Dólar: Já a divulgação das estatísticas mensais do setor externo, que inclui números de Investimento Direto no País (IDP), marcada para esta segunda-feira, foi postergada para uma data ainda não anunciada, assim como as estatísticas de crédito e fiscal (Mohamed Azakir/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 28 de março de 2022 às 17h21.
Última atualização em 28 de março de 2022 às 17h23.
As paralisações diárias que os servidores do Banco Central (BC) têm realizado nas últimas duas semanas causaram atrasos na divulgação da taxa de câmbio Ptax, usado como referência para o dólar comercial, das expectativas de mercado e das estatísticas econômicas publicadas mensalmente pela instituição.
Desde o início do movimento dos servidores, houve atraso na divulgação da taxa de câmbio, a Ptax, em vários dias. O índice é utilizado pelo mercado como referência para os movimentos de câmbio, por exportadores e importadores e para o dólar comercial.
Além disso, o relatório Focus, que reúne as projeções de mercado, teve sua divulgação adiada das 8h30 para às 10h. É a segunda semana consecutiva que essa publicação atrasa pelo mesmo motivo.
Já a divulgação das estatísticas mensais do setor externo, que inclui números de Investimento Direto no País (IDP), marcada para esta segunda-feira, foi postergada para uma data ainda não anunciada, assim como as estatísticas de crédito e fiscal.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, explica que o atraso na divulgação, como o Focus e as estatísticas do setor externo, afeta as negociações conhecidas como intraday.
Como as publicações normalmente são feitas antes da abertura do mercado, há tempo para os agentes internalizarem as novas informações. Com o atraso, a tendência é de espera até que as informações se tornem públicas.
— Quando a gente não tem isso antes de abrir o mercado, existe essa espera na verdade, porque você tá em vias de receber uma informação, talvez até mesmo mudar o cenário que você tem sobre alguma variável, alguma empresa, posição que vai montar. A gente costuma ver uma espera maior do mercado, sem muitos acordos — apontou Argenta.
Segundo o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), os atrasos decorrem das paralisações diárias que têm acontecido entre 14h e 18h desde o dia 17 de março.
O presidente do Sinal, Fabio Faiad, informou que houve uma reunião com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, no sábado, mas sem proposta oficial do governo de reajuste. Com isso, o sindicato se reúne nesta segunda-feira para debater sobre o início de greve no dia 1º de abril.
Argenta ressalta que se houver greve, a falta ou atraso da divulgação de indicadores do Banco Central pode “prejudicar muito” as análises do mercado.
— Se houver de fato uma greve e ficarmos sem indicadores que são extremamente relevantes num período em que a realidade mudou muito e está sendo mensurada, esses são os primeiros indicadores macroeconômicos que começamos a ver desde a eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia, isso pode prejudicar muito as análises internas para atividade econômica, evolução econômica — disse.
Os servidores querem reajustes salariais, assim como os prometidos para policiais, como da Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Departamento Penitenciário Nacional, além de reestruturação de carreiras.
Em entrevista sobre o Relatório Trimestral de Inflação na última quinta-feira, Campos Neto disse que o Banco Central tem esquemas de contingência "caso algo mais severo aconteça".
— Primeiro, respeito o direito dos funcionários de exercer qualquer tipo de manifestação, entendo que os funcionários do Banco Central tem um enorme senso de responsabilidade com a qualidade e as entregas dos serviços para a sociedade e que nós temos esquemas de contingência caso algo mais severo aconteça — disse na oportunidade.
Em assembleia nesta segunda-feira, os servidores do Banco Central decidiram entrar em greve por tempo indeterminado a partir do dia 1º de abril.
Os funcionários do BC iniciaram uma campanha por reajuste de salários e reestruturação de carreiras no fim do ano passado na esteira de uma sinalização do governo de que daria reajuste apenas para integrantes da Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Desde então, o presidente Jair Bolsonaro tem dado sinais diferentes sobre o reajuste. Em janeiro, ele disse que não garantia o reajuste para policiais, em fevereiro chegou a afirmar que poderia ficar para 2023 por conta de "ameaças de greve" de outras categorias e depois pediu "compreensão" de outras categorias porque precisaria "valorizar" a PRF.
A sinalização de reajuste para essas categorias tem sido utilizada como argumento pelo Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (BC) para um aumento nos salários dos servidores da autarquia.
O reajuste pedido é de 26,3%. Analistas do Banco Central tem salário inicial de R$ 19.197,06 que pode chegar a R$ 27.396,67 no topo da carreira.