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Dólar tem maior queda desde 2018 com ajuda externa e sinal do BC sobre juro

Moeda à vista cai 3,32%, para 5,3208 reais na venda, no mesmo dia em que diretor do BC afirma que Selic de 2% ao ano não é para situações normais no país

Dólar caiu cerca de 15% em relação ao real no primeiro trimestre de 2022, para surpresa da maior parte do mercado (Lee Jae-Won/Reuters)
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Reuters

Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 18h06.

Última atualização em 13 de janeiro de 2021 às 10h16.

Um forte movimento de realização de lucros ditado pelo mercado externo levou o dólar à maior queda em dois anos e meio nesta terça-feira, 12. A moeda devolveu em apenas um dia mais da metade do ganho acumulado nas primeiras sessões de 2021, também sob influência de comentários de um diretor doBanco Central sobre a taxa de juros.

O dólar à vista caiu 3,32%, para 5,3208 reais na venda, na maior baixa percentual diária desde 8 de junho de 2018 (-5,59%). Ao longo da jornada, a cotação oscilou entre 5,4948 reais (-0,15%) e 5,3192 reais (-3,35%).

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O real liderou, com folga, os ganhos entre as principais moedas globais, depois de encabeçar as perdas nas últimas sessões. A moeda brasileira era seguida no dia pelo rublo russo (+1,9%), o rand sul-africano (+1,8%) e o peso mexicano (+1,3%). São divisas de risco e que, portanto, se beneficiam de expectativas de crescimento econômico.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, considerou que a maior parte da baixa do dólar na sessão veio do exterior, onde a moeda caía de forma generalizada depois de um rali nos primeiros dias do ano. "Existe a perspectiva de mais estímulo global e isso é positivo para mercados e ativos emergentes, como o real", disse.

Na véspera, o dólar havia saltado 1,60%, para 5,5033 reais na venda, maior nível desde 5 de novembro de 2020 (5,5455 reais). A moeda subia 6,01% no ano até segunda-feira, valorização reduzida a 2,49% aos preços desta terça.

O tombo do dólar se deu ainda em meio a declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra.

Em live, o diretor afirmou que os juros de 2% não são para situações normais no Brasil e que é natural imaginar que o "estímulo extraordinário" que o BC está concedendo à economia via política monetária será retirado de cena em algum momento.

Os comentários vieram no dia em que o IBGE divulgou que a inflação ao consumidor medida pelo IPCA ficou em 4,52% no acumulado de 2020. Foi a maior taxa em quatro anos, ficando acima do centro da meta oficial de 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Uma das discussões no mercado é se o Banco Central poderá ser forçado a antecipar o processo de normalização da política monetária, cujo início está previsto atualmente para agosto, com base em estimativas compiladas pela pesquisa Focus.

Analistas e economistas avaliam que parte da pressão sobre o real desde o ano passado decorre do baixo nível de juros, com a Selic na mínima histórica de 2% ao ano, o que deixa a moeda brasileira como opção barata para hedge ou mesmo como fonte de financiamento. A taxa desestimula a entrada de capital externo para buscar ganhos com a arbitragem dos juros.

O próprio diretor Bruno Serra colocou a redução do diferencial de taxas como fator a explicar o patamar atual do dólar, além de incerteza fiscal, mudança nas regras de tributação de hedge -- o chamado overhedge, em 2020 -- e redução da dívida em dólar por parte de algumas empresas.

"Considero que o BC deveria iniciar o processo de normalização monetária em março ou maio, o que deve aliviar, caso não ocorram mais surpresas fiscais negativas, as pressões no câmbio, na inclinação da curva de juros e no gerenciamento da dívida pública", comentou no Twitter Sergio Goldenstein, consultor independente e estrategista na Omninvest Independent Insights e ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central.

"O problema com o real continua. Apesar da elevação recente dos preços das commodities e da melhoria dos termos de troca (vide preço do minério), o desempenho absoluto e relativo continua ruim", acrescentou Goldenstein.

O Barclays espera que o BC comece a elevar os juros em agosto, com a Selic fechando o ano em 3,75%, ante os atuais 2% ao ano. Mas o banco britânico entende que os números de inflação divulgados mais cedo podem levantar questionamentos sobre a manutenção na reunião da próxima semana do forward guidance -- o mecanismo de orientação futura, segundo o qual não pretende reduzir o grau de estímulo monetário enquanto determinadas condições sejam satisfeitas.

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nos dias 19 e 20 de janeiro para decidir sobre o rumo da Selic, na primeira reunião de 2021.

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