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Dólar abaixo de 5 reais está mais próximo, diz Daniel Weeks, da Garde

Economista-chefe, Daniel Weeks ressalta resiliência da economia brasileira e vê PIB acima de 5%

Daniel Weeks: economista-chefe da Garde Asset | Foto: Divulgação (Divulgação/Divulgação)

Daniel Weeks: economista-chefe da Garde Asset | Foto: Divulgação (Divulgação/Divulgação)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 2 de junho de 2021 às 06h30.

Última atualização em 2 de junho de 2021 às 07h19.

Os recentes dados da economia brasileira têm reforçado o otimismo com os ativos locais. Com o PIB do primeiro trimestre levando o mercado a revisar as projeções de crescimento para este ano, real e ações da bolsa brasileira podem ser boas oportunidades de investimento. É o que diz Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset

"São dois ativos de que gostamos bastante. Com o setor de serviços reabrindo no segundo semestre, a retomada será ainda mais forte, o que favorece o cenário de crescimento de lucros na bolsa", afirma em entrevista à EXAME Invest.

Sobre o dólar, Weeks acredita que, com a economia crescendo, o preço das commodities nas alturas e o Banco Central elevando a taxa de juros, o cenário é favorável para que a moeda americana volte para a marca dos 4 reais. 

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“É possível que o dólar caia abaixo de 5 reais. O que poderia atrapalhar são os riscos fiscais. Pode-se até discutir a prorrogação do auxílio emergencial por alguns meses, mas são [riscos de] magnitudes pequenas. ”, disse. 

Divulgado nesta terça-feira, 1º de junho, o PIB do primeiro trimestre cresceu 1,2% na margem, frente ao quarto trimestre de 2020, superando a mediana das estimativas colhidas pela Bloomberg, de 0,9%. O resultado, diz Weeks, deve levar a Garde a revisar a expectativa de avanço do PIB para além de 5%. E o economista vê espaço para o crescimento chegar a 6%. “A chave seria a pandemia muito mais controlada [com o avanço da vacinação].”

Confira a entrevista de Daniel Weeks à EXAME Invest

O PIB do primeiro trimestre superou as estimativas do mercado. O que mais surpreendeu? 

É importante salientar a grande resiliência da economia brasileira. No primeiro trimestre, praticamente acabamos com o auxílio emergencial e mesmo assim a atividade se comportou muito bem. Olhando pelo lado da demanda, o grande destaque é a recuperação dos investimentos.

Foi uma divulgação muito positiva. Estávamos com expectativa de crescimento de 4,5% do PIB para este ano e vamos revisar para cima. É bem factível falar de PIB acima de 5% com esses dados do primeiro trimestre.

Nos investimentos, se as privatizações que estão no pipeline saírem, é possível vermos o PIB chegando a 6% neste ano?

Vai ser menos pela questão das privatizações e mais pela dinâmica da pandemia. Para chegar a 6%, teríamos que ter uma diminuição bem rápida dos casos e óbitos [por covid-19], algo que não vemos ainda. Estamos nessa discussão sobre se vai ter terceira onda, tem lugares no estado de São Paulo que estão piorando. Para chegar ao PIB de 6% [de alta], a chave seria a pandemia muito mais controlada.

Na estimativa de 4,5% que tínhamos -- e que deve ir para 5% ou um pouco mais --, projetamos um declínio da pandemia relativamente lento, mas gradual até o fim do ano. A vacinação no segundo semestre é muito forte, com a possibilidade de termos metade da população adulta vacinada pelo menos com a primeira dose entre o terceiro e o quarto trimestres. O cenário é bem positivo para frente. Mesmo que não chegue a 6%, um PIB de 5% é algo que não vemos há muito tempo.

E para o segundo trimestre? Até levando em consideração o aperto das medidas de isolamento de abril, devemos ter um crescimento de PIB mais fraco?

Provavelmente vai ser abaixo do registrado no primeiro trimestre. Em abril houve maior impacto das restrições sociais. Isso contamina um pouco o segundo trimestre. Mas em maio temos visto uma recuperação relativamente forte. Até um ou dois meses atrás, o mercado esperava queda do PIB para o segundo trimestre. Só de haver uma alta, mesmo que menor, já será uma grande vitória, já que tivemos a segunda onda da pandemia muito mais forte do que a primeira e o impacto sobre o PIB foi relativamente pequeno. No segundo semestre, poderemos ver números mais fortes.

Quais ativos devem mais se beneficiar da recuperação da economia local? 

Tanto o real como a bolsa são ativos que vão se beneficiar de mais crescimento. O real também tem outros fatores que o ajudam: o Banco Central continua a subir juros e o preço das commodities está muito elevado. Isso faz com que haja uma apreciação do real. 

Já o cenário mais vigoroso que vimos no primeiro trimestre, a resiliência do segundo, e a retomada ainda mais forte que devemos ter no segundo semestre impulsionam ainda mais os lucros das empresas da bolsa. Bolsa brasileira e real são dois ativos de que gostamos bastante.

Nesse ambiente de crescimento e o BC subindo juros, é possível ver o dólar negociado abaixo de 5 reais?

É possível. O que pode atrapalhar são os riscos fiscais. Mas essa melhora do ambiente diminui esse risco. Pode-se até discutir a prorrogação do auxílio emergencial por alguns meses, mas são [riscos de] magnitudes pequenas. O grande risco seria tirar o teto de gastos. Mas com a economia voltando a crescer, já ajuda a manter os riscos fiscais mais baixos. 

A outra questão é que ano que vem tem eleições. Ainda é muito cedo para começar a precificar os riscos de mudança de política econômica, mas poderia atrapalhar a valorização dos ativos. 

A independência do BC ajudar a minimizar a percepção de risco de uma eleição muito polarizada em 2022?

Sim, o gerenciamento da política monetária vai ser uma preocupação a menos que vamos ter no próximo governo. Mas a gestão da política monetária não é um problema. O problema é a gestão fiscal.

Apesar de ser bom ter um BC independente, temos que ficar atento à questão fiscal. Ainda estamos com uma dívida grande em relação ao PIB, acima de 80%, com dificuldade de gerar superávit. Para problemas fiscais só existem soluções fiscais. É isso que deve ser debatido nas eleições do ano que vem

Até pensando na questão fiscal, como está a expectativa para a aprovação das reformas administrativa e tributária?

Somos um pouco céticos sobre uma reforma tributária mais ampla. Das várias etapas que se colocou, as primeiras devem ser mais fáceis de passar. Mas vai ser difícil passar as partes mais complexas porque vai começar a embaralhar com o ano eleitoral. 

Sobre a administrativa, falta o governo advogar para que a reforma aconteça. Tem um Congresso disposto a discutir, mas é um tipo de reforma complicada, porque bate de frente com vários lobbies. 

Mas a questão fiscal é até mais profunda que a discussão das duas reformas. As reformas ajudam a tirar algumas distorções, mas vamos sentir seus efeitos mais ao longo dos anos. A questão mais crucial é a manutenção do teto de gastos como nossa âncora fiscal. Se houver uma mudança de governo, há grande dúvida do que será feito com essa âncora fiscal. O PT já foi contra o teto de gastos.

Voltando um pouco para o crescimento esperado para o ano, como a crise hídrica pode impactar o PIB?

O risco de racionamento, que impactaria a atividade econômica negativamente, ainda é baixo. Acreditamos que a principal consequência da crise hídrica serão as pressões sobre o preço da energia tanto neste ano quanto no próximo. O crescimento não está em risco devido à crise hídrica. Por outro lado, a inflação segue pressionada e deve continuar assim. 

A inflação preocupa?

A inflação preocupa. Para este ano estamos com projeção [de IPCA] de 6,10%, bem acima do teto da banda de 5,25% e com 3,8% para o ano que vem. Os 3,8% consideram a elevação da taxa Selic para 6,5% ainda neste ano. 

A discussão de “ajuste parcial” que o Banco Central tem buscado deve cair na próxima reunião do Copom e vão sinalizar que vão fazer ajuste completo dado que o cenário de inflação está muito complicado e o risco de a pandemia afetar o PIB não está se concretizando. 

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