crédito, as reservas feitas para lidar com perdas na carteira de crédito, a boa e velha inadimplência. O banco elevou em 138% a sua cobertura, o equivalente a R$ 11 bilhões.

O CEO da instituição, Mario Leão, destacou que esse total contém o que ele chamou de "reforço" para o balanço. Isso porque, do total provisionado, R$ 4,2 bilhões foram uma espécie de migração de provisionamento. O banco já possuía uma reserva para uma discussão a respeito de cobrança de PIS/Cofins sobre receitas financeiras que pôde ser revertida (leia mais abaixo). Com isso, surgiu uma oportunidade de usar esse saldo para ampliar as provisões de crédito sem um impacto cheio nos números — afinal, R$ 4,2 bilhões já estavam subtraídos do lucro. Dessa forma, o impacto negativo da alta nas provisões na lucratividade foi de apenas R$ 6,8 bilhões (a diferença em relação aos R$ 11 bilhões) — o que significa um aumento de 47%. 

A alta nas provisões carrega junto uma decisão de ampliar a cobertura para as perdas esperadas com o caso Americanas — embora nenhum banco nunca diga o nome das empresas das quais se protegem. No balanço do quarto trimestre de 2022, o Santander optou por provisionar 20% da dívida com a varejista, nas contas do analista do Credit Suisse. Já havia uma expectativa de que mais uma parte da dívida fosse provisionada nesse resultado — e tudo indica que foi o que aconteceu, ainda que a instituição espanhola não confirme.

Nos cálculos do Credit, os bilhões “extras” do PIS/Cofins ajudaram a cobrir um aumento de R$ 720 milhões na provisão do Santander para a Americanas. O percentual protegido do crédito com a varejista passou de 20% para 50%. Outros R$ 150 milhões, ainda segundo o Credit Suisse, se referem à exposição ao Grupo Petrópolis, dono da Itaipava, que pediu recuperação judicial no final de março

Curto ou longo prazo?

O Santander tinha a possibilidade de reverter os R$ 4,2 bilhões para incrementar o balanço do trimestre, o que poderia ter mais do que dobrado o resultado nos cálculos do banco. Seria um gol para o curto prazo. A opção, no entanto, foi remanejar as provisões e proteger a carteira. Daí a decisão de chamar esse adicional de "reforço". 

A medida, classificada por Leão como “conservadora”, teria, inclusive, sido um dos pontos que fizeram o mercado repercutir o balanço positivamente na bolsa. As ações do Santander subiram perto de 1% nesta terça-feira, acompanhadas de outros papéis do setor bancário que avançaram em bloco.

“Fazer reforço de balanço na margem é um dado positivo. O mercado já esperava um número por volta do que apresentamos e vê segurança no que estamos fazendo”, disse o CEO. Leão reforçou que o trabalho do banco é construir as bases para que a ação suba no longo prazo.

Como o Santander remanejou as provisões?

O Santander remanejou suas provisões de olho em uma discussão no Supremo Tribunal Federal (STF). O plenário está analisando a cobrança de PIS/Cofins sobre receitas financeiras, o que é contestado pelos bancos. Por enquanto, há apenas o voto do relator, o ministro Ricardo Lewandowski — mas ele foi favorável ao entendimento proposto pelas instituições bancárias. 

Com isso, a avaliação de risco de perda no caso passou de “provável” para “possível” o que, nas normas contábeis, permite que o banco opte por não fazer a provisão para esse risco. Sendo assim, os R$ 4,2 bilhões provisionados para esse fim puderam ser alocados em outras provisões.

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