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Fundos de ações voltam a ganhar espaço — o que isso significa?

Para Fábio Dall’Acqua, CEO da gestora Neo, o rali da bolsa foi “uma festa que poucos aproveitaram”

Fundo de ações: classe volta a se recuperar com rali da bolsa (Germano Lüders/Exame)

Fundo de ações: classe volta a se recuperar com rali da bolsa (Germano Lüders/Exame)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 2 de dezembro de 2025 às 15h40.

Última atualização em 2 de dezembro de 2025 às 17h37.

O ano não está sendo fácil para o mercado de ações que, de janeiro a julho, subiu apenas 10%, com desempenho inferior à Selic. Aversão ao risco pelas questões fiscais no Brasil, tarifaço, guerras e cenário incerto para eleições de 2026 colaboraram para esse movimento. O resultado é que o patrimônio líquido dos fundos de ações ficaram na casa dos R$ 500 bilhões na maior parte dos meses do primeiro semestre.

De agosto a outubro deste ano, no entanto, o segmento mostrou melhora, voltando para o nível dos R$ 600 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

O que dá fôlego aos fundos de ações é justamente a valorização da bolsa, que também voltou a se recuperar, subindo quase 20% de 31 de julho a 1º de dezembro. O resultado é que o Ibovespa sobe 30% no ano. Com a valorização dos ativos, o patrimônio líquido dos fundos de ações também sobe.

“O estoque, aquilo tudo já investido em fundo, cresceu de preço, se valorizou. Mesmo com uma saída líquida, foi menor do que a valorização. O resultado é que o PL da classe cresceu nos últimos três meses”, afirma Pedro Rudge, diretor da Anbima.

Mas o PL poderia subir mais. Ele é uma composição da valorização da bolsa com a rentabilidade dos fundos — é o que se chama de alpha. Supondo que a rentabilidade média dos fundos de ações foi 35%, como o Ibovespa subiu 30%, essa diferença de 5% é o alpha. Isso também ajuda na valorização dos fundos.

“Sem a performance a indústria teria contraído. O alpha potencializou o número do Ibovespa”, afirma Fábio Dall’Acqua, sócio responsável pela área de relações com investidores da Neo Investimentos, que tem R$ 4,5 bilhões de ativos sob gestão.

Captação negativa

Os fundos, portanto, poderiam ter subido mais se não fosse a captação líquida do ano, que ficou negativa em oito de 10 meses. “Mas como estamos começando a ter perspectiva de queda de juros, a gente imagina que esse movimento de saída de recursos tende a ser alterado”, diz Pedro Rudge, diretor da Anbima.

Segundo o executivo, a Selic elevada, em 15%, drena os recursos das ações para a renda fixa. “Alocadores no geral estão com uma exposição em bolsa muito baixa. Historicamente a mais baixa dos últimos anos”, aponta.

Para se ter ideia, as fundações que alocam em fundos de ações, em 2020, chegou a bater 12,9%. Agora, está em 3,4%.os bancos, em 2020, estavam em torno de 6% e hoje está em 3,4%, mostrando grandes contrações, segundo números da Anbima compilados pela Neo.

À medida que tem menos incerteza e menor aversão a risco, esse movimento se inverte: terá uma migração de renda fixa para renda variável, o que pode colaborar mais ainda para a valorização do patrimônio líquido dos fundos de ações.

Número de contas recua

A explicação de que o rali da bolsa foi o que impulsionou os fundos de ações pode ser checada com o número de contas: não há mais investidores investindo em fundos de ações. Muito pelo contrário, o número é o menor desde dezembro de 2019.

“Aqui também tem a educação financeira. Em mercados mais desenvolvidos, vemos que, em momentos de maior incerteza, os investidores diminuem a alocação em ativos mais arriscados, mas não zerarem. No Brasil, a gente acaba indo de um lado ou para outro de uma maneira muito aprofundada. É um ‘pêndulo’”, diz Rudge,

Para Daniel Utsch, gestor de renda variável da Nero Capital, gestora com mais de R$ 500 milhões sob gestão, diz que apesar da perspectiva de alívio na política monetária, a pessoa física só muda de investimento após ver materializado o retorno. “Na hora que o dinheiro da renda fixa tiver rendendo talvez menos de 1% ao mês.”

A resultante é que o local ainda segue receoso e o que impulsionou a bolsa foi o investidor gringo, que passou a questionar o excepcionalismo americano, e começou a diversificar seu portfólio, levando capital para países emergentes, como Brasil, Colômbia, México, Peru e Áfria dao Sul.

De acordo com levantamento da Elos Ayta Consultoria, até o fim de outubro de 2025, os investidores estrangeiros acumulavam entrada líquida de R$ 25,94 bilhões na B3, considerando aportes em IPOs e follow-ons.

Sem esses eventos, o saldo ainda é robusto: R$ 25,29 bilhões positivos. O número representa uma reversão completa do cenário de 2024, quando houve retirada líquida de R$ 24,2 bilhões.

O rali não mente: o PL dos fundos de ações se valorizou e Dall’Acqua, descreve a alta como "uma festa que poucos aproveitaram". Entretanto, quando corrigida pela inflação e quando observada em dólares, a bolsa ainda está longe do seu pico; por isso, há potencial de valorização — o que elevaria ainda mais os fundos de ações.

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