(Jack Taylor/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 9 de agosto de 2021 às 15h41.
Última atualização em 11 de agosto de 2021 às 10h35.
O surgimento de diversas história de investidores que fizeram fortuna em pouco tempo comprando criptomoedas desconhecidas fez com que muita gente sonhasse com a riqueza fácil. E deu origem a um termo para se referir à essas moedas que surgem tão rápido quanto desaparecem: as "hype coins".
Neste fim de semana, o jornalista David Segal, do jornal The New York Times, divulgou um experimento para provar a loucura deste mercado. Ele criou uma criptomoeda de nome bastante sugestivo para comprovar o seu ponto: a "Idiot Coin".
“O nome foi o primeiro de muitos sinais de ‘não compre’ para possíveis investidores. Na verdade, eu não queria que essa moeda valorizasse. Eu queria que fosse um flop espetacular”, afirmou. "O ponto era demonstrar que criar uma hype coin não exige nenhuma expertise e que muitas delas são frágeis e perigosas".
Em um relato sobre o seu experimento, ele diz que o objetivo era que ninguém fosse financeiramente prejudicado. Segundo David, dezenas de hype coins são criadas todos os dias por desenvolvedores que têm pouco ou nenhum comprometimento em construir algo realmente útil e sólido, que saem em busca de investidores em busca de dinheiro rápido.
Na maioria dos casos, "acabam ainda mais pobres", diz, já que a maioria desse tipo de criptomoeda perde completamente o seu valor em poucos dias ou semanas, tempo suficiente para que os responsáveis pela sua criação ganhem bastante dinheiro, trocando as moedas supervalorizadas por outras que de fato têm utilidade e valor.
David Segal gastou cerca de 300 dólares (1.566 reais) em taxas para emitir 21 milhões de "Idiot Coins" e colocou 7 milhões à venda na plataforma BakerySwap. Com apoio de Dan Arreola, lançou um vídeo sobre como promover hype coins, e, com um web designer, criou o site oficial do projeto. Depois, com divulgação nas redes sociais, começou a promover o seu ativo digital, em especial no TikTok.
Apesar de levar o experimento a sério, todas as referências ao projeto eram pessimistas e negativas. Na página da "Idiot Coin", cheia de ironias e piadas, o white paper (espécie de manifesto e manual de instruções) tem poucas linhas e diversas referências à indicação aos investidores para que não comprem a criptomoeda.
No Reddit, fez publicações em que dizia coisas como "definitivamente NÃO vai para a lua! Talvez não levante nem um centímetro do chão!", repetindo o que diz o site do projeto, com mensagens como "Se você fez tudo corretamente, suas 'Idiot Coins' estarão na sua carteira. Parabéns. Infelizmente, não há nada que você possa fazer com elas, a não ser esperar que seu preço suba. O que não vai acontecer".
Mas não tem pessimismo que desanime um investidor desinformado à procura de uma fortuna rápida e fácil. O hype estava criado. Segundo Segal, cerca de 300 pessoas se interessaram pelo projeto e entraram em um grupo "oficial" criado no Telegram. Muitas se mostraram confusas com o pessimisto do seu criador: "Eu desanimei essas pessoas ao me recusar a prometer que ficariam ricas", escreveu.
No fim das contas, foram apenas 73 tokens "Idiot Coin" vendidos, para quatro pessoas, que, juntas, desperdiçaram uma fração de centavo de dólar. Ninguém saiu prejudicado, mas David Segal comprovou a teoria de que o sonho do dinheiro fácil e rápido está levando muita gente a fazer coisas absurdas.
É verdade que algumas criptomoedas criadas como brincadeira acabaram se tornando sérias, com grandes volumes de dinheiro alocado e grandes investidores sustentando seus preços - os casos mais conhecidos são da dogecoin e da shiba inu. Isso, entretanto, é algo incrivelmente raro.