EUA: vitória de Trump poderá fortalecer ainda mais o dólar (Anna Moneymaker/AFP)
Repórter de finanças
Publicado em 15 de julho de 2024 às 16h30.
Última atualização em 15 de julho de 2024 às 17h14.
Trump já era o favorito, mas o ataque a tiros ao ex-presidente Donald Trump aumentou as apostas em sua vitória nas eleições presidenciais deste ano dos Estados Unidos. Antes do atentado, o mercado precificava 55% de chance. Momentos após a tentativa de assassinato, o número saltou para 70%. Mas, afinal, quem perde e quem ganha no mercado com a possível eleição? Alguns ativos, como o título de 10 anos do Tesouro americano, o dólar e as bolsas americanas, já sentem os reflexos.
O número trata-se do mercado de apostas, como enfatiza William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, e não do mercado “real” de pesquisas com eleitores. No entanto, ele diz que, sim, o atentado coloca um peso na vitória de Trump visto os últimos acontecimentos. “De um lado você tem um candidato que toma um tiro e se levanta com o punho cerrado. Do outro, você tem um que confunde nomes, tropeça e tem dificuldade para falar. A discrepância começa a ficar muito grande.”
Caso a vitória de Trump se concretize em novembro, o mercado irá acompanhar, principalmente, a trajetória dos juros e da inflação. Isso porque, segundo Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad, Trump traz em seus discursos uma postura mais protecionista, como o desejo por tarifas mais fortes sobre as importações. O movimento, por sua vez, poderia aumentar os custos ao produtor e se refletiria em uma pressão inflacionária, o que também dificultaria o movimento de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA).
Gabriel Giannechini, sócio e portfolio manager da Gauss Capital, relembra que em 2016, quando o cenário era outro e Trump não era o favorito, o choque de preços causado pela vitória foi muito concentrado nos primeiros dias após a eleição. Já nesta, vem sendo diluído ao longo do tempo.
“O resultado disso é que vemos as taxas americanas em níveis elevados, principalmente na parte mais longa da curva, devido às políticas propostas por ele resultarem em um ambiente mais inflacionário”, pontua. Essa possibilidade de maiores pressões inflacionárias pôde ser vista logo nas primeiras horas desta segunda-feira, quando o título de 10 anos do Tesouro americano subiu de 4,18% para 4,24%.
As bolsas americanas, por hora, não apresentam grandes movimentações decorrentes do atentado. Segundo Pablo Spyer, sócio XP e CEO Vai Tourinho, somente o aumento nas apostas da vitória de Trump não deve impactar fortemente a bolsa no momento.
“Ao meu ver, continuamos no mesmo cenário”, diz. Entretanto, em um futuro, Spyer cita que o protecionismo de Trump pode favorecer alguns setores com a redução dos impostos. Mas, do outro, caso as pressões inflacionárias resultem em juros mais altos, as empresas mais sensíveis a custo de capital poderiam ser prejudicadas.
Em relação aos setores favorecidos, o estrategista-chefe da Avenue, comenta que o setor de petróleo, energia e as small companies, que são mais atreladas ao desempenho da economia americana em si, poderiam se beneficiar, já que Trump traz uma ideia de Make America Great Again. “Trump poderia eventualmente priorizar as empresas americanas no cenário competitivo, isso tende a ser melhor para as pequenas companhias em especial.”
Ainda seguindo na linha dos reflexos do protecionismo de Trump, o dólar se fortalece. O Índice DYX nas primeiras horas de negociação subiu de 104,07 pontos para 104,20 pontos no dia seguinte ao atentado. O dólar comercial nesta segunda-feira também sobe frente ao real.
Com relação ao doméstico, juros futuros americanos mais pressionados e dólar alto não beneficiariam o Ibovespa, segundo os analistas. Entretanto, Giannechini afirma que a bolsa brasileira poderia surfar na apreciação dos índices de ações americanos. Mas, para todo esse cenário acontecer, além da vitória de Trump, é necessário ver como que essas políticas vão se conjecturar no Congresso e se Trump vai conseguir executar as propostas que deseja.