Questão tributária da Ambev não é o que parece e oportunidade é de compra, diz JP Morgan
Banco se debruçou sobre o relatório distribuído pela CervBrasil, associação de cervejarias, que trata dos benefícios fiscais do setor de refrigerantes
Raquel Brandão
Publicado em 2 de fevereiro de 2023 às 13h38.
A queda de 3,51% registrada ontem pela ação da Ambev (ABEV3) se tornou oportunidade de compra da ação, segundo o JP Morgan. Nesta quinta-feira, 02, as ações estão em alta. Subiam 0,76% até o começo da tarde.
O banco se debruçou sobre o relatório distribuído pela CervBrasil, associação de cervejarias, que apontava um enorme contencioso tributário do setor de refrigerantes. Os analistas do JP Morgan destacam alguns pontos: o primeiro é de que, ao contrário do que dizia originalmente a reportagem do site da Veja, os R$ 30 bilhões mencionados pelo relatório é uma estimativa do potencial de evasão fiscal de todo o setor, acumulado até 2021; e o nome da Ambev nem é mencionado no resumo executivo, tornando-o quase um assunto secundário do relatório. A empresa só aparece com alguma frequência no restante do relatório que descreve o tamanho do setor e seus principais concorrentes.
"Eles também fazem referência a reclamações fiscais de autoridades que estão nos arquivos da empresa", escrevem os analistas, acrescentando que "não há acusações diretas sobre as práticas de governança da Ambev."
O relatório do JP Morgan também lembra que a CervBrasil representa o Grupo Petrópolis e outras cervejarias menores, que são concorrentes da Ambev. A associação criada em 2012 pela própria Ambev, Grupo Petrópolis, Brasil Kirin e Heineken foi mudando de configuração com o passar do tempo. A Heineken comprou a Brasil Kirin e, em 2018, saiu, junto com a Ambev, da CervBrasil. As duas maiores fabricantes do país, com cerca de 80% do mercado, criaram o Sindicerv, que hoje as representa.
A maior parte dos argumentos sobre o que a CervBrasil de práticas ilegais vem de relatórios anuais das autoridades fiscais brasileiras que têm o dever de monitorar a arrecadação de impostos de grandes empresas como a Ambev, diz o JP Morgan. "Pelo que entendemos, algumas dessas reivindicações podem se tornar multas reais a serem contestadas, outras não devido à falta de evidências tangíveis. Conversamos com a Ambev e eles disseram que todas as disputas fiscais são divulgadas em suas finanças."
O banco manteve a recomendação de compra, com preço-alvo de R$16,50. Ontem, o BTG Pactual (do mesmo grupo da EXAME ) também se dedicou ao tema e apontou a reação do mercado como "exagerada", mantendo a recomendação neutra para o papel. Já o Bradesco BBI disse em breve comentário que a discussão sobre os benefícios fiscais do setor de refrigerantes na Zona Franca de Manaus é tema antigo.