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Como as criptomoedas estão se tornando mais ESG

A criptomoedas consomem uma quantidade enorme de energia. Mas por pressão dos mais jovens, pelo custo da energia e por questões geopolíticas as coisas estão mudando.

Bitcoin, a rainha das criptomoedas (Francesco Carta fotografo/Getty Images)
CC

Carlo Cauti

Publicado em 16 de maio de 2022 às 17h31.

Quando a China proibiu a mineração de criptomoedas há cerca de um ano, o país asiático representava mais de 40% da "produção" total desses ativos.

A partir daquele momento, houve uma migração massiva de mineradores de criptomoedas para países com baixos preços de energia e climas frios, necessários para auxiliar no resfriamento de poderosos servidores que funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana.

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Na China, a energia é abundante e barata. Entretanto, Pequim optou por usar o punho de ferro contra as atividades ligadas as criptomoedas, que poderiam competir diretamente com o yuan digital.

Atualmente a "criptomoeda de estado" chinesa está em uma fase de teste avançada.

Essa fuga dos mineradores acabou aumentando a participação da América do Norte na geração de criptoativos.

Atualmente, Estados Unidos e Canadá representam mais de 50% do hashrate mundial.

Mas países frios dos dois polos do mundo também receberam hordas de mineradores famintos de energia e de clima abaixo de zero.

E isso gerou consequências indesejáveis.

Criptoativos tem elevado consumo de energia

Na Terra do Fogo, no extremo sul da Argentina, perto de Ushuaia, mais de um quarto da energia é absorvida pela mineração de criptomoedas. E isso acaba diminuindo a oferta para os habitantes locais.

A Islândia também estava sofrendo o mesmo problema. E por isso chegou a banir as licenças de mineração.

Uma das fraquezas do Bitcoin e de muitas outras criptomoedas é o alto conteúdo de energia necessário para a operação do sistema de transações sem a intervenção de intermediários.

O direito de certificar transações via blockchain é garantido àqueles que são os primeiros a resolver um problema matemático complexo, para o qual é necessária uma enorme capacidade computacional.

Os protagonistas desta competição são as " fazendas de mineração ": salas cheias de máquinas que trabalham dia e noite para encontrar a solução dessas intricadas questões matemáticas.

A cada dez minutos um bloco é certificado e o vencedor recebe sua recompensa, equivalente hoje a 6,25 B itcoins.

O elevado consumo de energia por parte do sistema de criptografia é, portanto, atribuível à chamada " prova de trabalho " exigida dos mineradores.

Segundo alguns estudos, a produção mundial de Bitcoin consome anualmente mais de 120 Terawatt-hora (TWh). O mesmo consumo de países inteiros, como Argentina ou a Noruega.

O consumo anual de energia elétrica no Brasil é de 555 TWh.

Necessidade de uma sustentabilidade cada vez maior

Esta característica de elevado consumo energético por parte dos produtores de criptoativos não cabe mais em um mundo que caminha em direção de uma sustentabilidade cada vez maior.

Isso especialmente em um momento em que o conflito na Ucrânia causou um aperto no fornecimento de energia em nível global.

Sem contar que os mais curiosos em relação ao mundo das criptomoedas são os mais jovens, que são as mais sensíveis ao meio ambiente.

Por isso, as criptomoedas tiveram que acelerar seu percurso ESG.

Já hoje existem instituições como a Crypto Climate Agreement ou a Energy Web Foundation, que certificam os "Bitcoin verdes".

Algo que no futuro próximo poderia ser aprimorado via blockchain usando, por exemplo, uma NFT.

Revolução ESG para os Bitcoins

Mas a revolução verde no mundo das criptomoedas poderia ser muito mais profunda.

Uma das tendências questiona a própria “prova de trabalho”, um dos pilares do sistema de Satoshi Nakamoto.

Se de fato o Bitcoin não vai conseguir mudar seu sistema, já que o próprio criador deixou claro que ninguém, nem ele mesmo, conseguirá mudar as regras, novos cenários estão se abrindo para as outras criptomoedas.

O problema do uso intensivo de energia é uma das questões que está se tentando resolver com diferentes sistemas de criação de consenso para a certificação de transações.

Uma das modalidades que está surgindo é a “proof of stake”, a chamada “prova de participação”, sistema em que o conceito de competição pela solução do enigma é abandonado em favor de um processo em que os próprios detentores de criptomoedas, votam para eleger o vencedor.

O problema, nesse caso, é que ao fazer isso é possível que alguma pessoa mal-intencionada possa obter a maioria dos votos corrompendo os outros participantes.

Por outro lado, muitos usuários de criptoativos criticaram essas propostas, salientando como esses sejam falsos sistemas que criam novos problemas em vez de identificar soluções.

Para eles, a prova de trabalho de Satoshi Nakamoto permanece única e não replicável.

Ethereum 2.0

O Ethereum também está prestes a mudar.

A segunda maior criptomoeda do mundo em termos de capitalização está passando por uma transição da mineração para a prova de participação.

Esse é o chamado "projeto Ethereum 2.0".

Entretanto, esse projeto está cercado de ceticismo geral.

A própria fundação Ethereum decidiu que é uma "camada de consenso", como se quisesse salientar que não se trata de outra criptomoeda.

A última rodada de testes públicos foi lançada recentemente para a tão esperada atualização “The Merge” que deveria chegar até o verão, unificando os dois níveis da blockchain existente.

O ceticismo em volta dessa evolução permanece alto, pois o processo continua atrasado.

Mas se tivesse sucesso, o consumo de energia do Ethereum seria reduzido em 99%, com conseqüente redução nos custos e influência positiva sobre a cotação da criptomoeda.

O cripto-investidor Mark Cuban já falou publicamente que a transição permitirá que o Ether supere o Bitcoin, que agora vale 44% do total em comparação com 20% deste último.

E existe já criptoinvestiores que estão apostando nessa mudança,, colocando seus Ether ao serviço do novo sistema de consenso. Mas claro, devidamente recompensados.

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