Política monetária nos EUA: mercado de trabalho é foco do Fed (Kevin Lamarque/Reuters)
Redação Exame
Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 13h09.
A pesquisa ADP de emprego, considerada uma prévia importante dos dados oficiais do governo (Payroll), revelou uma destruição inesperada de 32 mil postos de trabalho no setor privado em novembro. As projeções de mercado apontavam para a criação de 10 mil vagas.
"O que impressiona não é nem esse número final. Mas o fato de que empresas com até 50 funcionários perderam mais de 120 mil empregos, maior declínio desde maio de 2020, ano da Covid", afirma Luis Ferreira, chefe de investimentos para as Americas do EFG International.
O resultado representa uma virada negativa significativa para a economia americana no segundo semestre de 2025, levantando questões cruciais para a decisão de juros do Federal Reserve na próxima semana.
De acordo com o relatório oficial, o corte de vagas foi liderado por pequenas empresas e se espalhou por setores-chave. A criação de empregos já vinha andando de lado durante o segundo semestre, mas novembro marcou um ponto de inflexão com a queda no crescimento salarial e cortes específicos em áreas vitais.
Nela Richardson, economista-chefe do ADP, destacou que as contratações têm sido instáveis, à medida que os empregadores enfrentam consumidores cautelosos e um ambiente macroeconômico incerto.
João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, classifica o número como uma surpresa negativa que altera a leitura vigente sobre a economia americana. Segundo o gestor, o mercado vinha operando sob uma tese de "paralisia" no mercado de trabalho — um cenário de “no fire, no hire” (sem demissões, sem contratações).
"O mercado vinha trabalhando com uma tese meio que de paralisia... os empresários estavam tentando ter um pouco mais de leitura sobre o real impacto das tarifas nas demandas para tomarem decisões de investimentos e contratação", explica Soares.
No entanto, o dado de hoje sugere que a situação pode ter evoluído da cautela para um enfraquecimento real. Soares aponta que o corte de 32 mil vagas indica que o mercado de trabalho pode estar desacelerando mais rápido do que o previsto anteriormente.
Com a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) agendada para a próxima semana, o dado do ADP adiciona pressão sobre a autoridade monetária. "O Fed mudou muito o foco da inflação para o mercado de trabalho e reforça possibilidades de corte de juros", afirma Ferreira.
Para Soares, o número corrobora uma visão de desaquecimento econômico. Embora o Federal Reserve (Fed) analise um conjunto amplo de dados — incluindo inflação e atividade econômica geral — um número negativo de empregos costuma ser um forte argumento para uma postura mais branda (dovish) na política de juros, visando evitar uma recessão mais grave.
Como ressaltou Soares, o Fed levará este dado em consideração em conjunto com outros indicadores, mas o sinal de alerta para a "saúde" do emprego privado americano já está ligado.