Invest

'Carro voador' da Eve levanta voo — qual o impacto para Embraer?

Para analistas, potencial de valorização da Eve ainda não estaria totalmente precificado nas ações da Embraer

Voo teste: redução de risco e potencial de valorização para Embraer. (Divulgação)

Voo teste: redução de risco e potencial de valorização para Embraer. (Divulgação)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 20 de dezembro de 2025 às 14h00.

A Eve Air Mobility, braço de aeronaves elétricas conhecidas como eVTOL da Embraer (EMBJ3), concluiu com sucesso o primeiro voo de teste de seu protótipo eVTOL em escala real e não tripulado, realizado nas instalações de testes da Embraer, sua controladora. O voo é considerado marco relevante no cronograma de desenvolvimento da aeronave.

De acordo com a companhia, os próximos passos envolvem a expansão gradual dos testes para voos completos sustentados pelas asas ao longo de 2026.

A Eve também planeja fabricar mais seis protótipos para dar continuidade à campanha de ensaios em voo, com foco no processo de certificação. Paralelamente, a empresa seguirá trabalhando em conjunto com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e outros reguladores internacionais para a homologação do modelo, com as primeiras entregas e entrada em operação previstas para 2027.

Itaú BBA vê resultado positivo e reforça confiança na execução

Na avaliação do Itaú BBA, o resultado é positivo e confirma as expectativas do mercado. O banco destaca que a expertise de engenharia da Embraer foi determinante para que o protótipo apresentasse o desempenho esperado nesta fase inicial. A equipe de análise do banco mantém confiança na capacidade da empresa de executar o plano de testes até a certificação.

O relatório também reforça a visão de que a Eve segue subavaliada em relação aos pares. A companhia tem valor de mercado de cerca de US$ 1,7 bilhão, bem abaixo de concorrentes como Joby Aviation (JOBY), avaliada em US$ 12,6 bilhões, e Archer Aviation (ACHR), com US$ 5,1 bilhões, apesar de a Eve deter o maior backlog (carteira de pedidos) do setor.

O Itaú BBA reiterou o otimismo com o momento operacional da Embraer, mantendo a empresa como top pick dentro de sua cobertura, com recomendação de compra e preço-alvo US$ 75 por papel. O BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) também reiterou recomendação de compra e preço-alvo de US$ 79.

BTG destaca redução de riscos e impacto para a Embraer

Segundo o BTG, o evento representa um avanço relevante na redução de riscos do desenvolvimento do eVTOL, ao diminuir incertezas de engenharia e de projeto ligadas à arquitetura da aeronave, aos controles de voo e à integração dos sistemas.

O banco ressalta que testes desse tipo são essenciais para validar o plano de certificação da Eve. O voo inaugural, por sua vez, marca o início formal da campanha de ensaios em voo e confirma a integração de sistemas considerados críticos.

Segundo o BTG, embora o marco já fosse parcialmente esperado, como refletido na alta de 6% das ações da Eve e de 2% dos papéis da Embraer no pregão anterior após uma prévia divulgada nas redes sociais, o potencial de valorização da Eve ainda não estaria totalmente precificado nas ações da Embraer.

O foco agora, segundo o BTG, deve se voltar para o processo de certificação junto à FAA, nos Estados Unidos, e à ANAC, no Brasil. A Eve mira obter certificação com as duas autoridades até 2027. O processo já foi iniciado com a ANAC, enquanto a certificação pela FAA deve ocorrer na sequência. A empresa também mantém conversas com a EASA, na Europa, e outros reguladores.

Do ponto de vista financeiro, o banco destaca que o aumento de capital anunciado em agosto, somado ao financiamento recente de R$ 200 milhões do BNDES, oferece maior flexibilidade para sustentar a companhia ao longo do cronograma de certificação.

Para a Embraer, o sucesso do voo representa um marco importante, especialmente porque os eVTOLs constituem uma categoria totalmente nova de aeronaves e, portanto, carregam riscos técnicos e de execução elevados, que já se materializaram em concorrentes que enfrentaram incidentes durante testes não tripulados. O BTG avalia que esse avanço reduz riscos relevantes da tese de investimento da Eve e, por consequência, da própria Embraer.

Atualmente, a Eve tem valor de mercado de cerca de US$ 1,7 bilhão. Aplicando a participação proporcional da Embraer, o banco estima um valor incremental de aproximadamente US$ 1,2 bilhão para a fabricante brasileira, o equivalente a cerca de 11% do valor de mercado da Embraer.

Com o primeiro voo concluído e o avanço no processo de certificação, o BTG vê espaço para uma reprecificação da Eve, em linha com o observado entre pares listados, o que poderia ampliar ainda mais o potencial de valorização da Embraer.

Além disso, o banco avalia que o marco pode acelerar a conversão de cartas de intenção em pedidos firmes, o que tende a reforçar a geração de caixa futura da Embraer. A carteira atual de encomendas da Eve soma US$ 14 bilhões.

Considerando esse avanço, o forte ritmo de pedidos nas demais divisões da Embraer ao redor do mundo, incluindo oportunidades crescentes na Índia, e uma execução operacional considerada sólida, o BTG reforça sua convicção positiva na Embraer, classificada como uma de suas principais recomendações.

Acompanhe tudo sobre:Embraer

Mais de Invest

O que é nilismo financeiro — e por que ele foi abraçado pela geração Z

São Paulo quer mais governança no time e convoca 'investor day' em telão da Nasdaq

WEG, Bradesco e Sabesp: empresas correm para aprovar dividendos antes de IR

Ao bloquear conteúdo para assinante 'básico', Netflix traz 'Black Mirror' para vida real