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O avanço do ERP Banking no Brasil: descubra o que é e como funcionam as iniciativas atuais

Conheça algumas das iniciativas atuais que propõe uma revolução na experiência financeira para empresas

ncept, Digital design for Business finance investment and technology advertising, Quantum Computer concept (Getty Images/Reprodução)
BD
Bruno Diniz

Sócio da Spiralem Innovation Consulting

Publicado em 7 de novembro de 2023 às 11h40.

Desde 2011, é possível observar uma crescente ampliação nas alternativas de diversos produtos e serviços financeiros digitais no Brasil, fenômeno fortemente relacionado com a expansão das fintechs por aqui. Inicialmente, muitos desses players concentraram suas ofertas no público pessoa física, atacando a urgente dor desse grupo no acesso a soluções de baixo custo, descomplicadas e com experiência acima da média.

Dessa primeira fase, surgiram fintechs que se tornaram importantes unicórnios desse segmento, como Nubank, Creditas e Neon, por exemplo.

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Em uma segunda fase, vimos o impulso dos provedores de soluções financeiras digitais para empresas, principalmente PMEs, que têm ganhado força na oferta de contas digitais, crédito, plataformas de gestão financeira, gerenciamento de cartões corporativos e benefícios, dentre outros.

Nos últimos anos, contudo, observamos uma convergência dessas diferentes ofertas a partir de sua integração com plataformas de ERP (Enterprise Resource Planning ou sistema integrado de gestão empresarial), algo que promete revolucionar a forma como as soluções e as experiências financeiras são entregues para as empresas.

A seguir, veremos o que está sendo ofertado dentro dessa vertical, conhecida como “ERP Banking”, a qual já possui alguns players investindo pesado no desenvolvimento de estratégias para sua popularização.

A evolução do tema no país

Nas primeiras vezes em que escrevi a respeito de ERP Banking - tanto em um artigo aqui nessa coluna, quanto no meu livro A Nova Lógica Financeira, ambos em 2021 – quase não havia casos efetivamente funcionando no Brasil (e até mesmo no mundo). Os poucos existentes estavam sendo desenvolvidos e ofertados pelos próprios provedores locais de ERP, como Totvs e Omie, ainda de maneira tímida e inicial.

Com o passar do tempo, a temática entrou na agenda estratégica de vários players, desde grandes bancos a fintechs, que começaram a se movimentar e se preparar para um novo momento competitivo no ambiente PJ. A partir daí, o mercado viu desde parcerias (como a realizada entre o Bradesco e SAP e do Itaú com a Omie), a fusões e aquisições (da Omie com o banco digital Linker e da Stone com a Linx) e até joint-ventures (como a que foi celebrada entre Totvs Techfin e o Itaú e entre o BTG e a Senior Sistemas).

Um dos impulsionadores desse movimento foi o processo acelerado de digitalização ao qual muitas PMEs foram submetidas durante a pandemia, que as levou a utilizar ferramentas para facilitar e aumentar a eficiência dos seus processos diários e, consequentemente, levou a um aumento natural de demanda para integrá-los com os sistemas que utilizam e com os serviços financeiros que consomem.

Ter em mãos todas essas peças funcionando em conjunto tem o poder de simplificar bastante a vida do pequeno empresário, que muitas vezes se perde na realização de controles diversos e atividades que poderiam ser automatizadas, além de ganhar uma melhor visão da saúde financeira e poder colocá-la em ordem com poucos cliques.

Do lado dos provedores de soluções baseadas em ERP Banking, ter acesso em tempo real aos dados gerados ao longo da vida da empresa possibilita a utilização dessas informações para melhor precificar ofertas de crédito e fazer recomendações de diferentes produtos de forma mais adequada e assertiva.

Assim, é possível que os provedores atuem como verdadeiros conselheiros digitais, antecipando as necessidades das empresas via ofertas contextuais e preditivas, proativamente propondo operações com base nas informações processadas e nas projeções geradas em tempo real.

Para tangibilizar essa visão e agregar mais capacidades ao modelo de ERP Banking, temos elementos viabilizadores como o Open Finance e a iniciação de pagamentos. Eles são capazes de facilitar a concentração de informações financeiras de múltiplos bancos com os quais a empresa se relaciona em uma única tela (graças à agregação de dados), além de tornar possível comandar operações nesses bancos a partir dessa única tela – sem a necessidade de entrar no aplicativo de cada instituição.

Essa combinação de fatores – tanto do lado dos clientes, quanto das instituições financeiras e das novas infraestruturas de mercado – estão acelerando o caminho para iniciativas de ERP Banking, ao passo em que acirra a competição nessa direção.

Experiências e resultados

Em um episódio do Fintech Talks Podcast, eu pude conversar com dois representantes do segmento – o Valter Pinheiro, Superintendente de gestão PJ do Itaú-Unibanco, e a Aurora Suh, Chief Revenue Officer da Omie – que compartilharam algumas visões e resultados da atuação de ambas as empresas em ERP Banking.

Através de uma parceria entre o banco e a fintech, o Itaú passou a oferecer para seus clientes PJ em meados de 2021 a solução de gestão empresarial da Omie, que ganhou o nome de Itaú Meu Negócio Gestão by Omie – devidamente integrada ao sistema bancário do Itaú.

Segundo Valter Pinheiro, foi feito uma pesquisa com os consumidores que identificou a demanda por serviços de gestão financeira – além do tradicional serviço bancário já ofertado – e a Omie foi o player com o qual decidiram seguir adiante no provimento dessa solução, após avaliar diversas alternativas disponíveis no mercado.

De acordo com Pinheiro, reconhecer que o banco não sabe tudo, e não consegue ser bom em tudo, é uma mentalidade que permite a instituição ter a humildade de buscar parceiros para desenvolver um ecossistema de soluções que atenda, de fato, as necessidades específicas dos clientes PJ – muitas vezes acoplando produtos e serviços que talvez não fariam sentido serem desenvolvidos dentro de casa.

Para ele, a agenda capitaneada pelo BC trouxe não só competição, mas também espaço para colaborações que não aconteciam anteriormente no mercado.

Para Aurora Suh da Omie, a fintech já foi concebida em 2013 com a visão de que o ERP seria um hub de serviços financeiros – o novo internet banking – centralizando não só as informações em um só lugar, como utilizando dados para gerar oportunidades para o cliente e a instituição, entregando uma experiência incrível nesse processo.

Para manter o foco, a Omie investe toda sua energia na melhoria contínua do ERP, com tudo que é complementar sendo desenvolvido junto a parceiros e entregue via Omie Store. Lá é possível solucionar outras dores dos clientes, como cloud, PDV, BI, dentre outras.

Além da parceria com o Itaú, onde geralmente o gerente de contas apresenta a plataforma ao cliente, a Omie trabalha com outros parceiros, como os contadores – que somam um total de 28.000 profissionais que atuam como verdadeiros agentes de transformação das PMEs, fornecendo não só a solução de ERP da Omie, mas também soluções contábeis e de folha de pagamento integradas.

Como resultado dessa parceria entre Itaú e Omie foi apurado que os clientes que utilizaram o ERP de forma intensiva crescem, em média, 50% a mais que a média do mercado. Além disso, há relatos de um aumento considerável na produtividade administrativa e no desempenho financeiro.

Não por acaso, o Itaú avançou também sua joint-venture com a Totvs Techfin, expandindo sua incursão no terreno do ERP Banking junto a mais um tipo de público PJ – empresas de médio e grande porte, com necessidades diferentes e mais amplas do que aquelas contempladas dentro da iniciativa Meu Negócio.

Próximos passos

Os impactos do ERP Banking vão além das oportunidades capturadas pelos seus provedores e dos benefícios para as companhias que o utilizam. Em um país no qual metade das empresas não sobrevive após 3 anos (segundo dados do IBGE), existe um grande impacto econômico e social que tais soluções podem provocar no mercado, a partir do momento em que é possível utilizar todo o seu potencial para melhorar esses números.

Nessa nova fase, as instituições poderão transcender o seus papéis de prestadores de serviços financeiros e atuarem como verdadeiros consultores de empresas, evitando que quebrem cedo e façam parte das estatísticas. Aliar automações e integrações, junto à coleta e enriquecimento de dados combinada com inteligência artificial, por exemplo, pode ser um caminho para que isso se torne uma realidade.

Por hora, fica claro que essa será a nova corrida que presenciaremos no ambiente pessoa jurídica. Vale lembrarmos que não é uma tarefa fácil um banco desenvolver um ERP do zero, sendo a parceria, a aquisição e a criação de joint-ventures, o caminho mais rápido (e fácil) para essa transição. Algumas das principais plataformas de gestão empresarial integrada já foram abordadas, algo que dificulta a busca por parceiros exclusivos e complica a situação de quem ainda não está olhando para essa arena competitiva.

Em um futuro próximo, as instituições podem se ver em um cenário no qual conectar os dados financeiros via Open Finance e via ERP (ou gerenciador financeiro) utilizado pela cliente, obtendo assim informações de qualidade e em tempo real, se fará imprescindível como medida para mitigar riscos – possibilitando melhores análises e, por consequência, condições mais favoráveis de taxas e limites de crédito.

Por fim, com toda a discussão que acontece hoje em torno da principalidade, buscada por bancos e fintechs junto aos seus consumidores, é natural pensarmos que tornar-se a principal instituição no dia a dia de uma empresa passa, inevitavelmente, pelo ERP Banking. A evolução acontecerá e é inevitável, estejam as instituições preparadas ou não.

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