Moderna: "Eu acreditava que eles poderiam ser uma daquelas empresas realmente únicas, que fazem a ponte entre a biotecnologia e a tecnologia", disse a gestora do fundo (Dado Ruvic/Reuters)
Karla Mamona
Publicado em 7 de dezembro de 2020 às 14h50.
Última atualização em 7 de dezembro de 2020 às 15h44.
Um fundo de saúde da Baillie Gifford & Co., que é administrado por uma equipe só de mulheres, superou seus pares com ganho de 65% neste ano, em grande parte devido a uma aposta antecipada em ações da Moderna.
As ações da Moderna são, de longe, o destaque do fundo, com alta de cerca de 700% neste ano, impulsionadas pelo recente sucesso dos ensaios da empresa com uma vacina contra o coronavírus.
Outras posições do fundo Worldwide Health Innovation, de 80 milhões de dólares, também tiveram aumentos de três dígitos, o que proporcionou o melhor desempenho entre pares europeus no segmento de saúde, de acordo com dados da Morningstar.
“A melhor maneira de pensar sobre a Moderna é que eles estão na raiz do controle da biologia — qualquer coisa que possa ser codificada, a Moderna pode replicar”, disse a gestora do fundo, Julia Angeles, que investiu pela primeira vez na Moderna quando a empresa foi listada em dezembro de 2018. “Eu acreditava que eles poderiam ser uma daquelas empresas realmente únicas, que fazem a ponte entre a biotecnologia e a tecnologia.”
O coronavírus levou investidores a apostar nos vencedores da corrida por uma vacina. Com isso, as ações da Pfizer e de sua parceira BioNTech dispararam no mês passado. Ainda assim, os pares europeus mais próximos do fundo da Baillie Gifford estão muito aquém, com ganhos de 13% a 45% neste ano até novembro.
A pandemia não teve um impacto uniforme no setor de saúde em geral. Muitos pacientes com outras doenças evitam os prontos-socorros e consultórios médicos por medo de contágio.
Isso beneficiou a seleção das principais posições do fundo, como a M3 Inc., uma companhia japonesa que ajuda farmacêuticas, médicos e pacientes a acessar informações online, algo que se mostrou imprescindível durante a pandemia. O preço das ações da M3 quase triplicou até novembro. Outras posições incluem a empresa de diagnóstico por vídeo Teladoc Health.
“Todas as empresas com foco online que capturaram a demanda por reuniões físicas estão explodindo” e, ainda assim, achamos que há potencial para mais, disse Angeles. “Toda essa tecnologia ajudará a reinventar o sistema de saúde.”
Angeles, nascida na Bielorrússia, administra o fundo em Edimburgo com a russa Marina Record, que analisa empresas para a Baillie Gifford desde 2008, e com a vietnamita Rose Nguyen, cujos pais são farmacêuticos e o parceiro é médico. A equipe procura joias ainda não exploradas indo a conferências de saúde, desenvolvendo relacionamentos com cientistas e conversando com capitalistas de risco sobre tendências.
Compreender a gestão e a estratégia de uma empresa antes de investir é fundamental para os gestores da Baillie Gifford, fundada há 112 anos. Angeles se encontrou pela primeira vez com o CEO da Moderna, Stephane Bancel, em 2017.
“Tentamos identificar negócios disruptivos o mais cedo possível e como podemos capturar esses sinais de que algo vai mudar”, disse Angeles, que administra 65 bilhões de dólares no total.
Uma empresa que ela vê como promissora é a Butterfly Network, que deve abrir o capital no próximo ano. A Butterfly fabrica máquinas de ultrassom que podem fornecer imagens de corpo inteiro com uma única sonda portátil. Sem dúvida, a empresa se beneficiará com a pandemia em meio à realização de ultrassons de pulmões para verificar sintomas da covid-19, disse Angeles.
No entanto, investidores precisam ter cuidado se as empresas dependerem demais de uma vacina contra a covid-19, já que muitas estão sendo desenvolvidas e isso vai derrubar os preços, disse Damien Conover, diretor de pesquisa de renda variável da Morningstar.