Dólar: moeda valorida 27,5% em 2024 (Yuji Sakai/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 30 de dezembro de 2024 às 18h31.
Última atualização em 30 de dezembro de 2024 às 19h08.
O dólar, que começou 2024 valendo R$ 4,85, termina com um salto de 27,34%, cotado a R$ 6,18. A alta volatilidade da moeda americana, a maior variação desde 2020, dominou as discussões do mercado ao longo do ano, ganhando maior destaque após o pacote de corte de gastos anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O movimento é resultado de uma combinação de fatores internos e externos.
De um lado, no Brasil, as incertezas fiscais ajudaram na saída de capital e impulsionaram o real para baixo. Desde abril, quando o governo alterou as metas fiscais, instalou-se no mercado uma crise sobre a condução da política fiscal. “O governo relativizou ali o arcabouço”, disse William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
Para contornar os temores, ao final de novembro, a equipe econômica do governo propôs medidas de ajustes fiscais. Entretanto, o pacote decepcionou o mercado ao incluir no combo propostas como a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil. Isso porque a ideia de renúncia fiscal foi anunciada em um momento em que agentes econômicos esperavam um maior controle de gastos.
Outro ponto que chamou a atenção foi o número apresentado pelo governo: uma economia de R$ 70 bilhões caso as medidas fossem aprovadas. Entretanto, nos cálculos de diversas casas e bancos, a economia, na realidade, seria muito menor. Para o Santander, esse número deve girar em torno de R$ 45 bilhões.
Três propostas do pacote de corte de gastos foram aprovadas nos últimos dias de dezembro, mas o movimento não foi suficiente para dar fôlego ao câmbio, já que as votações no Congresso desidrataram 19 trechos. Sendo assim, o que já parecia insuficiente para controlar as contas públicas ganhou mais desafios pela frente com o pacote “mais magro”.
Do outro lado, no exterior, a reeleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos é o ponto-chave. O republicano promete, desde sua campanha, um forte protecionismo, com aumentos substanciais nas tarifas sobre produtos importados, especialmente os chineses, além de uma política imigratória mais restritiva, que deve reduzir a força de trabalho no país, pressionando os custos salariais.
Com o Congresso de maioria republicana, Trump enfrenta poucas barreiras para implementar sua agenda, o que limita o espaço do Federal Reserve (Fed, banco central americano) para reduzir os juros. Essa combinação favorece a entrada de capital global nos EUA, fortalecendo (ainda mais) o dólar.
Segundo o BTG Pactual (mesmo grupo de controle da EXAME), 19 das 20 moedas emergentes se depreciaram em novembro de 2024 após as eleições. Mas, ao adicionar o fator fiscal do Brasil, o real foi a moeda que mais desvalorizou em todo o mundo.
"Se você tem um ambiente externo que favorece o dólar e penaliza os emergentes, e um doméstico em que há uma credibilidade frágil do ponto de vista fiscal, a correção é no câmbio. É aqui que chegamos no dólar a R$ 6", explica Álvaro Frasson, estrategista-macro do BTG Pactual Portfolio Solutions.
Para o próximo ano, o BTG revisou suas expectativas recentemente, elevando a projeção de R$ 5,80 para R$ 6,25 em 2025, considerando a possibilidade de deterioração fiscal. Mas, segundo a economista Iana Ferrão, do BTG, caso as ações do governo minem ainda mais a credibilidade da política monetária, o câmbio pode ultrapassar a barreira dos R$ 7.
Em uma tentativa de conter a alta do câmbio, que alcançou seu maior patamar histórico no dia 18 de dezembro, fechando em R$ 6,27, o Banco Central (BC) realizou diversas intervenções desde o dia 12 de dezembro.
Ao todo, a autarquia realizou 14 leilões de venda da moeda, tanto à vista quanto em linha — quando há o compromisso de recompra —, queimando US$ 32,574 bilhões da reserva internacional. Apesar do movimento ter impedido maiores altas, o câmbio segue desvalorizado e encerra o ano ainda na casa dos R$ 6.
Até então, os leilões do BC foram: