Caixa Seguridade tem estreia prevista na B3 para próxima quinta-feira, 29 (Eduardo Frazão/Exame)
Paula Barra
Publicado em 23 de abril de 2021 às 06h30.
Na próxima segunda-feira, 26, encerra o período de reserva para investidores aderirem à oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da Caixa Seguridade, controlada pela Caixa Econômica Federal.
A precificação da oferta está prevista para o dia 27 de abril e a estreia na Bolsa, no dia 29, sob o código CXSE3.
A operação pode movimentar até 6,5 bilhões de reais, caso seja utilizado todo o lote suplementar e considerando o topo da faixa indicativa (que vai de 9,33 reais a 12,67 reais por ação), – no que pode ser o maior IPO da B3 até o momento este ano. Esse valor superaria a oferta da CSN Mineração (CMIN3), que movimentou 5,2 bilhões de reais no fim de março.
A oferta da Caixa Seguridade – a terceira maior seguradora do país, com participação de mercado de 13,5% – vai ser inteiramente secundária (quando o dinheiro não vai para o caixa da empresa, mas para o acionista vendedor dos papéis, no caso, a Caixa Econômica).
A Caixa vai vender até 17,3% da empresa, com a oferta de 450 milhões de ações, que poderá ser acrescida de um lote suplementar de 67,5 milhões de ações.
Metade dessa oferta será destinada aos investidores de varejo, sendo 10% para os funcionários da empresa e os 40% restantes para os demais interessados.
Para fazer a reserva de ações da companhia, o investidor precisa avisar a sua corretora sobre quantos papéis gostaria de comprar no IPO e por qual preço. Para o investidor de varejo, o valor mínimo para participar da oferta é de 1.000 reais e o máximo de 1 milhão de reais.
Os investidores de varejo que concordarem com o lock-up terão prioridade na oferta, mas não poderão alienar ou alugar suas ações pelo prazo de 45 dias corridos após a conclusão do IPO.
Um montante de 38% do total de ações (considerando ações suplementares) será alocado aos investidores de varejo que concordarem com o lock-up. Os que aderirem à oferta sem lock-up terão garantido o direito de participar de, no mínimo, 2% do total da oferta.
Apesar da ampla capilaridade da empresa – a Caixa Seguridade tem o direito exclusivo, até 2050 (renovável por períodos sucessivos de 35 anos), de acessar a base de mais de 140 milhões de clientes da Caixa Econômica, assim como explorar sua rede de atendimento físico, espalhada pelos 5.570 municípios do país –, analistas de mercado se mostram céticos quanto à oferta.
Um dos principal entraves é o risco de interferência governamental, já que a companhia é controlada por um banco estatal, principalmente tendo em vista as recentes polêmicas envolvendo as saídas dos presidentes do Banco do Brasil (BBAS3), Petrobras (PETR3; PETR4) e Eletrobras (ELET3; ELET6).
"Existe um risco relevante de desalinhamento entre o controlador e a companhia. O banco pode intervir de forma a diminuir
discricionariamente sua rentabilidade", comentaram os analistas Rodrigo Wainberg e João Daronco, da Suno Research.
Além disso, o preço não convidativo da oferta deixa o mercado com o pé atrás.
No ponto médio da faixa indicativa, as ações da Caixa Seguridade negociariam com um múltiplo preço sobre lucro (P/L) projetado para 2022 de 12,2 vezes, valor elevado quanto comparado com suas principais concorrentes na Bolsa, comentaram os analistas da Levante Investimentos, que recomendam aos investidores que não entrem no IPO.
Entre seus pares na B3, os papéis da SulAmérica (SULA11), BB Seguridade (BBSE3) e Porto Seguro (PSSA3) negociam a 11,9 vezes, 9,6 vezes e 9,0 vezes, respectivamente.
A Suno também recomenda não aderir à oferta. "Considerando o valuation atual – a companhia negocia com um prêmio em relação à Seguridade do Banco do Brasil, que historicamente temuma governança melhor e clientes de renda mais alta –, além da falta de visibilidade sobre as consequências da reestruturação societária, optamos por não aderir ao IPO", disseram Wainberg e Daronco.
Eles apontam, no entanto, que acreditam que a reestruturação societária que a companhia tem realizado pode trazer resultados positivos e, por isso, seguirão acompanhando a empresa, podendo recomendá-la no futuro.
Além disso, reforçam que a empresa é uma das seguradoras com maior capilaridade no mercado, por dispor de uma base elevada de potenciais clientes da Caixa, o que a concede um diferencial importante em relação às demais.
Nos últimos dois anos, a Caixa Seguridade foi a empresa que mais cresceu em participação de mercado, saindo do quinto para o terceiro lugar em faturamento de prêmios emitidos, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Em 2020, a companhia registrou faturamento de 35,9 bilhões de reais, crescimento de 13,1% em relação ao ano anterior, e lucro líquido alcançou 1,8 bilhão de reais, avanço de 15,2% na mesma base de comparação.