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O que esperar da temporada de balanços do 3º tri?

Empresas mais expostas ao mercado interno devem mostrar mais resiliência enquanto cenário externo pressiona o setor de commodities

Balanços: Temporada de divulgação dos resultados do terceiro trimestre ganha tração (Germano Lüders/Exame)

Balanços: Temporada de divulgação dos resultados do terceiro trimestre ganha tração (Germano Lüders/Exame)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 26 de outubro de 2022 às 07h06.

Última atualização em 31 de outubro de 2022 às 08h35.

Nesta semana, mais uma temporada de balanços das companhias abertas começa a ganhar tração, com balanços da Klabin (KLBN4), CSN (CSNA3), Vale (VALE3) e Ambev (ABEV3) sendo divulgados entre hoje, 26, e sexta-feira, 28. Mas o que esperar dos resultados das empresas no terceiro trimestre?

Para gestores ouvidos pela Exame Invest, a fotografia do trimestre deve ser levemente mais positiva, especialmente para as empresas mais expostas à economia doméstica. Entre julho e setembro, a inflação deu sinais de retração, dando algum fôlego à economia doméstica, que também se beneficiou de números melhores de emprego. No período, o governo federal também começou o pagamento maior do Auxílio Brasil, elevando o valor para R$ 600.

Mas a indicação, segundo gestores, é de que ganhos de receita continuarão sendo mais expressivos do que as melhorias de margens, que continuam pressionadas.

"A economia esse trimestre foi 'ok'. A atividade doméstica tende a ser relativamente boa, enquanto as empresas de commodities devem ter resultado ruim, devido ao cenário global", diz Leonardo Rufino, gestor de renda variável da Mantaro Capital. "Espero resultados ainda impactados por inflação, com pressão de margens e demanda melhor do que esperado, mas abaixo do patamar que o país precisa", diz Sergio Goldman, da Esh Capital. No consumo e varejo, porém, Goldman vê preocupação em relação aos índices de inadimplência.

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Do lado dos analistas de mercado, o chamado "sell side", a expectativa é de que as empresas de consumo tenham conseguido repassar preços e as margens fiquem ao menos mais estáveis para a maioria das companhias, embora ainda haja pressão de custos. "Em contraste com as tendências observadas no primeiro semestre do ano, durante o terceiro trimestre as empresas pareciam ter finalmente sido capazes de repassar os custos crescentes aos consumidores", escreve Aline Cardoso, estrategista institucional de ações para Brasil do Santander.

Levantamento da XP Investimentos mostra que, em relação ao mesmo período de 2021, o mercado espera um crescimento do lucro por ação das empresas do Ibovespa em 19%, "provavelmente explicado pela recuperação no cenário doméstico e a maior capacidade de repasse da inflação aos consumidores", segundo os analistas. Já em relação ao Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), o mercado espera 25% de crescimento, com a receita avançando 23%. "Por fim, em relação ao trimestre anterior, o mercado espera certa estabilidade em receita e Ebitda."

Vale/ siderúrgicas

Investidores esperam por balanços mais fracos para a mineração e siderurgia no trimestre, com os resultados sendo pressionados pela queda de preços no setor. A projeção do Bank of America (BofA) é de que os embarques da Vale (VALE3) tenham crescido 5% na comparação anual. “No entanto, o menor preço do minério de ferro deve compensar o melhor volume, já que o benchmark caiu 25% na comparação trimestral”, afirmou o banco em relatório.  A estimativa do Goldman Sachs é de que o Ebitda da Vale fique em US$ 4,5 bilhões no trimestre contra US$ 7,109 bilhões do mesmo período do ano passado.

A expectativa é ainda mais pessimista para as siderúrgicas. O Ebitda de todo o setor, segundo o BofA, deve ter queda de dois dígitos. O pior resultado, de acordo com o banco, deve vir da Usiminas (USIM5), com estimativa de contração de 66% em relação ao Ebtida do segundo trimestre.

Petrolíferas/ distribuidoras

O setor de petróleo também passou por queda de preços, que ficaram distantes das máximas do primeiro semestre. O consenso é de que as petrolíferas brasileiras apresentem lucro, receita e ebitda levemente abaixo do segundo trimestre, mas significativamente acima do registrado no mesmo período do ano passado.

O que deve compensar, especialmente para as petrolíferas privadas, é o maior nível de produção no trimestre. Um dos destaques nesta frente deve ser a PetroRio (PRIO3), que apresentou aumento de 37% em relação ao trimestre anterior, em prévia operacional. O Credit Suisse espera que a empresa apresente crescimento de Ebtida de 137% na comparação anual e queda de 5% frente ao segundo trimestre. “A PetroRio provavelmente apresentará outro forte resultado, frutos de uma execução sólida em meio a um forte impulso dos preços do petróleo.”

Bancos

Levantamento feito pelo Bank of America junto a investidores mostrou que o mercado espera que o Santander (SANB11) apresente o pior resultado do setor no trimestre. A pesquisa também apontou que há maior chance de o Bradesco (BBDC3) ter que revisar seus guidances. Ambos os bancos, segundo analistas do BofA, devem reportar margens financeiras especialmente apertadas com o mercado.

Já o maior otimismo do mercado, de acordo com o levantamento do BofA, é sobre o resultado do Itaú (ITUB4). Mais de 50% dos investidores entrevistados apontou que o banco deve apresentar o melhor resultado do setor. O Banco do Brasil (BBAS3) ficou em segundo e o BTG Pactual (BPAC11, do mesmo grupo controlador da Exame) em terceiro no ranking.

Construtoras/ shoppings

Analistas do Itaú BBA esperam por resultados fortes por parte das incorporadoras no terceiro trimestre. A expectativa da casa é que os números do setor possam surpreender positivamente o mercado “à medida que as empresas adotam uma postura mais conservadora em relação à inflação projetada e os custos [da construção] começam a diminuir”. O cenário, segundo relatório do Itaú BBA, é oposto ao de 2021, quando a inflação projetada era baixa e o preço de matérias-primas dispararam.

Embora o juro mais alto seja um dos grandes inimigos do setor, Pedro Serra, analista-chefe da Ativa, ainda não vê impactos significativos nos custos de financiamento. “As construtoras de baixa renda sentem ainda menos, porque o financiamento vem da Caixa, que por ser estatal, também preza pelo lado social. Há um delay entre a alta da Selic e o impacto no financiamento”, afirmou.

Do lado dos shoppings, o BTG Pactual classificou o impacto da alta de juros como um dos principais desafios do setor. Mas a projeção do banco ainda é de resultados robustos para o trimestre. “O EBITDA vem crescendo bem com as vendas dos lojistas disparando. Esse forte desempenho reforçou que o negócio de shoppings é altamente resiliente e que o e-commerce não é uma grande ameaça ao setor.”

Varejo/ consumo

No varejo discriocionário, como o de vestuário e calçados, por exemplo, a equipe do BTG Pactual ainda vê melhor desempenho das companhias mais expostas às classes de alta renda, como Soma (SOMA3) e Arezzo (ARZZ3). "Embora desacelerando em relação ao ano anterior trimestres, como esperado". O banco espera que a Renner (LREN3) veja avanço de 12% no faturamento ante o terceiro trimestre de 2021 e de 37% na comparação pré-pandemia, mas a margem Ebitda ainda deve ser menor do que em 2019. A Vulcabras (VULC3), de calçados esportivos, deve seguir crescendo, com aumento de 21% das vendas puxada pela Mizuno. Já o Grupo SBF (SBFG3), dona da Centauro, deve apresentar receita líquida com queda de 1% na base anual e seguir com margens pressionadas.

Para a empresa de beleza Natura &Co (NTCO3), o banco Santander espera que os resultados permaneçam fracos devido ao cenário macro desafiador para muitas das unidades de negócios da companhia, especialmente na Europa. A expectativa é de queda de 4,9% na receita líquida e novo prejuízo líquido no trimestre.

No varejo alimentar, a perceção dos analistas é de que os resultados seguirão fortes, mas em desaceleração contra o segundo trimestre, com vendas pressionadas pelo recuo da inflação. Na semana passada, o Assaí (ASAI3) registrou lucro de R$ 281 milhões, uma queda de 47,8% na comparação com os três meses do ano passado, mas um avanço de 29% na receita líquida, para R$ 13,8 bilhões. As vendas em mesmas lojas cresceu 9% enquanto os números operacionais do concorrente Atacadão, divulgados nesta terça-feira, 25, mostraram avanço de 10,5% no mesmo indicador. Para a XP, o segmento de farmácias também deve demonstrar resultados fortes e até melhoria nas margens, mas em ritmo menos intenso do que no segundo trimestre, quando houve reajuste de preços de medicamentos.

No e-commerce, a XP diz o crescimento será pressionado e a queima de caixa continuam. "Esperamos que o varejo físico continue a se recuperar, enquanto o on-line deve continuar desacelerando por conta do cenário macro, base de comparação difícil e normalização do mix de canais." A visão é similar à da equipe do BTG Pactual, que diz que o ritmo de recuperação será fraco em comparação aos trimestres recentes, especialmente para os segmentos discricionários e aqueles em que a inflação desacelerou recentemente. "Ao todo, esperamos que o GMV [sigla em inglês para vendas brutas] on-line combinado para Mercado Livre (MELI), Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Via (VIIA3) cresça 3% na base anual, versus expansão de 9% na base anual do segundo trimestre."

Saúde

Para o BTG Pactual, os aumentos de preços ainda não salvarão os resultados do setor. "Esta temporada de resultados deve ser ditada pelos mesmos desafios (maiores custos trabalhistas, alta inflação de custos, retomada de procedimentos eletivos, mix menos favorável de clientes), o que significa que o tíquete médio estará ainda mais em destaque para operadoras e hospitais", escreve o banco.

Segundo a equipe, a sazonalidade do terceiro trimestre deve garantir taxas de ocupação e volumes diários de pacientes decentes para os hospitais. Mas ainda há um baixo crescimento do tíquete médio neste trimestre, impactado por recentes fusões e aquisições e negociações atrasadas com planos de saúde, o que significa que as margens dos hospitais ficarão novamente abaixo dos padrões históricos. Para as operadoras de saúde, os índices de sinistralidade devem permanecer bem acima dos níveis pré-pandemia.

O Goldman Sachs considera uma "leve aceleração trimestral" no crescimento orgânico da Hapvida (HAPV3), auxiliado pela maturação do seu produto nacional e uma dinâmica competitiva mais benigna. "Por outro lado, estamos incorporando um cenário de lucratividade mais desafiador daqui para frente - prevemos reajustes salariais acima do esperado para pesar no custo, o que será parcialmente compensado pelos efeitos benignos da menor frequência de Covid e reajustes de preços para contratos individuais que continuam."

Para a XP, no grupo Fleury (FLRY3) a receita deve crescer 9% ante o mesmo período de 2021, principalmente devido a aquisições, compensando a queda de relevância dos testes de Covid-19. "Estimamos que a margem Ebitda permaneça estável tanto na comparação trimestral quanto na anual, com o impacto positivo de um leve aumento de alavancagem operacional sendo compensado por aquisições recentes, as quais ainda estão em processo de integração."

Educação

No setor de educação, o ensino a distância (EaD), que tanto cresceu, começa a perder tração. Para os analistas do BTG Pactual, a captação de novos alunos será "razoável" no segundo semestre para alguns nomes, como Cogna (COGN3), Anima (ANIM3), Cruzeiro (CSED3) e Vitru, mas números fracos para YDUQS (YDUQ3) e Ser Educacional (SEER3). Também haverá fraca capacidade de precificação, principalmente no segmento EaD e os desempenhos de margem serão variados, com melhorias para Cogna e Cruzeiro do Sul, mas pior alavancagem operacional para o resto do setor. "Como os balanços continuam fortemente alavancados, as taxas de juros mais altas devem pressionar o lucro líquido dos principais nomes de nossa cobertura."

Turismo e transportes

Para o setor de aéreas, na bolsa brasileira representado por Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), os analistas da XP Investimentos esperam ver alguma recuperação. No caso da Azul, a expectativa é de uma receita líquida sólida como uma combinação de bons indicadores de demanda, além de preços unitários continuamente mais altos. O custo de combustível por quilômetro voada também deve ficar estável à medida que a inflação de custos começa a diminuir. "Nesse sentido, prevemos uma margem Ebitda em 20%. Dito isso, o lucro líquido deve ser pressionado mais uma vez pelos resultados financeiros", escrevem.

Para Gol,  eles preveem melhora de demanda e rentabilidade, com receita líquida de R$ 3,8 bilhões, ou seja, um salto de 99% na base anual e 18% ante o segundo trimestre. "Em relação à rentabilidade, esperamos uma margem Ebitda de 15%, seguindo a normalização contínua dos preços dos combustíveis. Por fim, as despesas financeiras ainda devem pressionar o resultado líquido da empresa."

Já a locadora de carros Localiza (RENT3), que comprou a Unidas, deve ter resultados "relativamente positivos em relação ao seu principal par Movida (MOVI3)", segundo eles. Isso porque sua margem Ebitda do negócio de Seminovos se normaliza mais gradualmente, e a administração muda a estratégia para uma maior adição da frota líquida no trimestre. A previsão da XP para o trimestre da Localiza é de receita líquida de R$5,9 bilhões, enquanto a Movida deve ter R$ 2,53 bilhões de receita.

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