Victor Noda, Marcelo Marques e Mario Fernandes, sócios-fundadores da Mobly: empresa busca usar tecnologia para diminuir a desconfiança dos clientes com a compra de móveis online (Germano Luders/Exame)
Marcelo Sakate
Publicado em 7 de dezembro de 2020 às 19h52.
Última atualização em 7 de dezembro de 2020 às 20h32.
A temporada de IPOs (sigla em inglês para ofertas públicas iniciais) na bolsa brasileira continua tão aquecida que criou uma batalha particular: três empresas que atuam no mesmo segmento vão passar da disputa pelo consumidor para a briga pelos milhões de reais de investidores institucionais e estrangeiros em suas respectivas ofertas.
A Mobly protocolou nesta segunda-feira, 7, seu pedido de IPO, juntando-se à Westwing (que havia feito o mesmo na sexta passada) e à Tok&Stok, cujo pedido de oferta foi registrado em outubro.
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As três companhias estão entre as maiores varejistas do país na venda de móveis e artigos de decoração, com diferentes armas e origens: as duas primeiras são nativas digitais com menos de uma década de existência e forte crescimento, enquanto a Tok&Stok é uma companhia com 42 anos com liderança concentrada em lojas físicas em capitais.
Em comum, as três companhias se beneficiaram dos novos padrões de comportamento dos brasileiros com a pandemia, com um aumento do interesse e dos gastos com produtos e serviços para casa. A Mobly e a Westwing levaram vantagem por causa da presença predominantemente online, enquanto a Tok&Stok chegou a fechar todas as lojas no início da pandemia. As três também tiraram proveito do forte crescimento na venda de imóveis com as menores taxas de juro para o crédito habitacional da história do país.
A Mobly foi fundada em 2011 pelos empreendedores Victor Noda, Marcelo Marques e Mario Fernandes, com recursos do gigante fundo alemão Rocket Internet, especializado em investir em empresas de e-commerce. Com apelo no preço e foco no público das classes B e C, a companhia também aposta no amplo sortimento — são mais de 200.000 produtos — e na experiência por meio de ferramentas de realidade aumentada, com tecnologia proprietária, para oferecer uma experiência de compra mais atraente.
Embora se apresente como uma empresa de tecnologia, a Mobly diz que é a líder nacional no segmento de home & living, com uma base de 925.000 clientes ativos (em setembro), mais de 1,2 milhão de pedidos e mais de 560 milhões de reais em GMV (sigla em inglês para volume bruto de mercadorias) nos nove primeiros meses do ano: 90% das vendas aconteceram por meio de canais digitais, em sua própria plataforma e nos maiores marketplaces do país, como Magazine Luiza, Mercado Livre, Via Varejo e Amazon.
A empresa teve receitas líquidas de 420,8 milhões de reais de janeiro a setembro, com margem Ebitda de 3,4%. Dos produtos vendidos, 39% eram de marca própria, ampliando a margem bruta. Outro diferencial apresentado no prospecto é o fato de a Mobly dispor de uma unidade logística que respondeu por 37% de suas entregas no período.
Na guerra de narrativas para convencer investidores, a Mobly vai disputar os holofotes com a Westwing. Fundada em 2011 também com a Rocket por trás, a companhia aposta na experiência e no engajamento dos usuários por meio de redes sociais e ferramentas de interatividade para ampliar as vendas e alavancar o crescimento: teve 728.000 visitantes únicos mensais no terceiro trimestre, 266.000 clientes ativos e apresentava mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, armas utilizadas para criar recorrência de compra.
A Westwing, atualmente controlada pelo empreendedor Andres Mutschler, que é o presidente da companhia, e a gestora de private equity Axxon Group, contou com a pandemia para acelerar fortemente o ritmo de crescimento. O GMV praticamente dobrou nos nove primeiros meses de 2020 em relação ao mesmo período de 2019, saltando de 139 milhões para 270 milhões de reais. A margem Ebitda foi positiva em 6,2% no período.
As receitas líquidas chegaram a 168 milhões de reais de janeiro a setembro. Segundo a companhia, 83% de pessoas que fizeram compras de janeiro a setembro já haviam feito duas ou mais aquisições na plataforma.
A terceira candidata a protagonista é a companhia mais conhecida dos brasileiros no segmento: a Tok&Stok. A empresa fundada em 1978 pelo casal francês Régis e Ghislaine Dubrule e controlada desde 2012 pelo fundo americano de private equity Carlyle (com 60% do capital) é a líder na venda de móveis para as classes A e B.
A tradicional companhia atravessa um momento de transição, com a chegada do experiente executivo Octavio Pereira Lopes há poucos meses como CEO. Um antigo sócio da GP Investments, Lopes chegou com a missão de conduzir o IPO e dar saída ao Carlyle, além de ampliar as vendas por meio de canais digitais nesse caminho.
Até o ano passado, apenas 11% da receita líquida da Tok&Stok vinha do e-commerce. Essa fatia mais do que dobrou nos nove primeiros meses de 2020, para 24%, mas isso aconteceu em parte por causa do fechamento de suas lojas físicas em meio às medidas de isolamento social com a pandemia do novo coronavírus. Um reflexo disso é que as receitas líquidas totalizaram 668 milhões de reais de janeiro a setembro, com queda de 23,4% em relação ao mesmo período de 2019. A margem ficou em 5,9% no período.