Rússia queima toneladas de gás natural enquanto preço dispara na Europa
Fotos tiradas perto da estação de compressão de Portovaya mostram chamas muito altas, alimentadas pela combustão do gás
Carlo Cauti
Publicado em 26 de agosto de 2022 às 11h15.
A Rússia está queimando toneladas de gás natural na fronteira com a Finlândia.
A informação foi divulgada nesta sexta-feira, 26, pela rede britânica BBC, que mostrou uma foto realizada por um cidadão finlandês na fronteira com a Rússia, perto da estação de compressão de Portovaya, onde o gás natural chega da Sibéria do Norte.
Segundo a BBC, a Rússia estaria queimando gás por um valor equivalente a 10 milhões de euros (cerca de R$ 51 milhões) por dia.
Não é claro se a queima do gás natural é intencional ou consequência de problemas técnicos nessas instalações, dada a ausência de especialistas estrangeiros e peças para as manutenções por causa das sanções contra Moscou.
Rússia usa gás como instrumento de pressão após invasão da Ucrânia
A Rússia reduziu o fluxo de gás fornecido para a Europa para cerca de 10% desde o começo da invasão da Ucrânia. Essa redução provocou uma disparada dos preços e provocou um desabastecimento energético nos países europeus.
Além disso, é normal que essas instalações queimem gás natural, para evitar que o metano forme nuvens explosivas muito perigosas. Isso geralmente acontece devido aos excessos de produto acumulado em refinarias e estações de bombeamento durante os ciclos normais de processamento.
Entretanto, nunca ocorreu uma queima de gás natura quantidades tão elevadas como as registradas na fronteira entre Rússia e Finlândia.
É possível que nos próximos dias esse desperdiço de gás aumente significativamente, dado que a Gazprom, gigante estatal russa do gás, anunciou o bloqueio total dos gasodutos que passam sob o Mar Báltico e chegam à Alemanha.
A justificativa oficial é que é necessário realizar uma manutenção nas instalações. Em situações normais, quando isso acontece, o gás é redirecionado para os clientes finais - os países da Europa Ocidental - por meio de outros gasodutos que atravessam a Europa. Entretanto, dessa vez não está prevista nenhuma compensação.
Preços do gás disparam na Europa
Se de um lado a Rússia está desperdiçando toneladas de gás natural por dia, do outro os preços da energia na Europa não param de subir.
Na Alemanha e na França o custo da energia elétrica bateu novos recordes, respectivamente custando 850 euros e mais de 1.000 euros por megawatt hora (MWh).
Há um ano, os preços nos dois países estavam por volta de 85 euros/MWh.
No Brasil, o preço médio do MWh residencial em São Paulo é de cerca de 74 euros (R$ 380).
A cotação do gás natural na Europa superou mais um recorde, aos 324 euros por megawatt-hora no contrato TTF negociado na Bolsa de Amsterdã, referência europeia para o preço do gás.
Essa alta dos preços da energia na Europa preocupa os governos locais. Custos tão elevados estão provocando fechamentos de muitas empresas, cuja atividade se torna anti-econômica. Além disso, a chegada da temporada fria a partir de setembro vai aumentar o consumo de gás e poderia gerar problemas de desabastecimento.