Azul e Gol: É hora de voltar a comprar ação para lucrar com a retomada?
Avanço da vacinação estimula volta da demanda, e há bancos que já recomendam os papeis; mas há riscos importantes não só relacionados diretamente à pandemia
Beatriz Quesada
Publicado em 1 de março de 2021 às 06h10.
Há um ano, as ações preferenciais de Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) desabaram 14,31% e 13,30% respectivamente, liderando as quedas do Ibovespa no primeiro pregão em que a bolsa brasileira deu de cara com a pandemia do novo coronavírus.
Passados 12 meses, nenhum dos dois papéis se recuperou completamente. A Azul acumula queda de 27,04% no período, e a Gol está em situação ainda mais grave: recuo acumulado de 36,04%. Vale dizer que o preço das ações já superou o momento mais agudo da crise –mas ainda falta retornar aos patamares pré-Covid-19.
Para isso, é preciso contar com o avanço da vacinação. A baixa demanda por voos reflete um ritmo de imunização abaixo do esperado no mundo inteiro e, principalmente, no Brasil.
Na última quinta-feira, 25, o país registrou seu pior dado em número de mortes diárias desde o começo da pandemia: 1.582. Enquanto isso, a imunização avança devagar: seriam necessários dois anos e meio para imunizar 75% da população no ritmo de vacinação atual.
Para além da falta de demanda, as aéreas também sofrem pressão com a alta do petróleo , que encarece a operação dessas companhias. Nos últimos doze meses, o preço dos barris do petróleo Brent e WTI acumulou aumento de 28% e 38%, respectivamente. A alta da commodity impacta diretamente o preço do combustível usado nas aeronaves, que representa boa parte do custo operacional das aéreas.
Outro fator de estresse é o câmbio , com o dólar avançando 24% contra o real no mesmo período. “A estrutura das empresas aéreas é 100% dolarizada e a receita em reais ainda está muito aquém da expectativa por causa da lentidão na vacinação. O descompasso aumenta os custos operacionais”, afirma Bruno Lima, head de renda variável da EXAME Invest Pro .
Lima defende que a discussão de aumento de custos ainda não está refletida no preço atual dos ativos, o que pode representar um desafio adicional para os papéis de Azul e Gol. “O mercado está muito focado na recuperação da demanda e pode se surpreender com o aspecto do custo”, pontua.
O cenário pode ficar ainda mais nebuloso caso a crise se desdobre. “A extensão da segunda onda da pandemia –ou mesmo a chegada de uma terceira onda–deve impactar ainda mais as empresas do setor. É um cenário extremamente incerto”, argumenta Caio Rodrigues, head de produtos da Speed Invest.
Luz no fim do túnel?
Apesar dos obstáculos, a situação já é mais favorável do que era no ano passado. “A maioria dos analistas espera uma recuperação plena do setor apenas em 2023, mas já é possível ver a luz no fim do túnel. Antes, não sabíamos o que esperar, mas agora existe um horizonte que é a vacinação”, afirma Bruno Musa, economista e sócio da Acqua Investimentos.
A expectativa é que a imunização desperte uma demanda reprimida por viagens, principalmente internacionais, que ficaram em suspenso por causa da circulação do vírus. O foco a curto prazo, porém, são os voos domésticos.
Nesse ponto, a Azul leva vantagem. A empresa atuou na pandemia para focar sua estratégia de negócios nas rotas alternativas e em pequenos centros urbanos. São rotas nas quais atua, muitas vezes, como única aérea.
Com a retomada dos voos locais no radar, o banco BTG Pactual, do mesmo grupo controlador da EXAME, recomendou a compra dos papéis de Gol e Azul em relatório divulgado no início de fevereiro.
Já o Bradesco BBI mantém recomendação neutra para as duas aéreas, mas aumentou o preço-alvo de 23 reais para 25 reais no caso da GOLL4, e de 27 reais para 40 reais para AZUL4. A expectativa dos analistas do banco é a de que o cenário melhore para as ações principalmente a partir de 2022.
Considerando um cenário de retomada, a Gol pode ser mais penalizada por ter uma exposição maior ao segmento corporativo, que foi substituído na pandemia por reuniões e eventos virtuais.
É cedo, no entanto, para cravar qualquer previsão. “Algumas viagens a negócios vão deixar de existir, principalmente aquelas em que a ida e a volta eram no mesmo dia. Mas acredito que a mudança não será assim tão radical. De toda forma, é um cenário ainda muito especulativo, não há como saber ao certo como a demanda vai se acomodar”, conclui Musa.