Bolsas de valores: mercados internacionais operam em forte queda na manhã desta segunda-feira, 5 (Kazuhiro NOGI /AFP)
Repórter de finanças
Publicado em 5 de agosto de 2024 às 09h19.
Última atualização em 5 de agosto de 2024 às 17h17.
Os mercados internacionais começaram esta segunda-feira, 5, em clima de grande cautela com investidores temendo que os Estados Unidos passem por uma recessão. O resultado é a disparada do índice VIX, que chegou a subir 181% pela manhã e fechou em + 61,31%. A alta do VIX indica que o mercado está esperando uma grande volatilidade nos próximos 30 dias, explicam os especialistas. O movimento, inclusive, afetou o Ibovespa, que caiu mais de 2% no início da sessão, mas recuperou parte das perdas e fechou em - 0,48%.
Joao Lucas Tonello, analista CNPI da Nomos, explica que essa queda dos mercados asiáticos afeta diretamente os mercados emergentes, devido ao 'risk off'. Isso porque quando os investidores estão menos dispostos a correrem riscos, o fluxo global é direcionado para os países desenvolvidos. “Dessa forma, o Brasil não ficará de fora de grandes quedas durante o pregão.”
No Japão, logo no começo da sessão, as negociações foram interrompidas devido às quedas acentuadas nas ações. O movimento não conseguiu amenizar as perdas e os principais índices Nikkei 225 e Topix fecharam em queda de mais de 12%. Na Europa e nos Estados Unidos, os principais índices também recuaram fortemente. No pré-mercado, o índice futuro da Nasdaq chegou a cair 6,5%.
O tombo nas bolsas do Japão e a necessidade de interromper as negociações é uma somatória de muitos fatores: aumento dos juros pelo Banco do Japão (BoJ), dados do payroll (relatório de emprego) abaixo do esperado nos Estados Unidos e manutenção de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) - sendo que os últimos dois se unem para criar um temor em relação a uma recessão da economia americana.
Na semana passada, o BoJ elevou sua taxa de juros de 0,10% para 0,25% ao ano, o que tornou o cenário econômico do país ainda mais incerto, segundo Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital. A taxa, embora pequena, é a maior desde 2008, o que também ajuda a migrar o fluxo de capital de renda variável para renda fixa.
“Embora a taxa ainda seja bem baixa, os investidores do Japão ficaram boa parte dos últimos anos com taxa negativa ou zero, então dá para entender o porquê da saída da renda variável para renda fixa", acrescenta Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Já os números do payroll mostraram que o mercado de trabalho nos Estados Unidos desacelerou mais do que o previsto. Em julho, o país criou 114 mil vagas de emprego, quase metade do que em junho, quando foram adicionados 206 mil novos postos no país. A expectativa de economistas ouvidos pela agência Reuters era de 175 mil novos empregos. A taxa de desemprego também surpreendeu, ficando em 4,3%, maior nível desde outubro de 2001, enquanto as projeções apontavam que ela se mantivesse em 4,1% igual a junho.
“A taxa de juros dos EUA também não foi cortada, o que acabou pressionando a economia americana. Temos apenas mais três reuniões no ano e com a forte queda do número de empregos, teremos então uma possível recessão nos EUA. O motivo? O dado que pode indicar uma crise é justamente o de vagas de empregos. Então o cenário global está com medo de uma recessão nos EUA”, explica Tonello.
Gabriela Joubert, estrategista chefe do Inter, acrescenta que os investidores questionam que talvez o Fed esteja demorando demais para cortar os juros.
Além da alta de juros do BoJ, há outros fatores locais que também pesam no mercado acionário do Japão. Yuri Alves, economista da Guide Investimento, explica que o iene vem se valorizando devido às intervenções do BoJ e à elevação da taxa de juros.
Como a moeda japonesa é conhecida por ser usada em operações de carry trade (estratégia que consiste em investidores tomarem dinheiro de um país com taxa de juros baixos para aplicá-lo em outro país com taxa de juros maior), quando a taxa de juros aumenta, há um encarecimento do custo desse capital.
Consequentemente, isso afeta o mercado japonês porque quanto mais depreciado estava o iene, melhor era para os traders fazerem esse tipo de estratégia, explica Alves. Com os temores de que os investimentos financiados por um iene barato estão sendo desfeitos, a moeda japonesa atingiu, nesta segunda-feira, o maior nível em relação ao dólar desde janeiro. Na máxima do dia, o iene chegou a subir 3,17%. O movimento impacta diretamente o real, porque a moeda brasileira também é visada para fazer carry trade.
Joubert também cita que o sell-off (onda vendedora) no Japão também é, em certa parte, uma realização de lucros. Como o Nikkei estava nas máximas nas últimas semanas, os investidores aproveitaram para colocar no bolso os lucros dos últimos anos.