Audiência histórica, mas ação estável
Apesar de não ter mexido significativamente os ponteiros de Wall Street, o filme-concerto Taylor Swift | The Eras Tour | The Final Show bateu recordes e se tornou o terceiro filme mais visto globalmente no Disney+ em dezembro de 2025, segundo dados do FlixPatrol e relatos da mídia internacional.
Já a docussérie The End of an Era, lançada em modelo semanal com dois episódios por semana, dominou o ranking global de popularidade do Disney+ por mais de 10 dias consecutivos.
Segundo o FlixPatrol, a série somou 383 pontos de dominância, quase três vezes mais que o segundo colocado, Percy Jackson e os Olimpianos, com 136 pontos.
Os dois primeiros episódios da série receberam nota 9.5/10 no IMDb e 86% de aprovação no Rotten Tomatoes, segundo avaliações iniciais.
Mesmo assim, todo esse sucesso (ainda) não se refletiu diretamente no desempenho da ação da Disney (DIS). Em vez de uma disparada, o papel permaneceu praticamente estável ao longo do ano:
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Preço em janeiro de 2025: US$ 110,92
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Preço em 22 de dezembro de 2025: US$ 111,25
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Variação anual: apenas +0,3%
O desempenho pálido contrasta com o do índice S&P 500, que subiu cerca de 17% no mesmo período.
Por que o impacto não foi como em 2023?
Em 2023, o lançamento do Eras Tour (Taylor's Version) nos cinemas foi tratado como um fenômeno de bilheteria e um marco para a presença de grandes eventos musicais no streaming.
À época, o impacto foi imediato: o sucesso de bilheteria foi seguido por uma estreia forte no Disney+, com mais de 677 milhões de minutos assistidos nos EUA só na primeira semana.
Mas, em 2025, apesar de números até mais expressivos na plataforma, a ação não reagiu na mesma proporção — e há explicações para isso.
1. A expectativa já estava precificada
O anúncio da parceria com Swift foi feito em 13 de outubro, durante o Good Morning America, e gerou um pico modesto: algumas fontes indicaram alta de até 3% no dia, mas o fechamento foi de apenas +0,82% (US$ 110,27).
Ou seja, o mercado já esperava o impacto e não viu a novidade como transformadora para o valuation da empresa.
2. Concorrência acirrada no streaming
O sucesso de uma única propriedade intelectual, mesmo com o peso de Swift, não é suficiente para sustentar crescimento contínuo em um ambiente onde Netflix, Amazon Prime Video e Apple TV+ seguem investindo bilhões em conteúdo original.
Para os investidores, o diferencial competitivo precisa ser mais estrutural do que pontual.
3. Aumento de preço pode ter distorcido a leitura
O Disney+ aumentou seus preços em US$ 3 mensais em novembro, antes do lançamento da série documental.
Isso gerou um impacto positivo na receita média por usuário (ARPU, na sigla em inglês), mas também criou dúvidas: os novos assinantes vieram por causa da Taylor ou simplesmente se mantiveram apesar do aumento?
4. Problemas estruturais fora do streaming
O desempenho do Disney+ foi inegavelmente forte. No quarto trimestre fiscal de 2025, a empresa reportou:
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3,8 milhões de novos assinantes globais
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Crescimento de 65% nas assinaturas com anúncios
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Lucro operacional do segmento de entretenimento (streaming): US$ 1,3 bilhão, um salto de 39% em relação ao ano anterior
Mas fora do streaming, o cenário continua desafiador. A queda no faturamento de TV linear (como ESPN e ABC), estagnação nos parques temáticos e o endividamento elevado após a pandemia seguem como obstáculos — e o mercado não ignora esses pontos fracos.
Sucesso cultural não garante alta na bolsa
A Disney apostou em Swift como âncora de sua nova fase no streaming, e os números mostram que, do ponto de vista de engajamento e audiência, o plano deu certo. Mas para os investidores, isso ainda não se traduziu em transformação financeira estrutural.
Wall Street parece ter entendido o sucesso como um ótimo episódio isolado, mas não como um divisor de águas para o futuro da empresa.
O próximo teste virá em fevereiro de 2026, quando a Disney divulgará os resultados completos do primeiro trimestre fiscal — já com os números finais do impacto de The End of an Era e The Final Show em assinaturas, receita e churn.
Até lá, o “efeito Swift” segue como um espetáculo de audiência — aplausos de pé do público, mas com Wall Street ainda sentado, braços cruzados, esperando o próximo ato da gigante do entretenimento.
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