3 motivos para vender ações de e-commerce e 1 para comprar
Destaques de valorização em 2020, empresas do setor ficam para trás no rali das bolsas diante da preferência de investidores por ações que ficaram 'descontadas' ao longo da pandemia
Guilherme Guilherme
Publicado em 11 de maio de 2021 às 06h25.
Dois dos maiores grupos de e-commerce do país, Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VVAR3), irão apresentar seus resultados do primeiro trimestre nesta quarta, dia 12, e na quinta, dia 13, respectivamente. Mas, ainda que os resultados apresentem forte crescimento, como já é esperado, analistas veem pouco espaço para altas intensas.
Nem o elogiado balanço da B2W (BTOW3), divulgado na última semana, animou os investidores. No primeiro trimestre, a companhia aumentou suas vendas brutas em 90,4% na comparação anual e, ainda assim, seus papéis fecharam em queda após o resultado.
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Com quadro bem diferente daquele visto em boa parte de 2020, quando as três empresas de e-commerce tiveram valorização acima de 70% na bolsa, neste ano todas se encontram entre as 10 maiores quedas do Ibovespa. Nos três casos, a desvalorização acumulada ultrapassa os 20%, contra uma alta de 2,43% do Ibovespa no ano.
Outra gigante do e-commerce nacional, ainda que de origem argentina e listagem na Nasdaq, o Mercado Livre igualmente acumula queda nas suas ações neste ano, da ordem de 17%.
Empresas de tecnologia também patinam. Um dos destaques da bolsa em 2020, quando subiu perto de 350%, a ação da Locaweb (LWSA3) recuou 10% na semana passada.
E não é um fenômeno doméstico. Até a maior empresa de e-commerce do mundo, a Amazon, enfrenta dificuldades para decolar em 2021: as ações acumulam queda de 2% no ano e de 8% desde o fim de abril.
A resistência sobre o setor não se restringe às ações do Ibovespa. Fora do índice, a Westwing (WEST3)acumula 31,54% de queda desde sua oferta pública inicial ( IPO, na sigla em inglês) em 11 de fevereiro deste ano.
Uma semana antes, as ações da Mosaico (MOSI3) e da Mobly (MBLY3) estrearam na B3 com altas expressivas de 96% e 27%, respectivamente. Mas, se o foco era o curto prazo, o investimento só se mostrou vantajoso para quem comprou as ações no IPO. Isso porque, desde a estreia, Mosaico e Mobly acumulam respectivamente quedas de 44% e 24,28%.
Em meio às fortes desvalorizações de papéis de tecnologia que até então eram tidos como promessas da bolsa surge o dilema: afinal, é hora de vender ou aproveitar a queda para comprar ainda mais? Veja o que analistas têm a dizer.
Por que vender?
1. Rotação de posições
Desde que as primeiras vacinas se mostraram eficazes contra o novo coronavírus, no fim de 2020, gestores do mundo inteiro vêm trocando as ações de tecnologia compradas no início da pandemia por papéis de empresas que podem se beneficiar do relaxamento das medidas de isolamento e da reabertura da economia.
“No ano passado, o e-commerce teve uma performance muito boa, mas está acontecendo a rotação de portfólio. Com a pandemia, muitas pessoas passaram a utilizar os meios digitais, o que foi fantástico para essas empresas. Mas, hoje, a tese da maioria dos gestores é para a volta ao ‘normal’ propiciada pela vacina”, diz Pedro Serra, analista da Ativa Investimentos.
Nesse movimento, investidores têm dado preferência às ações de varejistas mais dependentes de lojas físicas ao passo que vendem aquelas ligadas ao e-commerce.
Na bolsa, os papéis de empresas administradoras de shopping centers, como Iguatemi (IGTA3), Multiplan (MULT3) e BrMalls (BRML3), já subiram mais de 8% no ano. Somente em um mês, as ações das varejistas de moda Guararapes (GUAR3) e Marisa (AMAR3) subiram mais de 20% e 10%, respectivamente.
Mas são as ações ligadas ao turismo e ao entretenimento presencial que estão saindo como grandes vencedoras desse movimento de recuperação -- desde que, é claro, o investidor tenha entrado na baixa: os papéis da CVC (CVCB3) e da Time For Fun (SHOW3) apresentam respectivamente alta de cerca de 24% e 34% em um mês.
2. Expectativa elevada
Ainda que investidores já comecem se posicionar para o próximo capítulo, o comércio eletrônico deve continuar apresentando bons resultados, pelo menos, no primeiro semestre -- ainda mais considerando o aperto das medidas de isolamento entre março e abril. Essa expectativa, porém, já está no preço das ações e isso deve dificultar que um resultado muito acima do esperado seja um gatilho para as ações.
“A pandemia antecipou muito o desenvolvimento para o e-commerce. Algumas empresas no exterior já têm reportado números abaixo do consenso de mercado, que espera pelo crescimento”, diz Vitor Melo, analista da EXAME Invest Pro.
Para o resultado do Magazine Luiza, que será divulgado na quinta, o consenso de mercado colhido pela Bloomberg antes do início da temporada de balanços era de alta de 405% de lucro líquido na comparação anual. Para o resultado da Via (ex-Via Varejo), que sairá na quarta, as expectativas são ainda maiores, de aumento de 680%.
3. Alta de juros
Ainda que já precificada nas ações, a esperada alta da taxa de juros Selic para 5% ao ano até dezembro deve afetar negativamente o setor de tecnologia e, em especial, o de e-commerce, uma vez que a medida tende a esfriar a economia e tornar mais cara as compras parceladas.
O que não está totalmente precificado é uma possível alta de juros no mercado americano. Ainda que o Federal Reserve (Fed) já tenha sinalizado que irá mantê-lo próximo de zero até 2023, crescem as preocupações de que o juro tenha que ser elevado para conter a alta da inflação, que se acelera acima da meta nos Estados Unidos.
“Se a inflação americana fizer os juros [com vencimentos] longos subirem nos Estados Unidos, vai pressionar o Fed a aumentar os juros mais cedo. E se os juros sobem na maior economia do mundo, a tendência é que o restante do mundo também suba, principalmente os países emergentes”, diz Paloma Brum, economista da Toro Investimentos.
Os juros mais altos, explica Brum, afetam principalmente empresas que precisam de mais crédito para financiar projetos de crescimento. “Com o juro mais alto, a tendência é que os projetos de companhias de e-commerce sejam menos arrojadas”, diz.
Por que comprar?
1. Hábitos de consumo
Apesar do momento turbulento para as ações de e-commerce, analistas ainda veem um grande potencial de crescimento para o setor, especialmente porque a compra por meio digital popularizou durante a pandemia.
De acordo com dados da MCC-ENET, da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, as vendas online cresceram 74% em 2020, enquanto o faturamento avançou 83,7%. Nos três primeiros meses de 2021, o crescimento acumulado no ano já estava em 27,6%. Somente em março, as vendas aumentaram 72,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Já o varejo como um todo caiu 0,6% no mesmo mês.
“A questão é quem serão os ganhadores dessa nova economia. Não tenho dúvida nenhuma de que o mundo mudou e que o e-commerce vai fazer parte da vida das pessoas”, afirma Melo, da EXAME Invest Pro.
A estrada de crescimento é enorme. Segundo a MCC-ENET, a base de clientes do e-commerce brasileiro era equivalente a 17,2% da população. Nos Estados Unidos, 230,5 milhões de pessoas fazem compras online, de acordo com o site especializado Statista. A quantidade corresponde a cerca de 70% dos americanos.
“Análises de longo prazo podem sugerir que o investidor mantenha posição na carteira. Mas é preciso avaliar os fundamentos da empresa. Nesse processo, haverá vencedores e perdedores”, diz Brum.