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Médica e gestora: as lições do pai (e as próprias) que Isabella Tanure quer levar para a Alliança

Ex-Alliar, empresa busca reestruturação, com o desafio de crescer operacionalmente enquanto reduz sua alavancagem

Isabella Tanure: experiente na gestão de empresas de saúde, médica viu oportunidades na Alliar (Leandro Fonseca/ EXAME/Site Exame)

Isabella Tanure: experiente na gestão de empresas de saúde, médica viu oportunidades na Alliar (Leandro Fonseca/ EXAME/Site Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 6 de agosto de 2023 às 12h46.

Última atualização em 6 de agosto de 2023 às 17h19.

Isabella Tanure nasceu e cresceu em um ambiente marcado por discussões sobre negócios, empresas e investimentos. Seria o caminho óbvio seguir nesse mundo. A carioca, porém, se sentia atraída pelo universo da saúde e foi estudar medicina na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Mas, como ela mesma define, o ditado popular falou mais alto: o fruto não cai longe da árvore. "Eu sentia que meu lugar na saúde não seria clinicando, mas com algo na gestão", diz em entrevista à EXAME Invest.

Hoje, depois de uma década à frente de negócios de medicina diagnóstica no Rio em sociedade com outros médicos, a filha do empresário Nelson Tanure é também vice-presidente do conselho de administração da Alliança (ex-Alliar), da qual o fundo da família é acionista controlador, com 63,3% do capital. A empresa, agora, caminha com sua oferta pública de aquisição de ações, depois de conseguir o aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) após negativas. A Alliança hoje é avaliada em R$ 2,87 bilhões.

A gestão dos negócios de saúde no Rio pela médica foi o que despertou o interesse de Nelson Tanure para o setor. Assim, já de olho em ampliar sua atuação nesse meio, Isabella indicou ao pai a chance de entrar na Alliar, em 2021, quando o fundo Pátria estava deixando o negócio, vendendo uma fatia de 21,14%. Depois disso, uma longa negociação aconteceu com o bloco de controle e uma batalha se formou com outros acionistas, o que até mesmo levou Tanure à Justiça contra Vladimir Timerman, sócio fundador da Esh Capital, que era um dos minoritários. Negociação concluída,  em agosto de 2022 o fundo Fonte de Saúde, dos Tanure, ficou com o controle, mas teve de lançar a OPA. "Eu e meu pai temos cabeças muito parecidas. Essa coisa da resiliência e esse histórico dele de não olhar para o óbvio. Acho que herdei isso dele", diz a médica.

De olho na operação, Isabella segue planos para expandir a Alliança. Acompanha de perto o dia a dia da companhia, hoje sob o comando executivo de Pedro Thompson, que teve passagens pela Deloitte, Grupo Estácio e BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME). O passo mais recente nessa frente foi a aquisição do Cepem, uma rede de medicina diagnóstica volatada para a saúde da mulher, no Rio de Janeiro. Antes disso, já tinha colocado o pé em território fluminense ao comprar a ProEcho, de cardiologia. Assim, o Rio de Janeiro passou a ser um dos quatro maiores mercados da empresa, junto de São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

“Víamos que a empresa tinha muitas oportunidades, mas não estava crescendo", conta Isabella.  Ao fim de 2022, ano em que os Tanure levaram o controle da empresa, a receita bruta caiu 2% enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ficou 30% menor, a R$ 183 milhões. Com esse cenário, a empresa terminou o ano bastante alavancada, a 4,6x . Ao fim do primeiro trimestre deste ano, a receita bruta já mostrava melhora, avançando 11% ante o mesmo período de 2022 e o Ebitda ficou 36%, na mesma base de comparação, o que já permitiu uma redução - ainda que pequena - da alavancagem para 4,5x. Os números do segundo trimestre serão divulgados na quinta-feira, 10.

"Eu escolhi o Pedro e ele montou sua equipe muito com foco em estruturação. Nosso capital humano é o nosso grande ativo, porque, como eu digo, a Aliança é como um recomeço", diz Isabella. De acordo com ela, um dos problemas que se tinha na empresa era ter muitos negócios e muitas marcas que não se falam, não tinham troca entre si. "Cada negócio ficava com seu sócio local fazendo a gestão própria. Não havia um ganho de escala, nem energia, nem protocolo", explica. Algumas coisas foram mudando. Ao mesmo tempo que a gestão ficou mais centralizada, com protocolo formalizado e unificado, o atendimento ao cliente ficou mais regional. Os call centers para marcação de exames ficaram nas unidades de operação, "porque o cliente da Bahia queria ouvir o seu sotaque", explica a médica. Ferramentas tambem entraram como agendamento por WhatsApp.

Mas havia bons caminhos abertos. Entre as oportunidades vistas pela médica-gestora estavam, além da capilaridade (hoje, o grupo está em 15 Estados), operações bastante diferentes do que se vê no setor. Uma delas era o cartão de benefícios, que dava desconto em exames pela rede do grupo, mas também em farmácias e serviços de educação. Atualmente, são cerca de 30 mil CPFs cadastrados. Outra frente é das parcerias público privadas. O grupo já mantinha atividades nesse modelo na Bahia, quando os Tanure chegaram, mas o plano é ampliar. São 12 hospitais que atendem ao sistema público em que a Alliança opera por meio de PPP serviços de medicina diagnóstica.

"A gente ampliou desde a nossa entrada e já ganhou mais quatro hospitais. Agora estamos com um aditivo para mais um hospital e, recentemente, ganhamos a licitação para mais uma PPP em Rondônia", conta. "É rentável para nós, e para o Estado é maravilhoso, porque a gente sabe eles estão entregando para população o atendimento de qualidade", diz, destacando o NPS (métrica de avaliação atendimento ao cliente) de 95 nas atividades na Bahia. "Vai chamar atenção de outros Estados, é algo que está na pauta".

Operando à distância e se consolidando

Uma atuação que mais chamou atenção da visão empresarial da médica foi o IDR, a healthtech do grupo que opera remotamente cerca de 120 máquinas de alta performance. Por meio de câmeras, o médico especialista consegue, de longe, ver se o paciente está bem posicionado para o exame e orientar o técnico na captura das imagens do exame, por exemplo. Recentemente, fecharam um contrato em Tocantins. De São Paulo, os médicos conseguem comandar o maquinário enquanto os técnicos de lá são orientados no atendimento aos pacientes.

Além disso, a healthtech usa inteligência artificial para elaborar os laudos, trabalhando os dados a que tem acesso. "Estamos com duas parcerias com empresas de Israel. Sabemos que esse é o futuro na saúde. A inteligência artificial não vai substituir o médico, mas com certeza é uma ferramenta que vai ajudar muito", argumenta. "Quando eu estava pesquisando a Alliar, essa foi uma coisa que me chamou atenção. Não estava fazendo mais do mesmo."

O setor passou por um ritmo acelerado de aquisições, o que Isabella ainda vê como uma realidade para o setor. "É uma tendência, principalmente para radiologia, que tem muitos grupos pequenos, que não aguentam já que a sinistralidade das operadores e altíssima e repassada", observa. Por isso, segundo ela, a pauta principal no grupo ainda é essa: crescer e se restruturar. Como foi com as aquisições recentes, feitas todas pelo fundo de Tanure para não pressionar mais a alavancagem da empresa. "Desde a nossa entrada nossa palavra de ordem é crescer e reestruturar. A gente quer entrar em áreas do Brasil onde a gente não está, quer levar acesso à saúde para mais pessoas, para mais brasileiros. E isso por meio de aquisições, mas também de crescimento orgânico", afirma. 

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