Dólar: o desenvolvimento de vacinas estimula a demanda por ativos mais arriscados em relação ao dólar (halduns/Getty Images)
Karla Mamona
Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 16h38.
(Bloomberg) -- Uma sensação de mal-estar paira sobre uma das apostas de fim de ano mais destacadas de Wall Street. O Goldman Sachs vê espaço de sobra para apostar contra o dólar, o diretor de investimentos do Morgan Stanley espera queda de 10% e o Citigroup projeta um deslize de até 20% em 2021. Mas o endosso dos pesos-pesados do setor financeiro pode trazer perdas para o mercado. Com isso, alguns poucos corajosos começam a alertar para uma reversão se a moeda dos EUA se mostrar mais resistente do que o previsto.
As apostas contra o dólar agora estão entre as mais populares, perdendo apenas para ações de tecnologia, de acordo com o Bank of America. É fácil ver por quê: trilhões em possíveis gastos devem elevar o déficit, o Federal Reserve praticamente eliminou a vantagem de rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA ao cortar os juros para perto de zero e o desenvolvimento de vacinas estimula a demanda por ativos mais arriscados em relação ao dólar.
No entanto, as perspectivas de crescimento dos EUA como resultado dessas ações podem ser exatamente o que é necessário para atrair investidores de volta aos ativos americanos. “As chaves para uma recuperação do dólar são controlar o vírus e mais estímulos”, disse Win Thin, da Brown Brothers Harriman. Se ambas as coisas forem concretizadas, o dólar começará a buscar um piso após o primeiro trimestre.
Não seria a primeira vez que uma aposta popular de fim de ano se reverteria rapidamente, ou mesmo a primeira vez que projeções de queda do dólar saíram pela culatra. O fim iminente do ciclo altista de vários anos da moeda americana também foi esperado no final de 2017 e 2018, mas a moeda subiu no primeiro prognóstico de queda e caiu pouco menos de 1% no segundo.
O índice Bloomberg Dollar Spot, que acompanha o desempenho do dólar contra 10 moedas, caiu na quinta-feira para o nível mais baixo desde abril de 2018. Está a caminho de seu pior ano desde 2017, depois de cair durante sete dos últimos oito meses.
Ainda assim, isso não impediu que os pessimistas acumulassem apostas de que a moeda cairá ainda mais. As apostas contra o dólar aumentaram constantemente no último mês, e agora estão perto do maior nível em mais de dois anos, segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities.
“Existe o risco de o mercado ser muito unilateral”, disse Jane Foley, chefe de estratégia de câmbio do Rabobank. “Pode ser que o consenso esteja errado com relação à política do Fed ou às expectativas de inflação nos EUA, o que poderia impulsionar o dólar.”