Makoto Uchida, CEO da Nissan, enfrenta desafios para reverter o declínio da montadora em meio a cortes e incertezas no mercado global. (Kim Kyung-Hoon/Reuters)
Redator na Exame
Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 10h00.
Última atualização em 5 de dezembro de 2024 às 10h53.
No início de outubro, durante uma reunião virtual com centenas de gestores, Makoto Uchida, CEO da Nissan Motor, compartilhou uma avaliação sombria: vendas e lucros abaixo do esperado exigiam cortes de empregos e produção. Com uma redução planejada de 9.000 funcionários, 20% da capacidade global e US$ 2,6 bilhões (R$ 13,5 bilhões) em custos Uchida prometeu também cortar metade de seu salário como parte de um esforço para reverter o declínio da montadora japonesa.
A Nissan, que foi pioneira no mercado de veículos elétricos (EV) com o Leaf em 2010, enfrenta um cenário desafiador. De acordo com reportagem da Reuters, nos últimos anos, a empresa perdeu espaço nos Estados Unidos e na China, enquanto rivais como Tesla e BYD ganham mercado. As decisões estratégicas, como a falta de híbridos no maior mercado da montadora, os EUA, contribuíram para o quadro difícil.
A ausência de modelos híbridos na linha da Nissan é vista como um erro crítico. Enquanto o mercado americano demonstrava alta demanda por híbridos devido ao preço elevado dos EVs e a infraestrutura limitada de carregamento, a Nissan apostou exclusivamente nos elétricos, subestimando a tendência. Uchida admitiu que a empresa não previu a rápida ascensão dos híbridos.
A montadora agora planeja lançar 34 modelos de EVs e híbridos até 2030, incluindo um híbrido plug-in nos EUA até 2026. No entanto, reverter a queda nas vendas será um desafio. Em 2022, a Nissan vendeu 3,3 milhões de veículos globalmente, uma redução de 40% em relação a 2017, com um prejuízo de US$ 30 bilhões (R$ 156 bilhões) em valor de mercado na última década.
Cortes de produção também estão em andamento. Na China, fábricas podem ser fechadas, e na América do Norte, linhas de montagem mais antigas estão sendo avaliadas para redução de turnos. A planta COMPAS no México, em parceria com a Mercedes-Benz, opera muito abaixo da capacidade e enfrenta possível encerramento.
O cenário para Uchida é agravado por incertezas políticas. A promessa do presidente eleito Donald Trump de impor tarifas de 25% sobre importações do México ameaça aumentar os custos de produção da Nissan.
Além disso, investidores ativistas têm adquirido participação na montadora, elevando a pressão para resultados. Fundos como Effissimo Capital Management e Oasis Management agora têm fatias significativas na Nissan, aumentando a cobrança por mudanças estratégicas.
Enquanto isso, a fraqueza do iene torna o Japão uma base de produção menos prioritária para cortes, mas gestores locais ainda avaliam possíveis ajustes.
Desde sua nomeação em 2019, Uchida enfrenta uma série de crises, desde os desdobramentos da saída de Carlos Ghosn até problemas de gestão e produção. Sua liderança está sendo questionada por analistas e acionistas, com muitos sugerindo uma troca no comando.
Apesar disso, Uchida mantém sua posição e reafirma seu compromisso com a recuperação da Nissan. "Estou determinado e comprometido em cumprir meu dever como CEO", declarou ele recentemente.
A estratégia de reestruturação, que inclui o fortalecimento da competitividade e a adaptação às mudanças do mercado, será determinante para o futuro da Nissan e de Uchida. Com rivais ganhando espaço e a montadora em busca de um investidor de longo prazo, os próximos meses serão cruciais para definir o destino da empresa.