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Comprar alimentos perto do vencimento por app? Sim, isso é possível

SuperOpa vende produtos com preço até 70% mais baixos; startup tem parceria com a Ambev e vê futuro promissor com sustentabilidade

Leandro Zanardi e Luís Borba, executivos à frente da SuperOpa: tecnologia a serviço da sustentabilidade (divulgação/Divulgação)

Leandro Zanardi e Luís Borba, executivos à frente da SuperOpa: tecnologia a serviço da sustentabilidade (divulgação/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 10 de dezembro de 2020 às 16h00.

Última atualização em 11 de dezembro de 2020 às 14h23.

Comprar alimentos é uma necessidade unânime em todos os lares – mas, essa nem sempre é uma atividade fácil de ser cumprida. Em novembro deste ano, a inflação atingiu o maior resultado para o mês dos últimos cinco anos e um dos principais grupos responsáveis por puxar o índice para cima foi, justamente, o dos alimentos. Ao mesmo tempo, o país não é exatamente um exemplo a ser seguido quando o assunto é desperdício: um relatório da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostra que 62% dos supermercados não têm um programa de doação bem definido e 29% não têm iniciativas de reaproveitamento.

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De olho nesse problema, o SuperOpa, marketplace da indústria de alimentos, surgiu no mercado. Com operação em mais de 500 cidades dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, a startup permite que clientes comprem produtos direto das distribuidoras com 5% a 10% de desconto sobre os preços praticados no varejo – e, além disso, permite a eles comprar alimentos próximos ao vencimento com até 70% de desconto sobre o preço praticado no varejo.

A ideia para fundar a empresa começou há quatro anos, quando ele ainda estava cursando Administração na Fundação Getúlio Vargas e decidiu ingressar em uma disciplina para a qual teve de propor uma solução de tecnologia para um problema socioambiental.

“Em 2016, o conceito de gamificação ainda era muito novo e eu decidi explorá-lo. Dentro desse universo, meu grupo desenvolveu um projeto que, depois, viria a se tornar o SuperOpa. O projeto foi premiado dentro da universidade, o que já deu um gás para transformá-lo em realidade e, a partir daí, começamos a desenvolvê-lo”, afirma Luís Borba, cofundador e CEO da SuperOpa.

Para tirar a ideia do papel, ele contou com a ajuda de Leandro Zanardi, cofundador e CTO da empresa. A fim de garantir que o negócio efetivamente funcionasse, o executivo de tecnologia desenvolveu a arquitetura do sistema totalmente do zero, usando funcionalidades similares às de aplicativos de entrega para entender o hábito dos consumidores de forma ágil, além de proporcionar uma boa experiência de compra.

Em 2017, eles começaram a se aprofundar na cadeia de distribuição de produtos e começaram a ir atrás de varejistas e distribuidores dispostos a topar o modelo de negócio da companhia. Com as distribuidoras, tiveram mais sucesso do que com os varejistas e decidiram focar nesse grupo de empresas para ampliar a empresa. A partir de 2018, começaram a funcionar, efetivamente.

Para transformar o produto em uma solução de mercado, a empresa conseguiu um investimento inicial de R$ 330 mil reais. Com esse dinheiro, conseguiu evoluir o produto de forma significativa e ser convidado para apresentá-lo na Web Summit de Portugal, a maior conferência da Europa em tecnologia.

Com a visibilidade trazida pelo evento, a companhia passou a realizar uma nova rodada de investimento, que deve ser concluída no início do próximo ano e deve levantar aproximadamente R$ 2,6 milhões. Para isso, a companhia conta com aportes da Bossa Nova Investimentos e de pessoas físicas interessadas no negócio, por meio de crowdfunding.

“Na pandemia, vimos nosso negócio crescer de forma consistente. Percebemos que a pandemia aumentou a inclusão digital e isso impulsionou nosso negócio. Em março, vimos a nossa base de clientes aumentar 300% e, com isso, a quantidade de pedidos chegou a quadruplicar para alguns produtos. Queremos contribuir ainda mais para o acesso das pessoas a alimentos de qualidade e mais baratos, para que possam comprar sem precisar sair de casa. Queremos estreitar a relação com nossos clientes nas duas pontas”, afirma o CEO.

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Como o negócio funciona

A empresa decidiu que venderia os alimentos direto das distribuidoras e ficaria com 15% a 30% do valor de cada venda de alimentos realizada pela plataforma. Ao aproveitar a cadeia logística dessas empresas (hoje, são cinco parceiras), a startup consegue reduzir seus custos operacionais – e, para as distribuidoras. Isso se torna uma vantagem, já que têm a possibilidade de lucrar a partir de uma fonte alternativa de renda, muitas vezes gerada a partir de produtos que não teriam tempo para chegar ao varejo e serem vendidos por lá.

Deu certo. Hoje, a plataforma conta com mais de 800 produtos e, para ter acesso aos itens, basta baixar o aplicativo no celular ou acessar o site da empresa. Até novembro deste ano, a startup reúne mais de 20 mil clientes dentro de sua plataforma. São pessoas predominantemente das classes B e C, de 30 a 70 anos.

Aproximadamente 35% do mix de produtos comercializado pela companhia é de produtos próximos ao vencimento, que têm descontos mais atrativos. Para ter uma ideia do desperdício evitado com esse tipo de vendas, o CEO da empresa lembra que, recentemente, a startup foi encarregada de vender duzentos quilos de picanha, com vencimento dali cinco dias. Ao comercializar a carne na plataforma com 50% de desconto sobre o preço do varejo, a empresa viu esse estoque zerar já no dia seguinte.

Um dos parceiros de negócio da companhia é o Empório Mega 100, especialista em food service. A empresa tem aproximadamente 2 mil produtos em estoque e viu na parceria uma oportunidade de reduzir o desperdício.

“Como temos um giro muito grande do estoque, de aproximadamente quinze dias, temos perdas eventuais. O que a gente viu nessa parceria foi a oportunidade de reduzir isso, levando produtos de qualidade e dentro da validade para a casa das pessoas, com preços atrativos”, explica Felipe Costa, diretor operacional da empresa.

De acordo com o executivo, não há uma razão única para as perdas. Podem ser geradas a partir de testes de produtos novos – que têm uma expectativa de vendas mais alta do que a real –, ou mesmo falhas operacionais entre os centros de distribuição. Uma coisa é certa: as perdas não têm um valor irrisório. Segundo Costa, o volume financeiro atingido por elas é de, em média, R$ 100 mil a R$ 130 mil.

Na pandemia, os negócios do empório cresceram de forma consistente e, é claro, reduzir o desperdício também se tornou uma alternativa ainda mais valorizada. “Nossas vendas cresceram mais de três vezes em relação ao período pré-pandemia e, enquanto estamos preocupados com o nosso preço e logística para venda desses produtos a grandes clientes, também queremos que esse novo modelo de negócio dê certo, a fim de reduzir nossas perdas e gerar um ambiente mais sustentável”, ressalta Costa.

Próximos passos

Apesar do sucesso da venda de carne na plataforma, de acordo com os executivos, a SuperOpa já vê esse produto sendo ultrapassado por outra categoria: a de bebidas. Recentemente, a proposta da empresa chamou a atenção da Ambev e foi integrada ao laboratório de inovação em vendas da gigante de bebidas em Campinas. Como resultado, a startup está testando a venda dos produtos da empresa em sua plataforma – o que já apresenta um sucesso e tanto na região.

Motivada por esse sucesso, a companhia quer aumentar de 800 para 1200 o volume de produtos disponíveis na plataforma já no próximo ano.

Com mais produtos, mais entregas também: a companhia planeja instalar lockers em pontos estratégicos da cidade para facilitar a retirada desses produtos e acelerar o processo de logística. "Têm de ser lugares seguros e de fácil acesso para a população que queremos atingir. Estamos nos planejando para fazer isso da melhor forma possível", destaca o CEO.

E, como quase toda empresa, a companhia também pretende ter um braço financeiro em breve. A OpaPay, carteira digital da startup, deve ser lançada para facilitar o processo de compras online – ainda mais aberto agora com a chegada do Pix.

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Isso tudo, é claro, sem descuidar do principal: a sustentabilidade. Mesmo com a mudança do modelo de negócio para a venda de produtos, a companhia ainda realiza doações periódicas de alimentos que estão prestes a vencer e que, por uma causa ou outra, não têm seu estoque zerado por meio do aplicativo. “Temos isso muito claro para nós. Se algo está para vencer nos próximos cinco dias e, dois dias antes do vencimento, ainda temos estoque, fazemos a doação dele para comunidades carentes. Ficamos muito satisfeitos em fazer isso e contribuir para que pessoas carentes possam ter alimentos de boa qualidade, de graça”, finaliza o CEO.

Combate ao desperdício

A SuperOpa não é a única companhia de olho no combate ao desperdício de alimentos. Fora do Brasil, a Full Harvest Technologies tem como slogan "compre de nós ou venda para nós produtos feios" (em tradução livre). Basicamente, o que a companhia quer dizer é que é possível evitar o desperdício de alimentos considerados "fora do padrão" ideal para as prateleiras do varejo.

O esforço da companhia já produziu resultados significativos. Recentemente, co-criou com a Danone uma marca de iogurtes feita com frutas que seriam desperdiçadas durante a produção. A nova linha, chamada Good Save, deve começar a ser vendida no ano que vem.

“Há uma grande mudança no mercado de consumo e vemos isso em primeira mão, com grandes empresas chegando até nós”, disse Christine Moseley, fundadora e CEO da Full Harvest. “Esta será uma nova categoria enorme, da mesma forma que os orgânicos”, afirmou em entrevista.

Mercado para isso, não falta. Estimativas apontam que atualmente, cerca de 30% dos alimentos no mundo não são consumidos. Enquanto isso, a estimativa da ONU é de que 690 milhões de pessoas passaram fome em 2019 -- esse número pode aumentar em até 132 milhões este ano por causa da pandemia.

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