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Eleição na Argentina: como o surpreendente resultado do 1º turno repercutiu nos mercados

Bolsa de Buenos Aires chega a cair mais de 10% e dólar blue salta 20%, mas efeitos se restringem ao mercado local

Sergio Massa, ministro da Economia e candidato à presidência da Argentina (Tomas Cuesta/Getty Images)

Sergio Massa, ministro da Economia e candidato à presidência da Argentina (Tomas Cuesta/Getty Images)

Publicado em 23 de outubro de 2023 às 14h42.

Última atualização em 23 de outubro de 2023 às 16h26.

O resultado do primeiro turno das eleições da Argentina pegou muitos analistas políticos de surpresa ao mostrar a liderança do atual ministro da Economia, Sergio Massa, com 36,6% dos votos. O candidato de oposição Javier Milei, apontado como favorito por pesquisas de intenção de voto, ficou com 30%. Ambos os candidatos se enfrentarão no segundo turno, em de 19 novembro. Mas os números parciais da eleição argentina já causam repercussões no mercado.

O Merval, principal índice da bolsa de Buenos Aires, chegou a cair mais de 10% nesta segunda-feira, 23, primeiro dia de pregão após o pleito do fim de semana. O dólar blue dispara mais de 20% para próximo de 1.100 pesos. O dólar blue é o negociado paralelamente no país, sendo o mais fidedigno às relações de oferta e demanda pela moeda local.

"A situação da Argentina poderia ser muito melhor em caso de vitória do candidato Javier Milei, que representaria alguma mudança. Ainda assim, há preocupações por Milei ser de extrema direita e o que tende para os extremos tem que ser visto com cuidado. É um cenário que exige cautela. Pode haver muita volatilidade até o pleito final", disse Alan Martins, analista da Nova Futura.

Essa incerteza e volatilidade devem se traduzir em mais inflação na Argentina, afirmou Eirini Tsekeridou, analista de renda fixa da  Julius Baer. "O próximo presidente da Argentina enfrentará um ambiente económico desafiador, à medida que a inflação continua a subir, as pressões cambiais aumentam e a situação fiscal permanece frágil. Esperamos que os ativos argentinos permaneçam voláteis antes do segundo turno, devido à incerteza política e aos gastos que empurram a inflação para cima", escreveu em relatório.

A inflação argentina está próxima de 140% -- e segue acelerando. Diante deste cenário, propostas relacionadas às políticas econômicas de ambos os candidatos devem estar no foco de investidores locais, segundo Sergio Armella, economista do Goldman Sachs.  "As pressões monetárias e financeiras estão aumentando, a atividade econômica está contraindo-se, as reservas internacionais estão em níveis criticamente baixos e as reservas internacionais líquidas são negativas. Erros políticos são algo que a Argentina não pode se permitir nesta conjuntura", escreveu Armella em relatório. 

A expectativa de Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, é de que ambos os candidatos se voltem ao centro no segundo turno. "Quem ganhar, deverá ser mais pragmático, o que tende a beneficiar a economia local", disse. Gala ainda ressalta que a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas de China e Estados Unidos. O resultado da eleição pode, portanto, mexer com a relação de empresas brasileiras que fazem negócio com o país vizinho. Mas o efeito macro sobre o mercado brasileiro, de forma geral, é bastante limitado, apontou o economista.

Perda de relevância para o mercado brasileiro

"O efeito no mercado financeiro brasileiro é inexistente. O mercado, hoje, está muito mais atento ao movimento dos títulos americanos do que às eleições da Argentina", disse Gala.

Alan Martins reforça que a repercussão da economia argentina já foi muito maior sobre o mercado brasileiro. "No começo dos anos 2000, quando o pregão ainda era presencial, o Merval era uma referência no Brasil. Muitas decisões eram tomadas com base na variação do índice argentino Hoje, isso é impensável." Essa perda de relevância, disse, se deu gradativamente, com a piora prolongada da economia vizinha e o aumento da desconfiança quanto a uma melhora de curto prazo. 

As eleições da Argentina estão no radar, afirmou o analista, mas bem distante das principais discussões do mercado. "O principal assunto são os títulos americanos. Em segundo, os conflitos geopolíticos. Não vejo a Argentina influenciar os ativos no Brasil hoje e nem daqui para frente."

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