Lager ou stout: cerveja reforça o holofote com volta de grandes eventos e datas festivas (Anne-Marie Caruso/NorthJersey.com/USA Today/Reuters)
Marcelo Sakate
Publicado em 17 de março de 2022 às 06h35.
Última atualização em 20 de março de 2022 às 14h43.
Depois de dois anos de pandemia, consumidores de cerveja no Brasil e em diferentes países comemoram nesta quinta-feira, dia 17, o St. Patrick's Day, ou Dia de São Patrício. Trata-se de uma das datas de maior consumo de cerveja no mundo.
A indústria de cervejas foi severamente impactada pelas medidas de restrição à circulação adotadas no primeiro ano de pandemia. A redução do consumo fora de casa, em bares e restaurantes e também em eventos esportivos e festivais, não chegou a ser compensada pelo aumento da demanda nas residências, mesmo com o advento de plataformas digitais.
A recuperação em volume veio com força em 2021 e deve ter continuidade em 2022, desta vez com aumento de preços. As vendas de bebidas alcoólicas nesta semana do St. Patrick's Day devem ser de 5% a 15% maiores do que no mesmo período de 2019 -- ano pré-pandemia -- no mercado americano, segundo projeções da empresa de inteligência em consumo Catalina. Esse crescimento será liderado pelas vendas de cervejas.
As vendas da cerveja stout mais famosa do mundo, a irlandesa Guinness, subiram 30% no Reino Unido no segundo semestre de 2021 na comparação com o mesmo número do ano anterior, segundo números da Diageo, gigante global dona da marca. Uma das razões apontadas foi a reabertura dos pubs na Inglaterra e na Irlanda, na medida em que uma latinha aberta em casa nem de longe se compara com um pint tirado na torneira do bar.
As vendas de cervejas da Diageo na Europa subiram 44% no período, sendo um dos motores de crescimento do grupo, junto com a tequila e o whisky. Como um todo, as vendas da companhia subiram 16% no primeiro semestre do ano fiscal de 2022, com forte expansão orgânica e desempenho superior do canal de vendas em bares e restaurantes.
Nos Estados Unidos, segundo pesquisa da Federação Nacional do Varejo, uma em cada cinco pessoas pretende comemorar o St. Patrick's em um bar ou restaurante, o dobro da proporção verificada um ano atrás. Outros 25% disseram ter planos de participar de um evento com muitas pessoas, acima dos 21% na mesma data em 2021.
No Brasil, as perspectivas para o consumo de cerveja são também favoráveis, mas em um mercado mais desafiador. Embora não haja dados específicos sobre a intenção dos consumidores de beber cerveja no Dia de São Patrício, padroeiro da Irlanda, as grandes empresas do setor, como Ambev e Heineken, contam com a retomada de eventos esportivos como jogos de futebol com torcida e festivais como o Lollapalooza e o Rock in Rio para ampliar as vendas.
O desafio, seja aqui ou no exterior, será preservar as margens em um momento de escalada acentuada dos preços de insumos como alumínio -- matéria-prima para latinhas -- e trigo, que é em boa medida importado no Brasil.
Para a Ambev (ABEV3), a expectativa é que a venda em volume de cerveja fique praticamente estável em relação a 2021, mas que o aumento de preços ao consumidor mais do que compense o encarecimento de insumos. A receita por hectolitro (100 litros) deve passar de R$ 336 em 2021 para R$ 370 neste ano, enquanto a margem Ebitda deve recuar de 31,2% para 29%, segundo estimativas de analistas do Credit Suisse.
Em seu balanço do quarto trimestre divulgado no fim de fevereiro, a Ambev revelou que espera um crescimento no Ebitda (lucro operacional) neste ano, depois de recuo de 8% em 2021. Mas, novamente, o resultado deve ser puxado mais pelo aumento de preços ao consumidor do que pela expansão do volume vendido.
"A verdadeira questão continua a ser o quanto de preço a Ambev pode repassar antes que comece a perder market share. Nós achamos que há espaço limitado para surpresas positivas [no resultado] com base no consenso", escreveram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin, do BTG Pactual (BPAC11), em relatório no fim de fevereiro.
A ação da Ambev encerrou a sexta-feira negociada a R$ 13,78, o que implica um upside de 16% em relação ao preço-alvo em doze meses de R$ 16 fixado pelos analistas do banco de investimento. A recomendação é neutra.