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Com cenário econômico instável, empresas adiam IPO na bolsa

O grupo de companhias que deve estrear na bolsa somente em 2022 inclui nomes conhecidos, como a rede de academias Bluefit, a fabricante de snacks Dori e a rede de restaurantes Madero

Smart Fit abriu capital na bolsa brasileira em julho passado | Foto: Cauê Diniz/B3/Divulgação (Cauê Diniz/B3/Divulgação)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de outubro de 2021 às 20h38.

Dezenas de empresas têm postergado os planos de abrir capital na bolsa brasileira. Ao todo, são mais de 70 companhias que tentavam se capitalizar neste ano, mas foram obrigadas a adiar sua entrada no mercado de ações.

A escalada da inflação, a subida dos juros e as dúvidas sobre o ritmo da retomada da economia intensificaram a volatilidade no mercado. Para piorar, a incerteza fiscal que surgiu durante a semana com o governo anunciando o rompimento do teto de gastos obrigou as candidatas a uma oferta inicial de ações ( IPO , pela sigla em inglês) a colocar seus planos em compasso de espera.

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O grupo de companhias que deve estrear na bolsa somente em 2022 inclui nomes conhecidos, como a rede de academias Bluefit, a fabricante de snacks Dori e a rede de restaurantes Madero. A lista tem ainda a Nadir Figueiredo, conhecida pelos tradicionais copos americanos, a Lupo e o Grupo Cortel, do setor funerário.

"Muitas empresas vão entrar num compasso de espera para ver o que acontece. Deveremos ver uma diminuição significativa de ofertas até o final do ano", disse Eduardo Miras, responsável pelo banco de investimento do Citi no Brasil.

Segundo o presidente da corretora BGC Liquidez, Erminio Lucci, a suspensão das ofertas ocorre por conta da volatilidade dos mercados externos e internos, além do aumento do custo de capital em função da alta dos juros, que reduzem o apetite dos investidores por ativos de risco.

"Além das incertezas causadas pela eleição de 2022, os ruídos políticos constantes, há a incerteza quanto ao crescimento econômico do ano que vem em diante", disse ele.

Com isso, diferentemente da primeira metade do ano, em que os fundos de ações estavam recebendo muito dinheiro dos investidores, agora os recursos são direcionados para a renda fixa.

No entanto, mesmo que o ritmo de estreias na bolsa brasileira diminua, o ano já é de recorde de emissões, superando o total do ano passado. Ao todo foram mais de 70 ofertas de ações, grande parte de estreantes, com um volume que já ultrapassou os R$ 140 bilhões, ante R$ 117 bilhões no ano passado, considerando aqui só as transações realizadas na B3.

Mesmo assim, a janela para emissões não está fechada, afirma Pedro Mesquita, sócio da XP responsável pelo banco de investimento. "Alguns IPOs voltados para investidores institucionais ainda vão ocorrer, assim como ofertas de empresas já listadas."

Nessas operações especificamente, o lançamento das ofertas ocorre apenas quando há uma demanda firme de fundos, por exemplo mas pessoas físicas ficam de fora.

Roderick Greenless, chefe global do banco de investimento do Itaú BBA, disse que a instituição aconselha os clientes que já estavam com o pedido de registro no órgão regulador, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a seguir com o pedido para se tornar uma empresa aberta, mesmo que sem emitir ações.

Com o registro, quando o mercado se mostrar mais favorável, a empresa pode lançar uma oferta focada em pessoas físicas. "Não é porque o mercado piorou que a empresa tem de desistir. Um IPO faz parte do plano estratégico da companhia."

Sai o IPO, entra o M&A

Dois grupos de empresas em diferentes situações podem se tornar alvo de aquisições nos próximos meses.

O primeiro é formado por uma fila de dezenas de companhias que ficaram pelo caminho no processo de abertura de capital, frustradas pela volatilidade do mercado. Outro inclui empresas que estrearam na bolsa, em meio à euforia do mercado, mas viram suas ações despencarem diante da maior aversão ao risco por parte dos investidores.

No varejo, o Grupo Avenida e o e-commerce Privalia são alguns dos exemplos de empresas que já sondam possíveis saídas para capitalização após desistir de suas ofertas inicias de ações (IPO, na sigla em inglês), apurou o Estadão.

"Vemos uma boa oportunidade para aquisições nesses IPOs que ficaram no caminho. Podemos ver tanto operações com investidores estratégicos como com fundos, que podem substituir a estratégia de IPO", disse o responsável para área de fusões e aquisições do Bank of America, Diogo Aragão.

Segundo o executivo, outro tipo de empresa que se tornou foco de atenção é aquele em que o preço das ações sofreu forte baque desde o IPO, como ocorreu com algumas empresas de tecnologia. "Várias dessas empresas já estavam no radar e optaram pelo voo solo com o IPO. Agora pode ser que algumas cogitem buscar um investidor", disse Aragão.

Os exemplos já começam a aparecer. A holding de comercialização de energia Comerc, que estava em vias de abrir capital e que tinha, a despeito da enorme volatilidade, demanda para concluir sua oferta, conseguiu melhores condições em um M&A - e acabou sendo vendida à Vibra, antiga BR Distribuidora.

Entre as empresas que conseguiram fazer o IPO, mas que acabaram se tornando alvo de aquisição está a do setor de tecnologia Mosaico, dona do site Buscapé, que foi vendida para o banco Pan, do BTG Pactual, transação anunciada no mês passado.

Com as empresas partindo para consolidar seus mercados, o ano já é de recorde quando se trata de fusões e aquisições no Brasil. Este ano já superou o total de transações do ano passado, segundo a consultoria PwC, quando foram registradas um pouco mais de mil operações no Brasil, pelo levantamento. A projeção é de que o ano tenha 1,4 mil transações. Segundo Leonardo Dell'Oso sócio da PwC, será o maior volume da história.

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