Ibovespa fecha em queda com falas de Haddad sobre metal fiscal

Iniciando uma semana agitada para o mercado financeiro, o Ibovespa desta segunda-feira, 30, fechou em queda. No pregão de hoje, investidores repercutiram as incertezas da meta fiscal, além de dados do Boletim Focus, dos aluguéis e do mercado de trabalho no país. Após o fechamento de hoje, novos balanços devem agitar as carteiras de ações. Ainda assim, as expectativas seguem acesas para daqui dois dias, quando a Super Quarta trará as decisões monetárias dos Estados Unidos e do Brasil.

Por aqui, durante a manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou dois novos integrantes da diretoria do Banco Central: Paulo Picchetti, professor da FGV, e Rodrigo Teixeira, funcionário de carreira do BC. Ambos foram escolhidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que passa a ter quatro indicados na instituição. Os nomes ainda serão enviados ao Senado Federal.

Mas para além dos substitutos de Fernanda Guardado e Maurício de Moura no BC, o que realmente mexeu com a bolsa hoje foram os comentários do ministro sobre as declarações feitas pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na última sexta, referente ao déficit zero. Na ocasião, o chefe do executivo afirmou que um déficit de 0,5% ou 0,25% não seria "nada" e ainda reforçou que tomará a decisão "que seja melhor para o Brasil".

Ibovespa hoje

IBOV: -0,68%, aos 112.532 pontos.

"O presidente está constatando problemas de decisões anteriores que devem ser reformadas ou saneadas. Precisamos recuperar a base fiscal do Estado, corrigir a erosão fiscal. Esse foi o sentido do alerta de Lula sobre a meta fiscal de 2024", disse Haddad. Ele ainda afirmou que levou a Lula a informação de que, mesmo com o PIB crescendo acima das projeções de mercado, há um efeito sobre a rentabilidade das empresas que afetam a arrecadação do imposto de renda.

As declarações não foram bem-recebidas pelo mercado e remeteram a um passado recente. “Lembrou bastante aqueles momentos em que o Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda, dizia algo e, depois, a própria presidente Dilma ia contra ele publicamente. Foi a mesma coisa que vimos com o Lula, na sexta-feira, que fez um comentário completamente contra o ministro Fernando Haddad, que depois precisa se explicar sem poder dar informações mais contudentes”, pontua Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. 

Enquanto isso, Marcio Riauba, gerente da Mesa de Operações da StoneX, destaca que, diante da resposta do político, o dólar voltou a ultrapassar a barreira dos R$ 5. "Com isso, a curva de juros futuros seguem alta, diante de uma semana onde provavelmente a aversão ao risco global deve imperar. Até porque, na quarta-feira teremos as decisões de juros tanto aqui no Brasil quanto nos EUA."

Indicadores no radar

Antes do início das negociações por aqui, a Fundação Getúlio Vargas publicou o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), principal indicador da variação dos preços dos aluguéis. Em outubro, houve uma alta de 0,5% frente ao mês anterior — as expectativas eram de um crescimento de 0,54%. Em setembro, a variação positiva havia sido de 0,37% na comparação com agosto. No acumulado do ano, o indicador apresenta um recuo de -4,46%.

Outro número que foi apresentado ao mercado foi o Boletim Focus, pelo Banco Central, que mais uma vez reduziu as estimativas de inflação no Brasil. Nesta semana, a projeção para 2023 saiu de 4,65% para 4,63%. Por outro lado, a taxa de juro para o ano que vem apresentou uma tendência altista. A estimativa da Selic foi de 9% para 9,25%. Na visão do economista André Perfeito, a perspectiva da taxa básica de juros a 9%, para o ano que vem, parece exagerada para baixo. “Neste sentido, mantenho minha perspectiva da taxa básica terminar o ciclo de cortes em 10,75% em 2024.”

Mais tarde, às 14h, foi a vez do Ministério do Trabalho anunciar os números Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) referentes ao mês de setembro. Ao todo foram criados 211,764 mil postos de trabalho com carteira assinada. O número ficou acima das projeções, que apontavam para um total de 208,8 mil empregos, mas 23,83% inferior ao mesmo período do ano passado, quando foram geradas 278 mil vagas. Tanto esses dados quanto os números referentes ao IGP-M são aguardados devido à próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) que na próxima quarta-feira, 1°, definirá a taxa básica de juros por aqui. O consenso é de um corte de 0,50 ponto percentual.

Outra decisão monetária aguardada — pelo mundo todo — é a do Federal Reserve (Fed, banco central americano). Por lá, os acontecimentos das últimas semanas deram um arrefecimento nas expectativas de novas elevações na taxa. No entanto, a manutenção dos atuais patamares é a principal aposta dos investidores. Com os juros fortes por lá, as treasuries seguem como porto seguro dos investidores avessos ao risco.

Commodities hoje

Entre as commodities, o minério de ferro subiu mais de 2% na bolsa de Dalian, na China, encerrando as negociações cotado a US$ 123 por tonelada. De acordo com a Bloomberg, a matéria-prima atingiu a cotação mais alta em cinco semanas depois que a Vale (VALE3) sinalizou tendência de alta para os preços. A mineradora apontou a disposição do governo chinês de apoiar projetos de infraestrutura.

Em contrapartida, o petróleo fechou em queda nesta segunda, visto que a ação militar de Israel na Faixa de Gaza se mostrou mais contida do que o mercado temia. Diante desse cenário, foram reduzidas as preocupações com uma retaliação maior do Irã. Assim, o Brent caiu 3,35%, com o barril cotado a US$ 87,45, e o WTI recuou 3,78%, negociado a US$ 82,31.

Por fim, após o fechamento do mercado serão divulgados os balanços do terceiro trimestre do GPA (PCAR3), Assaí (ASAI3) e Irani (RANI3). No fechamento do pregão, as companhias tiveram queda de 1,19%, alta de 1,89% e baixa de 0,98%, respectivamente. 

Dólar hoje

O dólar hoje fechou em alta. Nesta segunda, a moeda americana subiu 0,67%, a R$ 5,047. Na sexta, o dólar fechou em alta de 0,46%, cotado a R$ 5,013.

Maiores altas do Ibovespa

Entre as altas da bolsa, Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, destaca os ativos ligados à mineração. “Ações do setor se destacaram no Ibovespa, como Usiminas (USIM5) e CSN (CMIN3). Também tivemos a CCR (CCRO3), que o JP Morgan elevou a recomendação de neutro para overweight e o preço-alvo, que era R$ 15,50, passou a R$ 16,00 para o ano de 2024.” 

• Usiminas (USIM5): +4,49%
• CCR (CCRO3): +2,54%
• CSN Mineração (CMIN3): +2,42%

Maiores quedas do Ibovespa

Com a aversão ao risco, os juros subiram e contribuíram para as quedas de empresas ligadas a essa variável. “Queda de empresas na bolsa do setor de consumo, varejo e construção. Com isso, BHIA3, MGLU3, SOMA3 e PETZ3 caíram hoje”, finaliza Cohen.

• Casas Bahia (VIIA3): -6,25%
• Magazine Luiza (MGLU3): -6,16%
• Braskem (BRKM5): -5,47%

Como é calculado o índice Bovespa?

Principal índice de ações da bolsa brasileira, a B3, o Ibovespa é calculado em tempo real, baseado na média do desempenho dessa carteira teórica de ativos, cada uma com seu peso na composição do índice. 

Funcionando como um termômetro do desempenho consolidado das principais ações para o mercado, cada ponto do Ibovespa equivale a 1 real. Por isso, se o IBOV está em 100.000 pontos, isso quer dizer que o preço da carteira teórica das ações mais negociadas é de 100.000 reais.

Que horas abre e fecha a bolsa de valores?

O horário de negociação na B3 vai das 10h às 17h. A pré-abertura ocorre entre 9h45 e 10h, enquanto o after-market ocorre entre 17h25 e 17h30. Já as negociações com o Ibovespa futuro ocorrem entre 9h e 17h55.