“Selic a 2% disparou uma busca desesperada por mais retorno. A bolsa foi o ativo preferencial, mas surgiram alternativas, inclusive, fundos ilíquidos”, diz Marcelo Cabral, da Neo (Divulgação/Divulgação)
Repórter
Publicado em 5 de fevereiro de 2024 às 16h46.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2024 às 16h51.
Marcelo Cabral, CEO da gestora Neo Investimentos, acredita que irá demorar pelo menos algumas décadas para a China se tornar um país desenvolvido. Apesar do crescimento acelerado, o país vem dando sinais de desgaste, como a crise do setor imobiliário e a constante necessidade de incentivos do governo. Mas, outros fatores estruturais têm preocupado ainda mais o executivo.
"Existem problemas demográficos por decisões do passado. Apesar de ter uma população muito grande, ela tende a não crescer. Isso tudo joga contra a produtividade. Provavelmente veremos uma China sem dinamismo [nos próximos anos], como o Japão. Mas sem se tornar um país desenvolvido", afirma em entrevista ao Vozes do Mercado, da Exame Invest. Outro fator que, de acordo com o CEO da Neo, deve manter a China abaixo dos países desenvolvidos é a menor liberdade econômica. "Não dá para se ter um país desenvolvido com o nível de centralização que eles têm."
Assim como Cabral, parte significativa do mercado tem estado mais pessimista com a China. A piora das perspectivas tem como pano de fundo a menor taxa de crescimento, intervencionismo do governo e a recente busca de empresas ocidentais por manter a produção mais próxima dos mercados consumidores.
Apesar dos riscos, Cabral não vê grande probabilidade de efeitos negativos sobre o Brasil, mesmo tendo a China como principal parceira comercial. No longo prazo, afirmou, o efeito sobre a economia brasileira deve ser bastante limitado
"Não vai deixar de ter demanda pelas commodities do Brasil", diz Cabral. A expectativa, no entanto, é de que ocorra uma transição dessa demanda. "Existia o risco de colapsar a demanda por minério de ferro, com a piora do mercado imobiliário chinês. Mas houve aumento da demanda para a fabricação de carros elétricos. Trocou-se a finalidade, mas a demanda continuou."
O maior risco para o Brasil, afirmou, seria um colapso de curto prazo. Mas, Cabral aponta que a probabilidade de isso se concretizar é baixa, já que parte significativa dos ativos e passivos do país estão nas mãos de um mesmo detentor: o governo central.
"Está havendo um reequilíbrio do mercado imobiliário, após a Evergrande ter deixado US$ 320 bilhões de dívida. Mas não há pânico. Provavelmente, não haverá um colapso da economia chinesa."
Assista à entrevista com Marcelo Cabral, CEO da Neo Investimentos.