Luis Stuhlberger, sócio e gestor da Verde Asset vê pontos positivos na bolsa brasileira apesar do risco fiscal (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 25 de novembro de 2020 às 21h45.
Última atualização em 26 de novembro de 2020 às 10h45.
O desequilíbrio fiscal do Brasil tem tirado o sono dos investidores do mercado doméstico. Com os gastos impulsionados pela pandemia, o governo deve fechar 2020 com um déficit de 844,6 bilhões de reais segundo as últimas estimativas do Ministério da Economia. Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset Management e um dos gestores mais respeitados do mercado brasileiro, não foge à regra dos que estão preocupados com as finanças públicas no vermelho, mas ele prefere enxergar a situação sob outro ponto de vista.
“O mercado não deve ficar excessivamente pessimista com a bolsa. Temos no país um cenário muito positivo de juros baixos e curva inclinada. E isso é algo que o Brasil nunca teve”, disse. O gestor vê a inclinação na curva com bons olhos porque ela empurra o investidor para prazos mais longos e incentiva o investimento produtivo. “Já a Selic em baixa coloca para trabalhar o dinheiro que esteve no aplicado no CDI (renda fixa)”, completou.
A Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, está atualmente em sua mínima história de 2% ao ano. No entanto o Banco Central já começou a sofrer alguns questionamentos para aumentar a taxa como medida de controle da inflação. O IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial do país, ficou em 0,81% em novembro, a maior taxa para o mês desde 2015 e segunda maior variação mensal do ano, perdendo apenas para o percentual registrado em outubro.
“Não é uma decisão fácil para o Banco Central manter os juros nesse nível, precisa de muita coragem. Isso porque a inflação está aparecendo muito forte nos alimentos e nos produtos industriais. Ainda assim, não é uma situação ruim o suficiente para justificar uma saída da bolsa para a renda fixa”, avaliou o experiente gestor.
Stuhlberger participou nesta quarta-feira, 25, de evento promovido pela InfoMoney e pelo Stock Pickers sobre como os mercados devem se comportar após a crise causada pela pandemia de covid-19. Luiz Parreiras, gestor de estratégia multimercados e previdência da Verde, também participou do painel e destacou o ceticismo que ronda o setor, principalmente nos mercados de juros longos.
“Existe uma dúvida se o Brasil vai voltar para os patamares pré-pandemia ou para o cenário antes de 2016, em que as taxas de juros subiam para financiar a dívida e conter a inflação. Porém nosso papel como gestor de patrimônio não é ficar preso ao pessimismo”, argumentou.
Para o cenário externo a perspectiva é mais positiva, impulsionada pela proximidade de uma vacina efetiva contra a covid-19 e pela transição de governo dos Estados Unidos. Stuhlberger vê com bons olhos a junção entre a vitória do democrata Joe Biden e a permanência de maioria republicana no Senado. “O cenário não poderia ser melhor. Sai de cena a política humana negativa de Donald Trump e Biden entra sem o ímpeto e o poder para aumentar impostos. Além disso, apostamos nos incentivos que ainda serão dados em pacotes fiscais no futuro”. O gestor não descarta a existência de riscos, mas mantém aposta firme no crescimento do mercado americano.