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Fortuna oculta evapora em poucos dias em Wall Street

Trata-se de um fiasco multibilionário envolvendo apostas de mercado secretas que foram perigosamente alavancadas e desfeitas

A cascata de perdas em trading reverberou de Nova York a Tóquio, e deixa uma série de perguntas sem resposta (Antara Foto/Hafidz Mubarak/Reuters)

Karla Mamona

Publicado em 30 de março de 2021 às 09h06.

De seu pedestal em Midtown Manhattan, justo em frente ao Carnegie Hall, Bill Hwang construía silenciosamente uma das maiores fortunas do mundo. Mesmo em Wall Street , eram poucos os que prestavam atenção no investidor até que, de repente, todos o notaram.

Hwang e sua firma de investimento privada, a Archegos Capital Management, agora estão no centro de uma das maiores chamadas de margem de todos os tempos: um fiasco multibilionário envolvendo apostas de mercado secretas que foram perigosamente alavancadas e desfeitas em um piscar de olhos. A margem é um valor exigido como garantia para operações alavancadas. Quando esse valor atinge um limite, ocorre a chamada para cobrir o risco.

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A ascensão mais recente de Hwang pode ser calculada a partir de ações vendidas por bancos nos últimos dias - ViacomCBS, Discovery, GSX Techedu e Baidu - que haviam disparado este ano, às vezes confundindo operadores que não podiam entender o motivo.

 

 

Uma parte do portfólio de Hwang, que tem sido negociado em bloco desde sexta-feira pelo Goldman Sachs , Morgan Stanley e Wells Fargo, valia quase US$ 40 bilhões na semana passada. Banqueiros avaliam que o capital líquido da Archegos - basicamente o patrimônio de Hwang - atingiu cerca de US$ 10 bilhões. E, com as contínuas vendas, as estimativas das posições totais da empresa continuam subindo: dezenas de bilhões, US$ 50 bilhões e até mais de US$ 100 bilhões. Essa fortuna evaporou em poucos dias.

“Nunca vi nada parecido: quão silenciosa, quão concentrada e quão rápido desapareceu”, disse Mike Novogratz, investidor macro e ex-sócio do Goldman Sachs, que negocia desde 1994. “Esta deve ser uma das maiores perdas de patrimônio pessoal da história.”

No final da segunda-feira em Nova York, a Archegos quebrou dias de silêncio sobre o ocorrido.
“Este é um momento desafiador para o family office da Archegos Capital Management, nossos parceiros e funcionários”, disse Karen Kessler, porta-voz da empresa, em comunicado por e-mail. “Todos os planos estão sendo discutidos enquanto o Sr. Hwang e a equipe determinam o melhor caminho a seguir.”

A cascata de perdas em trading reverberou de Nova York a Tóquio, e deixa uma série de perguntas sem resposta, incluindo a grande questão: como alguém pode assumir riscos tão grandes, facilitados por tantos bancos, debaixo do nariz de reguladores no mundo todo?

Uma parte da resposta é que Hwang se estabeleceu como um family office com supervisão limitada e, depois, usou derivativos financeiros para acumular grandes participações em empresas sem nunca ter que divulgá-las. Outra parte é que bancos globais o aceitaram como um cliente lucrativo, apesar do histórico de negociações com informações privilegiadas e tentativa de manipulação de mercado que o afastou da indústria de fundos de hedge uma década atrás.

 

 

Discípulo de Julian Robertson, veterano dos fundos de hedge, Sung Kook “Bill” Hwang fechou a Tiger Asia Management e a Tiger Asia Partners depois de conseguir arquivar um processo civil na SEC em 2012, que acusou as empresas de negociação com informações privilegiadas, ou insider trading, e manipulação de ações de bancos chineses. Hwang e as empresas pagaram US$ 44 milhões, e ele concordou em ser excluído do setor de consultoria de investimentos.

Logo depois Hwang abriu a Archegos - que em grego significa “aquele que lidera” - e estruturou a empresa como um family office.

Family offices que administram exclusivamente a fortuna de um indivíduo são geralmente isentos de registro como consultores de investimento na SEC dos EUA. Portanto, não precisam divulgar seus proprietários, executivos ou o quanto administram - regras criadas para proteger pessoas de fora que investem em um fundo. Essa abordagem faz sentido para pequenos family offices, mas, se atingirem o tamanho de um grande hedge fund, ainda podem representar riscos, desta vez para investidores no mercado mais amplo.

“Isso mais uma vez levanta questões sobre a regulamentação dos family offices”, disse Tyler Gellasch, ex-consultor da SEC que agora dirige a associação Healthy Markets. “A questão é: se somos apenas amigos e família, para que nos importar? A resposta é que podem ter um impacto significativo no mercado, e o regime regulatório da SEC, mesmo depois da Lei Dodd-Frank, não reflete isso claramente”, disse.
Cliente valioso

A Archegos estabeleceu parcerias de trading com empresas como Nomura, Morgan Stanley, Deutsche Bank e Credit Suisse. Depois do caso da SEC, o Goldman se recusou a fazer negócios com Hwang por um período por motivos de conformidade, mas cedeu quando rivais lucraram atendendo às necessidades do investidor.

O quadro completo de suas participações ainda está sendo revelado, e não está claro quais posições descarrilharam ou quais tinham hedge.

Morgan Stanley e Goldman Sachs, por exemplo, estão listados como os maiores detentores de ações da GSX Techedu, uma empresa chinesa de tutoria online que tem sido repetidamente alvo de vendedores a descoberto. Os bancos podem possuir ações por uma série de razões, como para hedge de exposições de swap a negociações com clientes.
‘Investidores insatisfeitos’

O Goldman aumentou sua posição em 54% em janeiro, de acordo com documentos regulatórios. No geral, bancos informaram possuir pelo menos 68% das ações em circulação da GSX, de acordo com análise da Bloomberg dos documentos. Os bancos detinham pelo menos 40% da IQIYI Inc, uma empresa chinesa de entretenimento de vídeo, e 29% da ViacomCBS, todas com altas apostas da Archegos.

“Tenho certeza de que há uma série de investidores realmente insatisfeitos, que compraram esses nomes nas últimas semanas” e agora se arrependem, disse Doug Cifu, CEO da empresa de negociação eletrônica Virtu Financial, em entrevista à Bloomberg TV na segunda-feira. Cifu acredita que reguladores examinarão se “deve haver mais transparência e divulgação por parte de um family office”.

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