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Disney aposta R$ 553 mi em Taylor Swift. Os fãs amaram. Wall Street, nem tanto

Streaming brilhou, mas mercado cobra resultados além do "efeito Swift" para a gigante do entretenimento

Taylor Swift: cantora trouxe audiência para o Disney+ (Emma McIntyre/TAS24 / Colaborador/Getty Images)

Taylor Swift: cantora trouxe audiência para o Disney+ (Emma McIntyre/TAS24 / Colaborador/Getty Images)

Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 05h01.

Em 2025, a Disney fez uma das maiores apostas já vistas no mercado de streaming: pagou US$ 100 milhões (cerca de R$ 553,4 milhões, na cotação atual) pelos direitos de exibir a série documental “The End of an Era” e o filme “The Final Show”, ambos centrados na estrela pop Taylor Swift.

A ideia era repetir o sucesso de 2023, transformar a superestrela em um catalisador de crescimento para o Disney+, impulsionar assinaturas e justificar o aumento de preços da plataforma.

Internamente, a empresa chegou a batizar o dia 12 de dezembro como Taylor Swift Day, preparando até sua infraestrutura digital para picos históricos de audiência.

O investimento não veio do nada. Swift já havia rendido à Disney ótimos resultados em 2023, quando a empresa comprou por US$ 75 milhões os direitos do filme “Eras Tour”, que arrecadou mais de US$ 260 milhões nos cinemas.

Em 7 de fevereiro de 2024, quando a empresa anunciou no balanço trimestral que havia garantido direitos exclusivos de The Eras Tour (Taylor’s Version), as ações dispararam entre 11% e 12% no pregão seguinte, saltando de cerca de US$ 97,8 para US$ 109,1. Foi uma das maiores valorizações de curto prazo da companhia naquele ano. Nas semanas seguintes, o papel permaneceu acima de US$ 110, consolidando o otimismo dos investidores.

Em 2025, a expectativa era de um impacto ainda maior — mas o mercado financeiro mostrou que, para movimentar uma ação como a da Disney, é preciso mais do que dominar a cultura pop.

Audiência histórica, mas ação estável

Apesar de não ter mexido significativamente os ponteiros de Wall Street, o filme-concerto Taylor Swift | The Eras Tour | The Final Show bateu recordes e se tornou o terceiro filme mais visto globalmente no Disney+ em dezembro de 2025, segundo dados do FlixPatrol e relatos da mídia internacional.

Já a docussérie The End of an Era, lançada em modelo semanal com dois episódios por semana, dominou o ranking global de popularidade do Disney+ por mais de 10 dias consecutivos.

Segundo o FlixPatrol, a série somou 383 pontos de dominância, quase três vezes mais que o segundo colocado, Percy Jackson e os Olimpianos, com 136 pontos.

Os dois primeiros episódios da série receberam nota 9.5/10 no IMDb e 86% de aprovação no Rotten Tomatoes, segundo avaliações iniciais.

Mesmo assim, todo esse sucesso (ainda) não se refletiu diretamente no desempenho da ação da Disney (DIS). Em vez de uma disparada, o papel permaneceu praticamente estável ao longo do ano:

  • Preço em janeiro de 2025: US$ 110,92

  • Preço em 22 de dezembro de 2025: US$ 111,25

  • Variação anual: apenas +0,3%

O desempenho pálido contrasta com o do índice S&P 500, que subiu cerca de 17% no mesmo período.

Por que o impacto não foi como em 2023?

Em 2023, o lançamento do Eras Tour (Taylor's Version) nos cinemas foi tratado como um fenômeno de bilheteria e um marco para a presença de grandes eventos musicais no streaming.

À época, o impacto foi imediato: o sucesso de bilheteria foi seguido por uma estreia forte no Disney+, com mais de 677 milhões de minutos assistidos nos EUA só na primeira semana.

Mas, em 2025, apesar de números até mais expressivos na plataforma, a ação não reagiu na mesma proporção — e há explicações para isso.

1. A expectativa já estava precificada

O anúncio da parceria com Swift foi feito em 13 de outubro, durante o Good Morning America, e gerou um pico modesto: algumas fontes indicaram alta de até 3% no dia, mas o fechamento foi de apenas +0,82% (US$ 110,27).

Ou seja, o mercado já esperava o impacto e não viu a novidade como transformadora para o valuation da empresa.

2. Concorrência acirrada no streaming

O sucesso de uma única propriedade intelectual, mesmo com o peso de Swift, não é suficiente para sustentar crescimento contínuo em um ambiente onde Netflix, Amazon Prime Video e Apple TV+ seguem investindo bilhões em conteúdo original.

Para os investidores, o diferencial competitivo precisa ser mais estrutural do que pontual.

3. Aumento de preço pode ter distorcido a leitura

O Disney+ aumentou seus preços em US$ 3 mensais em novembro, antes do lançamento da série documental.

Isso gerou um impacto positivo na receita média por usuário (ARPU, na sigla em inglês), mas também criou dúvidas: os novos assinantes vieram por causa da Taylor ou simplesmente se mantiveram apesar do aumento?

4. Problemas estruturais fora do streaming

O desempenho do Disney+ foi inegavelmente forte. No quarto trimestre fiscal de 2025, a empresa reportou:

  • 3,8 milhões de novos assinantes globais

  • Crescimento de 65% nas assinaturas com anúncios

  • Lucro operacional do segmento de entretenimento (streaming): US$ 1,3 bilhão, um salto de 39% em relação ao ano anterior

Mas fora do streaming, o cenário continua desafiador. A queda no faturamento de TV linear (como ESPN e ABC), estagnação nos parques temáticos e o endividamento elevado após a pandemia seguem como obstáculos — e o mercado não ignora esses pontos fracos.

Sucesso cultural não garante alta na bolsa

A Disney apostou em Swift como âncora de sua nova fase no streaming, e os números mostram que, do ponto de vista de engajamento e audiência, o plano deu certo. Mas para os investidores, isso ainda não se traduziu em transformação financeira estrutural.

Wall Street parece ter entendido o sucesso como um ótimo episódio isolado, mas não como um divisor de águas para o futuro da empresa.

O próximo teste virá em fevereiro de 2026, quando a Disney divulgará os resultados completos do primeiro trimestre fiscal — já com os números finais do impacto de The End of an Era e The Final Show em assinaturas, receita e churn.

Até lá, o “efeito Swift” segue como um espetáculo de audiência — aplausos de pé do público, mas com Wall Street ainda sentado, braços cruzados, esperando o próximo ato da gigante do entretenimento.

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